feel the stars; 🔭

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A casa dos Weasley era enorme, mas ao mesmo tempo simples; os tons escuros davam um charme, se assim posso dizer, ao ambiente. Era toda enfeitada com móveis de madeira, um material comum, mas que transmitia elegância e conforto. Na sala, estávamos eu, Arthur e Ronald, irmão de Harry.

Eu sorri para o menino ruivo de vestes simples, e ele retribuiu.

No andar de cima estava senhora Weasley, que vestia Harry. Pelo visto eu havia chegado muito cedo; chequei o relógio de pulso umas 6 vezes antes de sair de casa, e umas outras mil durante a madrugada. Como de costume, quando ansioso, eu estava batendo de leve o pé no chão, e passava nervoso a mão nos fios de cabelo que chegavam aos meus olhos. Eu olhava para todos os lados, mas com medo de parecer intrometido, ficava quieto, mas com receio de parecer um completo psicopata. Afinal, o que uma família esperaria de um garoto que só estava ali porque estava fazendo sessão de terapia com o pai do "menino cego"?

— Draco, querido – a voz doce de Molly Weasley vem de cima.

Olho para o alto e ela me chama com um aceno de cabeça. Eu respondo com um sorriso envergonhado, e com um secar de mãos suadas nas jeans pretas. Me levanto da poltrona devagar, e me conduzo à enorme escadaria; antes, porém, dou uma última olhada para Arthur que afirma com a cabeça. Sorrio para o ruivo, e subo.

A porta do quarto de Harry era preta e repleta de pontinhos brancos, que se espalhavam por toda a sua estrutura. Passei delicadamente a mão sobre ela antes de abri-la. Molly, que agora estava no primeiro andar com Arthur e Ronald, me contou que o menino pintara ela logo quando chegou na casa.

Se inspirou no céu e nas estrelas, me disse.

Eu percebi as pequenas gotas de lágrimas que se acumulavam no canto de seus pequenos olhos. Logo em seguida desceu, sem me dar oportunidade de a consolar ou dizer qualquer outra coisa. Aquilo tudo era muito triste, e eu me sentia culpado por estar lá não por decisão própria. Não era capaz de abrir aquela porta e encarar aquele menino.

Eu não deveria estar aqui.

Eu não posso ajudar Harry; nem ele não pode me ajudar.

A porta se abriu. Não abri ela, foi o próprio Harry. Seu rosto moreno foi "revelado" pela luz que vinha do corredor; ele vestia uma blusa preta estampada com flores, que era realmente bonita, e combinava com o seu tom de pele.

— Oi... ouvi sua respiração. Parecia nervoso. Pode entrar – ele fala, o rosto sempre com a mesma expressão triste; na verdade, não triste, mas desanimada. Seus olhos de vidro, verdes, estavam direcionados para o meu pescoço.

Eu entrei no quarto, que estava com todas as luzes apagadas, com a única fonte de luminosidade vinda de pequenos espaços da persiana, que estava fechada. Perto da janela havia um telescópio.

— Posso abrir a persiana? – pergunto envergonhado.

— Não faz diferença – responde, simples. Logo depois eu entendo o que ele quis dizer com essa frase, e percebi sua necessidade de fazer piadas com os seus próprios problemas.

Quando a abro, a vista da janela de seu quarto é incrível: árvores, flores, grama, um pequeno lago e – não tão especiais – gnomos de jardim.

— Nossa – sussurro, o menino logo se vira para mim –. É o seu quintal?

— É – o tom de amargor em sua voz é quase como um veneno que adentra nas veias da minha alma.

Eu juro que estou fazendo de tudo para parecer uma pessoa confiante e legal.

— Eu costumava ver as estrelas – desabafou depois de um tempo de silêncio.

— Hum...?

— No quintal. À noite eu descia até lá e observava as estrelas. Apenas eu e elas... e a lua. Eu sinto saudades... entende?

Eu fiquei quieto. Não era capaz de falar.

Não era justo eu falar.

Então ele quebrou novamente o silêncio:

— Eu não quero que sinta pena de mim, nem que se sinta obrigado a parecer gentil comigo. Eu ainda sou uma pessoa, e não importa a merda que você vá falar durante esses próximas horas em que estaremos juntos. Promete ser quem é comigo?

Ele nota minha hesitação, e me cobra uma resposta com um arcar de sobrancelhas.

— Eu prometo, Harry.

— Aliás, você se chama...? – pergunta, tentando ser o mais gentil possível.

— Draco Malfoy, prazer – brinco – E... Harry...

— O que foi? – ele se vira pra mim novamente, mas agora um pouco mais para a janela, o que eu acho engraçadinho.

— Você iria ao quintal comigo mais tarde? Sentir as estrelas – essa última frase simplesmente escapou de minha boca, não sabia que soaria tão boba quando falasse. Ele pareceu entender.

Harry sorriu e suas bochechas atingiram um tom púrpura; eu consequentemente faço o mesmo, e pela primeira vez agradeço por aquele menino ser cego.

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2019 ⏰

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