19 de Dezembro de 2017, fazem dois anos que meu irmão se suicidou. Desde então, passei a ser visada, meus pais de certa forma temem que faça o mesmo que meu irmão. Mas eu, Sara Cindy Lins, confesso, não teria coragem de tirar minha vida
Me lembro do dia em que meu irmão se foi, meus pais abraçados por cima dele, lembro de achar que ele estivesse chorando no chão, só depois que vi meus pais chorando juntos é que percebi, meu irmão tinha se matado
18 comprimidos de carbonato de litio, antidepressivo, dose suficiente para uma parada cardíaca. Ele se foi, meu irmão mais velho, no auge dos seus 20 anos, inteligente, criativo, um artista nato, cheio de sonhos e medos, e naquele dia sua angústia o cobriu como um cobertor, onde ele se escondia quando não queria ver ninguém
Meus pais hoje me perguntam se estou bem, duas... três.. quatro vezes ao dia.. é ruim falar isso, mas ambos só passaram a me valorizar quando meu irmão morreu, meu pai investidor da bolsa de valores, resumia sua vida no valor da arroba do boi e minha mãe lider comunitaria na cidade onde moramos, só tinha olhos para a futura candidatura a vereadora
Só dá valor, quando perde
Esse ditado clichê, serve bem nos dois agora
Infelizmente, não terei meu irmão de volta, mas tenho na lembrança o amor que ele tinha por coisas simples, pelo bom dia rouco quando acordava no domingo, pela cara engraçada que fazia quando mamãe cozinhava couve, e pela forma carinhosa que olhava a irmã mais nova, e de quando me pegava no colo quando estávamos fazendo faxina ao som de Pearl Jam (ele amava essa banda) no som da sala, me girava, feliz da vida .
A vida é um sopro .
Quando se vê
foi
Ame, enquanto é tempo.