hell and heaven

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                                                                * MIA *

Deitada na cama do hospital, eu estou completamente a leste de tudo o que se está a passar a minha volta, vejo enfermeiras a entrar e a sair do quarto, vejo os seus lábios mexer mas é como se estivesse tudo em modo silêncio. A noite passada tinha sido terrível, tal como algumas antes dessa. O que eu pensava que era um coisa boa tornou-se na pior decisão da minha vida.

Se tivesse uma máquina do tempo, voltaria a trás e tinha feito tudo de maneira diferente. Dizem que todas as coisas fazem parte do nosso destino - como se estivessem escritas para serem dessa maneira - mas por vezes tu escolhes um caminho diferente, tomas uma decisão errada, trocas o caminho do que estava escrito para ti, não sei se isto faz muito sentido, mas na minha cabeça faz.

É como se eu tivesse fugido do que me estava destinado. Pois acho que ninguém merece o que me aconteceu, e o que acontece a milhares de mulheres nesse mundo. Muito mudou desde o Natal, desde a última vez em que vi o Jay, encontrei alguém que eu achei que estaria ao meu lado, alguém em quem eu pudesse contar, alguém que eu esperava que fosse o meu companheiro para o resto da vida, durante muito tempo tentei negar para mim mesma que ele não era aquela pessoa má que ele mostrava ser. Do que vale um ramo de rosas numa terça-feira à noite e na segunda-feira te deu um estalo na cara ou murro na barriga, ou mesmo se te apertou o pescoço e te chamou nomes.

Do que vale isso tudo? Por termos medo? Por pensar que foi uma vez sem exemplo e que não se voltará a repetir? Nada daquilo tinha justificação, mas eu, continuava a tentar encontrar uma. Encontrar alguma coisa que não existe! Parece irónico.

Na noite passada, cheguei a casa do trabalho e o meu, até então, namorado estava a minha espera no sofá. Estava irritado, dava para notar pela cara dele. O que é que eu fiz? Absolutamente nada, mas nos últimos tempos tudo era razão de discussão, ou porque eu olhava para o rapaz do supermercado, ou porque eu saia maquilhada de casa. Por vezes quando me deitava na cama à noite pedia para não acordar no dia seguinte. Ele olhou para mim, eu sorri, e ele virou a cara.

- Está tudo bem? - perguntei, sabia exatamente a resposta que ele me iria dar, era sempre a mesma, "não" e a culpa seria minha. Não me estou a fazer de vitima, mas ele era claramente obsessivo.

- Continuas a falar com o Jay? -  a tentativa de ele parecer calmo foi por água a baixo no momento em que ele abriu a boca.

- Não. - ele anda depressa até mim e agarra o meu braço com força, com tanta força que segundos depois o sinto latejar

- Diz-me a verdade Mia, tu não me queres ver chateado.

- Eu disse que não, eu estou a dizer a verdade.

Sinto a mão dele bater na minha cara com força, os meus dentes batem no interior da minha bochecha e rapidamente sinto o sabor de sangue.

- Tu não passas de uma vagabunda qualquer, não é? - sinto o punho dele atingir-me o estômago.

- Pará com isso por favor. - digo já a chorar. - Eu já te disse que não tenho falado com ele, a última vez que falei com ele foi há um mês atrás e depois tu disseste que não me querias a falar com ele e eu nunca mais falei. - nada do que eu diga o irá convencer.

Sei que ele já se convenceu a ele próprio de que eu continuo a falar com o Jay. Nada do que eu diga poderá mudar isso. Ele solta o meu braço. Eu corro até a porta pegando apenas no meu telemóvel. Abro a porta e sinto então um pontapé nas minhas pernas, caio de imediato no chão, grito por ajuda, talvez alguém no prédio consigo ouvir e venha ver o que se passa.

Sex Trip (PT)Onde histórias criam vida. Descubra agora