Ato II

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ATO II - PRINCÍPIO

Nós nos conhecemos no teste de elenco. Mirror era uma das cenas dos personagens principais de um recital de dança moderna, e minha academia toda foi participar das audições.

Eu, nos meus quase completos dezenove anos, não tinha medo de nada. Enquanto meus colegas participaram tentando um papel secundário, eu fui corajoso quando me inscrevi para o papel de um dos protagonistas; eu sequer era bailarino de dança moderna, mas pareceu propício e eu sempre tive facilidade para a modalidade.

Inicialmente, existiu uma apresentação individual. Eu performei uma música instrumental com uma coreografia original e não fiquei surpreso quando passei para a segunda etapa, onde nós tínhamos algumas horas para aprender parte da coreografia de uma das cenas que já estavam inclusas no espetáculo.

Uma semana depois eu soube que havia sido escolhido, não como o protagonista que eu havia me inscrito, mas para um dos que possuíam pares românticos.

E meu par era ele.

Shownu tinha vinte anos, o fogo da vontade lhe pintava os olhos e, assim como eu, ele também não parecia ter medo de nada. Inicialmente nós soávamos mais como dois adversários do que como uma equipe, mas não demorou muito até que nós descobríssemos muitas coisas em comum e a química aparecesse naturalmente.

E depois disso, o restante veio rápido.

A química nos ensaios virou uma amizade forte que nos levava à estarmos sempre juntos. Ele estava comigo no almoço, nos ensaios, em seus intervalos e em qualquer círculo de amizade que fizéssemos lá dentro.

Logo as coreografias românticas chegaram e a amizade forte se transformou em uma tensão sexual incontrolável que nos fazia transar em banheiros, salas escuras e dentro de depósitos de produtos de limpeza.

Ele era bom nos palcos, um bom amigo, bom de papo, bom de beijo, bom de cama. Shownu era também o homem mais gentil, inteligente e bonito que eu já havia conhecido desde que havia entrado para esse ramo.

Passados cinco meses de ensaios para o espetáculo, eu havia arranjado um melhor amigo e uma amizade colorida, tudo na mesma pessoa. E esse formato de relacionamento continuava incontestavelmente confortável, até o dia que ele apareceu em casa à noite, carregando algumas sacolas, uma garrafa de vinho e uma caixa grande.

— Eu sei que é seu aniversário. — Ele disse, mas eu mesmo havia me esquecido. — E eu estou muito puto por ter que descobrir isso sozinho.

— Eu não lembrava. — Respondi e o deixei entrar, rindo como um idiota enquanto ele colocava o vinho na geladeira e o bolo em cima do balcão da cozinha. — Eu não costumo comemorar meu aniversário na data de nascimento... acabo comemorando só na virada do ano.

— As pessoas não te parabenizam?

— Elas pararam depois de um tempo. — Dei de ombros, abrindo a caixa para ver o bolo bonito enfeitado por morangos. — Eu tinha te falado que gosto de morango?

— Não, mas tudo o que você compra tem essa fruta. Eu presumi. — Deu de ombros e pendurou a jaqueta pesada no cabide ao lado da porta. — Você não é muito difícil de se ler.

— Mas é só por que é você. — Eu me aproximei, de braços cruzados. — Você me entende com olhares, eu nunca tive esse tipo de intimidade com um amigo antes.

Ele revirou os olhos e sorriu.

— Você está emotivo demais. — Ele tirou o bolo da caixa e colocou uma única vela em cima, puxando um isqueiro para acender o pavio colorido. — Dezenove anos. — Ele sorriu. — Feliz aniversário, Saeng.

MIRROR | ShowhoOnde histórias criam vida. Descubra agora