Capítulo 9 - Nada será como antes

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Feliz Natal.
E só porque é  Natal, papai noel trouxe presentinho para vocês!

Dias atuais

Nanda

Ouvia o incômodo barulho da sirene, frases picadas e codificadas no rádio da viatura ajudavam a gerar aquele clima entrópico, mas era como se tudo estivesse muito distante de mim, da minha vida, da minha realidade.

Na tarde de ontem, olhava para os anos da minha vida jogados fora, que eu sonhava em poder recuperar. Neste momento, não tinha mais certeza do que viria pela frente. Em menos de doze horas, a minha vida tinha virado de pernas para o ar e sentia-me paralisada.

Já tinha passado por tanta coisa... pago pelas más decisões de meu pai, com o altíssimo preço da minha felicidade, magoado outras pessoas. Vivia neste mundo cinza feito de aparências que pintavam uma sociedade viciada em postar sorrisos no Instagram e se jogava na cama, às lágrimas, ocultando o vergonhoso sofrimento, um ambiente tóxico que recriminava tudo o que não era perfeito.

E agora... Roberto estava morto e isso era perturbador, a única coisa que eu vinha buscando era me livrar dele, mas através do divórcio e não com uma tragédia pairando entre nós.

Meu marido era amado pela sociedade, mas um monstro na vida a dois, ele queria me controlar, me podar o tempo inteiro e por fim, foi exatamente isso o que conseguiu, eu não tinha escolha. Mesmo assim, nada me dava o direito de comemorar sua morte, um crime em nossa casa, comigo dentro dela.

O que tinha acontecido?

Tentava buscar da memória lembranças sobre o que ocorrera depois que terminei o Dom Perignon e abri o Pinot, mas nem do Chardonnay, que vi na varanda, eu me recordava. A taça quebrada, o sangue no espelho do banheiro, o corte ardido na palma da minha mão. Nada fazia sentido algum, a minha memória era um vazio total e a insistente dor de cabeça me assombrava.

Como ele foi parar, assassinado, em seu escritório? Disseram-me que tinha sido esfaqueado. Um homem forte como Roberto teria sido capaz de se defender facilmente.

E se, face a um crime, qualquer um diria que nada poderia ser pior, eu, ali, sozinha, agora em um carro da polícia, tinha outro fantasma para lidar, a figura sentada ao banco frontal de passageiros.

O que é que estava acontecendo em minha vida? Não era assim que eu sonhava em um dia revê-lo. Sua frieza, tão incompatível com o brilho de esperança que reacendera em meu coração quando o vi entrando no quarto. A vontade de me mostrar, de revelar o quão quebrada me sentia para ele me proteger e me reconstruir.

— Pare o carro! – consegui dizer — Eu preciso descer – senti a náusea se formando dentro de mim, não sei se pelo excesso da bebida da noite anterior, do pânico ou por começar a assimilar a situação em que me encontrava.

— Isso é contra as regras – retrucou Suelen, a mulher que estava ao volante, sem qualquer emoção em sua voz.

— Eu preciso descer – ainda insisti, uma única vez, antes de levar mão que não estava ferida à boca.

— Encoste a viatura! – ouvi Hermes esbravejar quando, pela primeira vez, deu-se ao trabalho de olhar para mim de verdade.

E foi tudo muito rápido, quando ele desceu do carro, no acostamento da Castello, e correu para abrir a porta traseira, que estava bloqueada, provavelmente pela trava de segurança. Mal consegui dar três passos de distância e caí de joelhos no chão, com o estômago revolto e regurgitando nada além de um pouco de líquido amargo, porque tinha o estômago completamente vazio, desde o dia anterior.

O céu girava em ritmo desencontrado com o asfalto, já aquecido pelo sol da manhã, inalava o cheio da poluição veicular dos caminhões que passavam pelas pistas mais próximas ao acostamento e isso só piorava o estado do meu estômago. Com a fraqueza nas mãos e pernas, eu não conseguia me levantar do chão.

— Doutor, Doca sempre traz uma garrafa de água consigo, ele a deixou no carro – ouvi Suelen dizer a Hermes, que se postou em pé escondendo meu estado jogada ao chão, evitando ser vista por curiosos, nos veículos que passavam em alta velocidade na rodovia e, momentos depois, senti que se aproximava, mas eu permanecia de olhos fechados, incapaz de me mover.

— Está um pouco quente, mas deve servir – sua voz fria era bastante profissional.

Então, ele me firmou pela cintura, para me apoiar, permitindo que eu pudesse tirar as mãos do chão e primeiro jogou um pouco de água sobre elas, para que eu as higienizasse e só depois forçou-me a um gole.

Sem condições de engolir qualquer coisa, somente fiz um bochecho rápido e cuspi o líquido quente, sentindo meu estômago se acalmar.

Roberto estava morto e Hermes me tinha nos braços, tentando me ajudar a me levantar do asfalto quente. Que outra armadilha a vida planejava para mim, além das lembranças de nós dois invadindo o meu peito, brincando com a minha sanidade, mostrando que eu jamais havia sido forte o suficiente para resistir a ele.

Por que Roberto estava morto? Por que tinha que ser justamente Hermes a aparecer em minha casa? Eu não estava preparada para nada disso.

Muito menos estava preparada para entender o que eu senti no momento em que Hermes ofereceu-me nada além de sua frieza quando o abracei naquela casa. Tinha sido tomada pela surpresa de o ver, ali, frente a frente comigo, pela primeira vez depois de tanto tempo, a única pessoa que eu já tinha amado, que já tinha confiado em minha vida.

A emoção, o amor, taquicardia e alívio todos ao mesmo tempo fervilhando dentro de mim, por aqueles segundos antes de eu me entregar aos seus braços, para no segundo seguinte entender que nada, nunca mais, seria como antes, e morri um pouco mais ali, diante de seus braços inertes, sem devolver-me o calor que eu buscava dele.

😢😢😢😢😢😢
Gente ... dois corações partidos! O que exatamente rolou entre esses dois no passado? E o que Hermes vai fazer com a Nanda? Aliás, o que foi que a Nanda fez?
Cenas dos próximos capítulos e Feliz Natal ❤️
Ps. AG está com um romance histórico lindo e completo no Wattpad que fica lá só até dia 11/01... eu já li e recomendo. Ambientado na 2a guerra mundial, fala do amor incondicional de um casal que vive os dilemas de estarem em lados opostos na guerra.
Aproveitem!
Bjks
Gê&AG

Delegado Hermes - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora