Acorde

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Não contei nem três segundos antes de ter apagado de novo.

Tudo estava confuso e parecia ter sido uma grande obra da minha imaginação, meus sonhos apenas haviam me trancado em uma realidade paralela turbulenta e injusta, onde eu não tinha mais família nem amigos, e estava presa no covil de uma máfia poderosa e traiçoeira, acorrentada pelos dizeres de um chefe ardiloso e muito bonito.

Isso...apenas um belo sonho, só isso, um sonho profundo e distante, que queria me levar pra longe...não era real...não era...

-Acorda docinho de coco- eu ouvia um daqueles brutamontes do sonho falar ao abrir a porta do quarto em que eu estava.

-O chefe está esperando- completava ele,  enquanto eu infelizmente constatava que o sonho era uma triste realidade.

-Eu já disse que não...- estava prestes a continuar com o discurso de que eu não faria aquilo, mas de repente algo venenoso e poderoso invadiu meu coração.

Mas...por que não? Passei minha vida inteira procurando pela oportunidade de me vingar do chefe deles e de todas as coisas horríveis que sua máfia havia feito com minha vida, se eu podia estar perto dele, mesmo que supostamente lutando por ele, iria ter acesso a todos os seus segredos obscuros...era minha chance de acabar com ele e me vingar, não numa morte sem graça e rápida, eu queria realmente destroná-lo e destruir tudo aquilo que ele já havia chamado de lar, assim como ele havia feito comigo.

Era minha chance.

Minha única chance.

-Tudo bem- respondi, as palavras fluíam de minha boca como se eu já tivesse nascido para dizê-las, eu finalmente havia achado um propósito pra tudo aquilo...uma luz no meio daquela escuridão toda em que eu me encontrava.

-Tudo bem?- o brutamontes perguntava da porta, desacreditado, há horas atrás eu estava esperneando e batendo na porta como uma louca pedindo pra sair, e agora eu simplesmente obedecia como um bom cão adestrado? Realmente não fazia sentido...mas ele não precisava saber dos meus motivos...

-Vocês não teriam uma roupa mais apropriada pro trabalho que eu vou ter que fazer não?- perguntei, apontando pro vestido.

-Suas roupas estão naquele armário ali do lado, o chefe as escolheu a dedo pra você, nunca tivemos uma garota no grupo antes- ele dizia sorrindo, como se aquilo realmente fosse motivo de comemoração e um marco na história.

-Tudo bem então...- eu dizia, esperando que ele desse o fora. -Posso?- enfatizei com a mãozinha pedindo pra que ele fosse embora.

-Se você insiste...- ele disse, se reverenciando, batendo a porta atrás dele e indo embora.

Quase ri ao abrir a surpresa, uma calça preta de couro e uma camiseta branca acompanhada de um terninho com botões brilhantes, agora eu poderia ser uma garota de programa estilosa pelo menos.

Não havia ficado de todo mal...era flexível e eu poderia fazer meus movimentos sem me preocupar em rasgar nada, o incrível era que a roupa se modelou ao meu corpo de forma perfeita, como se fosse realmente feita a mão pra mim.

Prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e me senti preparada pra começar a por meu plano de vingança em ação.

Segui o brutamontes pelos corredores escuros do lugar, ainda não fazia ideia de onde estávamos. -Isso aqui vai ser seu novo lar senhorita S/n - ele já sabia meu nome? -Se acostume

Era um lar bem escuro e estranho, confesso, mas era bem interessante ver todas aquelas imagens nas paredes, não tive tempo de vê-las com cuidado mas pareciam ter sido pintadas por alguém cheio de talento.

As portas a minha frente se abriram e logo me dei de cara com aquela figura astuta sentada ainda em sua cadeira no meio do que parecia ser um galpão abandonado, agora iluminado pelo sol, o chefe virava e sorria ao me ver.

-Agora você parece bem mais confortável- ele dizia, se levantando e sorrindo com aquelas covinhas de coelho/raposa encantadoras...quer dizer...assustadoras!

-E nada com uma garota de programa- alfinetou, eu dando um meio sorriso debochado. -Ele me disse que você não deu trabalho pra vir...mudou de ideia e viu que trabalhar comigo pode ser interessante?- ele perguntava, eu sorria, dando de ombros.

-Não é como se eu pudesse fazer alguma coisa...vou prestar meus serviços até quitar a dívida, pelo menos preservarei minha vida- eu disse, sensata, era uma boa desculpa.

-Você vai ver meu anjo...- ele dizia, agora já mais perto do que eu achava seguro. -Quando começar a trabalhar comigo, vai se viciar em mim...e não vai querer ir embora...- estremeci ao ouvir aquela voz potente de perto, dei dois passos pra trás como um reflexo de defesa, e logo voltei a falar pra impedi-lo de me deixar mais desconfortável, seus outros capangas ao meu lado, assistindo a tudo como se fosse um drama em 3D ou algo parecido.

-E como devo prestar esses serviços...exatamente?- falei pausadamente pra ver se não gaguejava e acabava de vez com todo meu orgulho em sua presença.

-Você pode me ajudar de dois jeitos S/n...- dizia ele, finalmente pronunciando meu nome ao invés de meu anjo, eu não deveria estar feliz por isso.

-Procurando e lutando...- dizia ele, percebi que nenhum de seus capangas ousava olhá-lo nos olhos, de alguma forma estranha eu não conseguia tirar os meus dos dele.

-Como assim?- perguntei, confusa.

-O que você vê quando olha pra mim?- ele perguntou, fazendo um pequeno show como se fosse um modelo (não que não tivesse beleza para não ser um) virando-se para que eu o visse melhor naquele terno azul escuro riscado em seu corpo bem saudável...

-Um mafioso debochado e aproveitador- ousei dizer, mesmo que com medo do que ele faria, havia uma parte dentro de mim que falava mais alto, era a parte que queria destruí-lo por inteiro.

Ele riu. -Viu? É exatamente isso que a maioria das pessoas veem, um ser humano patético, aproveitador e muito rico- dizia ele, se gabando da própria riqueza, não entendi muito bem o fato de ter enfatizado que ele era um ser humano, sim ele era, um bem irritante...

-Preciso que vocês encontrem alguém que veja meu outro lado...- ele dizia, se aproximando de mim lentamente. -Minha parte mais interessante- engoli em seco, ele tinha um outro lado mais interessante? Como eu encontraria alguém assim? Não fazia o menor sentido!

-E também preciso que encontrem alguém que eu não vejo há muito tempo...- dizia ele, fazendo um estalo com os dedos como que ordenando que alguém fizesse algo, logo alguém veio entregar em minhas mãos um papel, nele estavam escritos vários nomes e lugares, juntamente com fotos de uma mesma mulher, que aparentemente era todas aquelas pessoas e já esteve em todos aqueles países e cidades...

-Quem é?- ousei perguntar, queria saber o máximo que podia sobre ele, para depois me usar disso para acabar com sua vida.

-Uma velha amiga- respondeu, com certeza era mais uma que estava fugindo das dívidas...de repente senti empatia pela garota da foto...eu fui ela minha vida toda.

-E no meio do caminho pra encontrar essas pessoas vocês terão que lutar eventualmente...me proteger...esse tipo de coisa habitual, você pega rápido S/n- ele dizia, dando um tapinha nas minhas costas como se fôssemos amigos de longa data.

-Posso ao menos saber o nome de quem eu estarei protegendo?- perguntei, eles sempre o chamavam de chefe...qual era seu nome verdadeiro? Ou ao menos seu pseudônimo...não nutri esperanças de que ele falaria pra mim.

-Me chame de Jungkook- ele disse, os capangas pareciam agitados entre si, teria sido a primeira vez que ele havia o dito em voz alta? Se sim, por que diria isso para uma garota nova que só estava pagando uma dívida?

-Jeon Jungkook- completou, não podia ser o nome verdadeiro dele...podia?

Algo me dizia que ele não havia me capturado por uma simples dívida, a forma como eu estava sendo tratada era diferente...eu era mais que uma prisioneira dele...

E se eu não era sua prisioneira...quem eu era?

Quem era eu para Jeon Jungkook?

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2019 ⏰

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Meu Namorado é um Gumiho - Imagine Jeon JungKook Onde histórias criam vida. Descubra agora