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As lâminas nichirins, dadas à mim por um pilar, enquanto eu ainda era uma criança, pesavam em minhas mãos, eu havia seguido o oni até ali, até uma sarjeta fedorenta, enquanto ele se banquetava nos intestinos de um homem, alheio sobre minha presença, me posicionei. As pessoas conversar e gargalhavam alto nas ruas próximas.

Não que eu fosse uma caçadora, ou alguém com experiência em combate, mas o oni em questão havia matado crianças da minha casa, uma das casas do distrito da Luz Vermelha, e ninguém havia sequer se importado, pois elas, não eram consideradas importantes ou dignas de proteção, eram feias demais e portanto não poderiam prestar serviços na casa, muito menos se tornarem oirans.

O cheiro das vísceras me enojou, e senti pena da vítima, até ver seu rosto.

Abaxei minhas lâminas ao ver o rosto retorcido pela dor da morte do Hotoke-sama, ele era o dono da casa, era ele que havia mantido minha mãe e irmã trabalhando por anos lá, mesmo quando essas queriam sair dali e viver uma vida digna em outro lugar, Hotoke-sama também havia desfigurado meu rosto com uma faca, quando recusei um de seus clientes, meses atrás. E o mais importante, era ele quem estava negligenciando a vida das crianças sem pai da sua maldita casa.

Acho que minhas getas fizeram algum ruído quando me movimentei, pois o oni retesou seus músculos e assim que derrubei as lâminas nichirins no chão, ele se virou para mim, exibindo seus dentes horrendos.

Por Deus, saber que Hotoke estava morto me fez quase exibir um sorriso que se igualaria ao do oni, eu sempre havia o detestado, ele era uma pessoa desprezível demais.

Embora o oni tivesse acabado com ele, foi esse mesmo demônio que havia devorado as crianças e disso, eu não poderia esquecer.

Ele se preparou para um salto, peguei as lâminas novamente, e seu peso colidiu com o meu corpo antes que eu pudesse me preparar para desferir um golpe.

Claro que eu não iria conseguir desferir nada.

O oni nem mesmo falou, mirando meu pescoço ele abriu a boca, pronto para uma mordida - de alguma forma, consegui cravar as duas pequenas nichirins nela e ele urrou de dor, suas garras haviam se cravado nos meus braços e sangue morno começava a ensopar meu kimono favorito. A força dele era esmagadora e um dos meus finos braços cedeu a isso, o osso se partiu na hora, me fazendo gritar, enquanto ele começou  a morder as lâminas numa tentativa de quebrá-las, parecia esboçar um sorriso ao ver meu desespero.

Mas se esses fossem meus momentos finais, ao menos estava aliviada que minha pequena família estava livre do perverso Hotoke. Elas poderiam viver uma vida calma e feliz, longe desse distrito.

Num breve momento, em um delírio causado pela dor, pensei que eu queria ter acabado com o Hotoke-sama, queria ter tido a força necessária para isso, queria ser o oni.

Meu pensamento foi interrompido por um esguicho de sangue quente - a cabeça do oni se chocou contra a minha, quando essa foi separada do pescoço por uma lâmina maior.

Um homem alto e musculoso, com cabelos brancos, erguia a lâmina suja pelo sangue do demônio, ele também ergueu a cabeça do oni e arrancou minhas diminutas espadas como se fossem palitos, depositando-as ao meu lado.

O corpo e a cabeça do oni desintegraram como fumaça.

- Obrigada. - agradeci, me erguendo com dificuldade devido ao braço quebrado.

- Você fez um trabalho extravagante se defendendo do oni. - essa é uma palavra estranha de se usar, mas depois de analisar bem ele, percebi que sua aparência também era incomum, uma pintura vermelha adornava um de seus olhos e pequenos cristais balançavam de um adereço na sua cabeça. - Não precisa agradecer, só estava cumprindo meu extravagante trabalho. Te levarei até sua casa, você precisa tratar o seu braço.

O homenzarrão me deixou no tatame da entrada da casa, onde fui recebida com um choro nada discreto da minha irmã e espanto das outras mulheres que ali residiam e trabalhavam.

Ele instruiu para que cuidassem do meu braço, além de me entregar as lâminas, se estava curioso sobre elas, escondeu bem seu interesse - o antigo pilar da água havia me dado as duas como um presente, quando ele salvou minha mãe de um oni faminto, ele havia dito que eu tive coragem o suficiente para tentar atacar o oni, mesmo sendo uma criança.

E poucos segundos atrás eu estava pensando em ser um oni...

Ter toda aquela força, era algo tentador... especialmente para uma pessoa fraca como eu.

Poderia acabar em um piscar de olhos, pessoas como o Hotoke, onis perversos também. Poderia caçar todos os seres perversos, de humanos a demônios.

A dor novamente me tirou dos meus pensamentos e percebi que o homem que havia decapitado o demônio, não estava mais lá.

Um caçador de demônios, com certeza de um nível alto. Poderia tentar ser uma caçadora não é mesmo? Mas isso me impediria de matar humanos.

Mas que diabos estou pensando?

Um estado febril me atingiu de repente, e acabei desmaiando, os gritos da minha irmã ainda ecoavam em meu crânio quando deixei que a dor me levasse para longe.

- Mitsuko! Mitsuko! - ela gritava, Mitsuko, um nome que significava criança de luz, que ironia, agora essa criança de luz contemplava com carinho a escuridão.

Quando havia me tornado tão corrompida assim?

Acho que eu sabia a resposta para isso.

Olá olá pessoas, se você leu até aqui, arigatou do fundo do meu kokoro ❤ e p.s eu juro que a Mitsuko é (quase) uma boa pessoa.

Esse é um pequeno capítulo introdutório, que talvez possa mudar ^_^ mas enfim, eu precisava escrever algo sobre Kimetsu.

Gomen pelos errinhos de digitação.

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