Capítulo 6

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"Quando se sentir confuso."

"Querido filho,

Acho que você precisa de um conselho.

Seria mais fácil se eu estivesse ao seu lado, para saber com detalhes a situação. Mas tentarei dar o meu melhor.

É normal ficar confuso e perdido. Faz parte da vida. Nem sempre teremos respostas para tudo. As vezes nem saberemos qual é mesmo a pergunta. É um dos mistérios de se estar vivo. Um mundo cheio de enigmas, dos quais ficamos completamente sem orientação.

Tenho certeza que você já sabe a resposta para sua dúvida, mas não tem certeza se é a certa. Nesse caso, pense com cautela. O que lhe é certo? Do que você tem certeza? Sua escolhe envolve que pessoas? E qual ou quais delas lhe são mais importantes? Se conseguir responder essas perguntas, saberá qual caminho seguir.

Mas se ainda assim, estiver em dúvida, pense: O que você faria se estivesse no seu lugar? Imagine que quem está confuso é outra pessoa, e pense qual conselho você daria a ela. Tente ver a situação pela lado de fora, como um mero telespectador.

Eu sei que você é muito sábio, então não se deixe levar pelas opiniões alheias e siga seus instintos. Pode até ser que você se engane, mas na maioria das vezes só nos mesmos sabemos o que é melhor para a gente.

Você também pode se aconselhar com alguém. Escolha uma pessoa de confiança e exponha o problema, e ouça com atenção o que essa pessoa tem a dizer, e ponha na balança seus argumentos. É válido uma opinião de um terceiro, mas no fim a escolha é sua. Então pense com clareza, e escolha aquilo que lhe parecer certo.

Se errar, tudo bem; volte atrás e concerte. Se não, ótimo. Meus parabéns!

Sempre que estiver confuso, lembre-se: as respostas que busca estão dentro de você, basta procurá-las diligentemente.

Boa sorte.

Com amor, papai."

Era difícil não saber se estava tomando as decisões certas, ele amava Helen, mas não conseguia lidar com ela, desde o noivado ela havia se tornado tão intransigente. Ela sonhou com o casamento de princesa a vida toda, enquanto para Elijah o mais importante era estar junto. Pensava que compartilhavam os mesmos sonhos, mas na verdade ele estava vivendo os sonhos dela. E todas as vezes que iam conversar, tudo acabava em uma discussão do qual ela chorava e se fazia de vítima, deixando ele péssimo.

Ele guardou a carta, e dirigiu até o escritório, nem sequer tinha avisado Clay ou a família sobre Victoria. Tinha que conversar com eles.
O irmão o recepcionou em sua sala, e lhe serviu um café.

— Problemas no paraíso? — Clay questionou enquanto se sentava no sofá do cômodo. Ele e Elijah se pareciam muito, com exceção apenas dos fios grisalhos nas têmporas de Clay e umas rugas a mais, denunciando seus 42 anos. E ele ainda não havia se casado, apesar de já ter tido uma noiva. — Você me desestimula a contrair o matrimônio.

— Helen está me enlouquecendo. Mas o problema não é ela, quer dizer é ela também. — ele suspirou e bebeu o café.

— Esta com uma aparência péssima, não dormiu essa noite?

— Passei a noite no hospital, Victoria voltou — Clay parecia muito confuso. — Ela está doente, muito doente.

— Vic? O que ela tem? Sempre foi uma garota tão forte — Para Clay, Vic fazia parte da família, assim como para todos os outros. Ela morou alguns anos na casa deles quando jovem, e se tornou um membro oficial dos Barnes.

— Ela precisa de um transplante de coração, o dela não está funcionando direito. Não sei os detalhes ainda. Eu vi ela ontem, e depois ela ficou internada no hospital. — Elijah penteou os cabelos com os dedos. E encarou a xícara. — Preciso de um conselho.

Clay o olhou. E fez um gesto dizendo prossiga.

— Amo Helen, mas ela tem me dado ultimatos o tempo todo. Parece que quer mandar em mim. E agora ela quer que eu simplesmente deixe Vic no hospital, e foque no casamento. — Elijah encarou o irmão em busca de resposta. — O quê eu faço?

— Tem certeza que quer se casar com Helen? — Elijah não esperava por aquela pergunta. — Ela é incrível, uma garota legal. Mas se ela quer que seja outra pessoa, então ela não gosta do seu verdadeiro eu.

Elijah ficou em silêncio, pensando nas palavras de seu irmão.

— Quando pedi Joanna em casamento e ficamos noivo, me senti o homem mais feliz do mundo, mas com o tempo percebi que não éramos compatíveis. Papai me disse que: "Não é porque a peça encaixa, que ela faz parte do quebra-cabeças." — Clay tocou o ombro de seu irmão, confortando-o. — Eu não tinha entendido. Mas hoje entendo. Amor é mais do que batimentos acelerados e desejo constante de ver alguém. Pense bem. Você realmente ama Helen? Se tiver dúvidas, peça um tempo.

— E Vic? — Elijah juntou as mãos sobre as coxas e observou o líquido escuro restante dentro do copo. — Como ela fica?

— Sabe Eli, sempre achei que você se casaria com ela — Clay confessou. — Não estou te dizendo para fazê-lo — se apressou em dizer, e explicou: — Vocês dois pareciam alheios a todo o resto quando estavam juntos, era uma conexão diferente. Vibravam na mesma intensidade. Lindy e eu ficávamos com ciúmes, ou inveja as vezes. Mas aprendemos a lidar com isso.

— Acha que eu estou confundindo meus sentimentos em relação a Helen e Victoria?

— Só você pode dizer isso — Clay encarou o relógio. — Gostaria de ficar mais tempo conversando, mas temos que trabalhar, principalmente depois de ter ficado sobrecarregado ontem.

— Me desculpe — Elijah pediu.

— Tudo bem, depois nos diga onde podemos encontrar Victoria, temos que visitar nossa garota.

Elijah ficava com raiva quando Clay se referia a ela assim quando eram adolescentes, tinha medo que o irmão estivesse interessado nela, mas depois descobriu que era só um jeito carinhoso dele se referir a ela como parte da família.

Havia planilhas e dados para serem interpretados sobre a mesa de Eli, o irmão estava ocupado resolvendo a compra de equipamentos novos. E Elijah não conseguia se concentrar. Ele pensava em Victoria, frágil sobre aquela cama de hospital. Se ela se fosse, ele não conseguiria lidar com a perda.

Ele se lembrava das coisas estúpidas que fizeram juntos. Como quando um rapaz chamou ela para dançar em um baile, e Eli não deixou, dizendo que o garoto era o maior galinha da escola. Não permitiria que sua amiga fosse enganada por um cafajeste. Ou quando ela queria aprender a dirigir, e ele a ensinou, ela era um desastre ao volante; não sabia nem como ela tinha conseguido tirar a habilitação. Ou quando no colégio ele ia se formar, e ela ainda tinha uns anos pela frente, e ela pediu para ele ficar. Eli não conseguiu lhe dizer não. Fez um curso de administração enquanto ela terminava o colégio; e só saíram da cidade, juntos.

Mas o dia mais memorável foi quando ela bebeu pela primeira vez, e ficou muito louca. Elijah teve que levá-la para casa no colo, e ela ficava cantando uma música infantil totalmente fora de ritmo. E na manhã seguinte, uma ressaca gigantesca acompanhada da vergonha pós-ridículo.

— Nunca imaginei que gráficos fossem tão engraçados — Clay exclamou encarando o irmão. Elijah logo tratou de se recompor. Mas Clay já tinha visto seu sorriso. — Me diga, o que está te fazendo sorrir?

— Victoria! —Elijah respondeu. — Estava me lembrando do que já vivemos juntos.

— Vai!

— O quê? — Elijah não entendeu o irmão.

— Vai logo ver ela! — Clay esclareceu. — Já que não consegue trabalhar mesmo. Pelo menos cuide dela.

Elijah ficou parado encarando o irmão.

— Vai logo, antes que eu mude de ideia, e vá no seu lugar.

Foi o suficiente para Elijah arrumar suas coisas e correr em direção ao carro. Ele sentia saudades de Vic, e estava preocupado com ela. Iria ficar ao seu lado, igual ela ficou ao lado dele, durante toda sua vida.

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