14 • beautiful strangers

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Duas estranhas. Que se vêm na rua e ignoram-se mutuamente sem nem sequer pensar no nome, na profissão, nos hábitos, na cor da roupa interior, era como tínhamos passado a ser. Do tudo, para o nada.

Não o tudo de andarmos juntas para todo o lado, de estarmos colados uma á outra a todo o tempo, mas um tudo diferente.

Um tudo de por exemplo, quando estávamos no sofá depois do almoço, se levantava e subia as escadas, eu sabia que ela ia ao quarto buscar os óculos de sol com o seu chapéu de palha para ir á tabacaria comprar tabaco, já que fumava um maço todos os dias. Cigarros esses, que oferecia a todas as pessoas que queria ter um pouco mais de confiança. Era uma forma de mostrar simpatia.

Um tudo de saber quando ela fazia força em seu maxilar, estava chateada ou intrigada com algo. Um tudo de saber quando ela gostava ou não da comida mesmo sempre dizendo a Graziela que estava ótima e comendo até ao fim. Tudo de saber como ela ia reagir a algo antes sequer de ter reagido e de saber a maneira de como ela ia querer ter os lençóis dobrados ou a roupa arrumada por estações e não por cores.

Agora éramos nada. Será que isso é sequer ser alguma coisa?

Talvez seja só um nome que nomine algo que não existe.

Mas era isso que éramos, nada.

Nada de não haver carícias debaixo da mesa enquanto jantávamos, nada de livros ou bilhetes.

Nada dos teus olhares calorosos, só os frios, agora.

Nada dos teus braços a prenderem-me junto a ti. Nada da tua língua no meu clitóris enquanto os teus dedos penetram-me e me dão tanto prazer como só tu dás. Nada dos teus braços, nada do teu colo, nada de ti.

you. | ruby roseOnde histórias criam vida. Descubra agora