22 • uma carta pelos meus olhos

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No dia a seguir

Escrever a Ruby, escrever-lhe uma carta ou um bilhete, a dizer-lhe como me sinto, quero que ela sinta saudades minhas, saudades de como ela me faz sentir.

Acabo de tomar um banho, como não lavei o cabelo, coloco-o num coque alto.

Vou até ao quarto, onde está Marco a organizar alguns papéis.

Retiro a minha toalha e fico nua frente ao espelho, sei que ele olha para mim, mas volta a olhar para os papéis outra vez.

Olho para o meu reflexo, o meu corpo, os meus contornos e curvas, a minha tez, os meus detalhes. Observo-me, vejo o que sou para aquele espelho, naquele momento.

- És bonita. - ele diz, levanto-se da cama, vindo ao meu encontro.

Eu assinto afirmativamente com a cabeça. Vou até ao meu armário e visto-me com uma roupa mais quente que o normal.

O tempo anda frio na cidade velha.

Desço, e vejo os meus pais no sofá da sala de estar, a ver televisão, algo raro, só a acendíamos quando as visitas ficavam depois do jantar, ou quando estava a chover. Mas o meu pai costumava dizer que "não dava nada de jeito nesta televisão". E ele tinha razão.

Estavam a ver videoclipes de músicas, a cantar os dois em coro, gargalhando ao mesmo tempo.

Faço-me pensar. Se alguma vez vou viver um amor assim como o deles.

"A cor da pele da cara da tua mãe é a minha cor preferida. Sei que ela vai ficar doente só pela mudança da cor da sua tez, ou quando está envergonhada, ou quando apanhou sol demais e as suas maçãs do rosto e a ponta do nariz tomam uma cor mais avermelhada."

Lembro-me do meu pai dizer-me isto, numa das nossas conversas á noite, quando toda a casa estava a dormir e as insónias tomavam conta do nosso corpo destinando-nos a conversar noite fora.

Ruby e eu passamos pelo quase de sermos assim.

Ela está no seu quarto, como sempre. Vai embora amanhã, buscar algumas roupas a casa dela, e depois volta. Disse ela. Ouvi dizer. Porque ela não me diz nada desde aquela noite da festa. Despachei-a.

Estou a pensar em escrever-lhe, se ela não voltar, fica com aquela carta para sempre. Se voltar, apenas fica a saber o que penso dela neste momento.

you. | ruby roseOnde histórias criam vida. Descubra agora