Capítulo Dois

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09 de setembro de 2019 – Narrado por Marcelo

Já se passaram dezoito anos do dia em que eu tive certeza de que meu trabalho não fora cumprido, dezoito anos que deixei minha mulher partir, dezoito anos que senti as mãos já resfriadas de Maria Luiza tocarem as minhas, de quando seus pequenos dedos se enrolaram nos meus e como num sopro, ela se foi.

Ando o mais devagar que posso, já sem forças, para o túmulo de minha mulher; ao apoiar minhas mãos sobre a pedra fria, um arrepio percorre meu corpo, é como se pudesse tocá-la. No túmulo, está pregada uma foto em que minha mulher sorri, o sorriso mais lindo e mais sincero do mundo, fazendo parecer que a qualquer momento ela sairá do retrato e me envolverá em mais um de seus abraços apertados que é capaz de curar qualquer dor da alma.

Volvo meu corpo para meu automóvel e volto para casa para fazer o prometido. Provavelmente meus filhos já estão em casa à minha espera. É o grande dia, o dia de contar a forma de como conheci a mulher da minha vida. Temi que esse dia chegasse, pois, por mais que eu o considere um dos dias mais felizes de minha vida, me toca muito e é inevitável não me emocionar com tamanha felicidade que vivi, e como não gosto muito de chorar na frente de outros, preferi guardar para mim a tão bela história de amor entre mim e Maria Luiza. Me lembro muito bem de como só ela tinha a capacidade de me abrir por inteiro e de me fazer abaixar a guarda

Estaciono meu carro na garagem e entro pela porta principal, já podendo avistar meus dois filhos à minha espera.

Deixo minha pasta sobre a mesa e sento-me sendo preparado por mim mesmo para deixar tudo ser contado nos mínimos detalhes.

- Era uma noite fria na grande São Paulo – inicio não deixando-os falar, porque, certamente, se demorasse mais alguns segundos perderia a coragem – Saí com uns amigos para ir ao bar, relaxar depois de um exaustivo dia de faculdade, era um lugar simples, mas higiênico e de boa qualidade. Quando entrei no recinto, cruzei meus olhos com aquelas lindas esmeraldas e fiquei totalmente hipnotizado. Era linda, a mulher mais linda que tinha visto em toda a minha vida, certamente. Ela me viu ali, eu sei que viu, mas era tímida demais para vir até mim e, nessa época era tudo muito mais difícil também! Nesse dia eu tive a certeza de que tinha encontrado a mulher da minha vida! Quando fui embora, virei para um colega e disse que iria casar com a moça do bar!

Nessa época, eu trabalhava em uma lojinha de lembranças para conseguir pagar minha faculdade e dias depois do acontecimento no bar, ela foi à loja comprar um sapatinho de crochê azul para dar para uma amiga que estava grávida e, nesse momento eu criei coragem e a chamei para sair, e o mais incrível foi que ela aceitou!

FLASHBACK ON

- Quer sair comigo um dia desses? – pergunto ao embalar o pequeno sapato de crochê e a vejo ruborizar no mesmo instante.

- O senhor é mesmo muito ousado, não é... – fala esperando que eu de continuidade e me apresente.

- Marcelo, Marcelo Medeiros – digo estendendo-a a sacola – e a senhorita é?!

- Maria Luiza, Maria Luiza de Albuquerque – me estende a mão e eu, prontamente a seguro, sentindo a maciez da mesma.

- Eu aceito! – diz desfazendo o aperto entre nossas mãos.

- Como? – pergunto trêmulo e com as mãos suadas

- Eu aceito sair contigo, senhor Medeiros! – a elegante moça sorri pra mim e sai do estabelecimento deixando seu cheiro impregnado em minhas narinas.

FLASHBACK OFF

Depois de contar aos meus filhos a forma de como conheci sua mãe, vou ao banheiro de minha suíte, tiro a roupa e entro debaixo do chuveiro, tirando toda a tensão do dia pesado que fora hoje.

Saio do box, me seco, me visto devidamente e repouso meu corpo sobre a cama, logo após o ato, direciono minha mão ao livro que repousa sobre o criado mudo e passeio meus olhos pelas bonitas palavras do mesmo.

Não sei quanto tempo estou lendo o livro, na verdade, não sei se realmente estou lendo ou somente olhando-o, mas saio do transe quando escuto batidas na porta

- Pode entrar! - me cubro com o lençol que está na cama.

- Oi, querido. Quanta falta senti de você! – ela entra petulantemente em meu quarto.


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