Capítulo Quatro

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10 de setembro de 2019 – Narrado pela autora

Ao adentrar ao cômodo gélido e com pouca luz, o homem sabia que o sonho não fora atoa, ela estava ali, aguardava por ele; ele, no entanto, queria poder senti-la em seus braços novamente, queria poder amá-la como somente a amou, queria poder tocá-la como jamais tocou ninguém, mas o que ele menos esperava era que a sensação de realização (ou de dor) não passou de um sonho, novamente.

10 de setembro de 2019 – Narrado por Marcelo

Era ela, ela estava ali, Maria Luiza estava sentada em uma cadeira de balanço, amamentando nossos filhos, os nossos gêmeos. Ao me avistar parado junto à porta, me deu com a mão, chamando-me para me juntar a eles. Caminhei depressa até ela e ajoelhei em sua frente, repousando minhas mãos em seus joelhos cobertos pelo fino tecido do vestido florido. E, pela primeira vez, chorei sem olhar para trás para ver se alguém se aproximava, chorei sem me importar se alguém via, na verdade, não me importava mais com nada, só a queria em meus braços; então repousei minha testa em sua perna e me deixei levar pelas dolorosas lágrimas que escorriam de meus olhos.

Ao levantar meu rosto para olhá-la nos olhos, tudo tinha sumido, os bebês não estavam mais aqui e sequer ela estava sentada na cadeira; ali, no cômodo pavoroso, só estava eu e toda a minha dor; isso que pensaria se um choro bem baixinho não invadisse meus ouvidos. Um choro que mais parecia dor transbordando das córneas de alguém. O intrigante barulho me fez voltar meu corpo para o mesmo e, ali no chão frio e em pedaços estava minha mulher, amarrada com correntes a uma janela que não existira quando pisara no cômodo, chorando com um buraco em seu peito esquerdo. O sangue escorria juntamente com as lágrimas. Eu tentava, a todo custo, levantar e ajuda-la, mas o peso em meu corpo era muito grande, me pressionando contra o chão do lugar. A todo momento eu pedia a Deus que me arrancasse essa dor e essa culpa e que me levasse no lugar de minha esposa, de minha amada esposa, porque a dor de vê-la partir novamente, em frente aos meus olhos, eu não iria suportar.

10 de setembro de 2019

Em um pulo levanto de minha cama, tudo fora um sonho, tudo não passara de um terrível sonho que eu queria deletar da memória para sempre. Prosseguir é uma palavra que há tempos estou tentando encaixar corretamente em meu vocabulário; é como uma peça que tem tudo para encaixar em um buraco no quebra-cabeça, mas, ao colocada, desfigurará totalmente o desenho.

Dor e angústia sim, são palavras presentes na minha vida desde o dia nove de setembro de dois mil e um; a dor de perder a mulher da minha vida e a angústia de ter grande parte de culpa pela morte de Maria Luiza; todos dizem a mim que não tive culpa na morte da minha mulher, às vezes até cogito essa possibilidade, mas logo a mesma some de meus pensamentos, é claro que a culpa foi minha! Eu sou cardiologista e minha mulher morreu de infarto; os sintomas apareceram muito antes da morte de Maria Luiza, eu deveria ter reconhecido, eu deveria ter evitado a morte de minha mulher. Eu sou o culpado pela morte dela, só eu.


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