03 | Quente como o Inferno

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As bandas que serão citadas neste capítulo e nos seguintes não existiam na época em que a história se passa, mas considere esse um universo alternativo em que elas já eram formadas e famosas. Obrigada, rs.

↬☀↫

A mão pesada de alguém balançou forte o corpo de Dahyun. Ao abrir as pálpebras lentamente, viu acima de si o rosto desconhecido de uma senhora de cabelos brancos e vestido longo florido. Para se acostumar com a claridade, coçou seus olhos com as costas da mão e piscou algumas vezes. Aquele rosto não era comum, não reconhecia aquela mulher, mas tinha certeza de algo: ela havia passado má impressões, Dahyun odiava ser acordada daquela maneira.

— Olá? – escutou a voz da senhora.

Desprezou o cumprimento e focou-se no local, percebendo que estava deitada com a cabeça nas coxas de Sana, que dormia sentada e com o tronco encostado na parede de tijolos do beco. Dahyun não se lembrava como havia adormecido tão desconfortável em um lugar escuro, nojento, sujo e possivelmente com ratos – ainda que não tivesse visto nenhum até o momento.

— Está tudo bem com vocês? – a mulher insistiu, curvada sobre elas para ver o que acontecia.

— Sim...

Devido as vozes e por Dahyun se levantar de seu colo, Sana também acordou, já resmungando pelas dores nas costas por ter dormido tão mal. Não era a única, já que a coreana também levou a mão as costas, estralando várias partes ao se espreguiçar.

— Estava passando por essa rua para ir trabalhar e vi meninas tão bonitas dormindo nesse beco, achei que precisavam de algo.

— Não precisamos. Cai fora, coroa. – Sana resmungou a frase enquanto também se espreguiçava.

A mulher se surpreendeu pela maneira de ser tratada, mas não desistiu e dirigiu seu olhar a Dahyun, que para ela parecia mais delicada, digna de toda ajuda que necessitasse.

— Mocinha, se precisar de ajuda, ligue para a polícia.

Sana soltou uma risada nasal como de costume. Estava fora de cogitação chamarem a polícia após roubar um carro e uma loja no dia anterior. Preferia passar por qualquer situação ruim sozinha e resolver no diálogo, convencendo como sempre fazia.

Quando a senhora saiu do beco, andando ainda curvada e lentamente, Sana pegou os pacotes, bebidas e maços de cigarro que sobraram da noite passada e os escondeu dentro de sua jaqueta. Em seguida, as duas se levantaram e retiraram a poeira e a terra das roupas com suas mãos, batendo nos panos ou esfregando os dedos. Dahyun tossiu algumas vezes, o que fez Sana revirar os olhos, era tão mimada que não aguentava sequer uma partícula de sujeira. Novamente, patética.

— Acabei de lembrar do meu carro! Ainda está estacionado na danceteria! – Sana disse.

Seu carro? – Dahyun rebateu irônica.

— Se eu roubei, é meu.

A japonesa puxou a manga de sua jaqueta e viu que seu relógio marcava seis e quinze da manhã. Ainda cedo e, desejando um pouco de sorte, torceu mentalmente para que as rondas policiais não crescessem aquele dia. Espiou fora do beco. Apesar das luzes dos postes já estarem desligadas e o sol começar a iluminar, as ruas ainda continuavam vazias ou com pouquíssimo movimento.

— É cedo, temos chance. Espero que não tenham apreendido meu carro.

Quando Sana começou a caminhar para fora, tomando a rua novamente, Dahyun a seguiu. As dores no corpo aumentaram com a mobilidade, mas não poderiam exigir um hotel cinco estrelas como os que a mais nova sempre ficava. Ao menos suas roupas arrumadas passavam a impressão de que tinham aproveitado uma balada a noite toda, é o que falariam caso alguém perguntasse.

Sana is Broken | SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora