Pertencer

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— "Clamava Aresia
Em críticas céticas
Não havia alegria
Muito menos artes poéticas
O ódio crescia
A fome pairava
Dias difíceis a esfera enfrentava

Mamãe recitava a primeira estrofe do poema, mais conhecido como " A profecia da lei Viggorea" enquanto penteava meus longos negros cabelos.

Do céu a jogaram
Feito um filho bastardo
Em meio aos tormentos
Em seus braços se aninhou
Para cessar aquilo que lhe afligia dor
Calado ficou, ao perceber que ali
Já era amor

A enxergava no espelho. A coroa lhe caía bem. Seus olhos azul celeste, contrastavam com o loiro dos seus fios. Seu sorriso era sincero e o movimento de suas mãos em meus cabelos, associado a sua voz, era como um carinho exacerbado em minha alma.

No trono, então
Se fez dona do seu coração
Em verdade lhes digo
O rei era grato a um bruxo
E a ele prometeu...

—"Proteger ou pertencer
Aquilo que o rei ainda, não sabia que iria ter."— Virei-me para a minha mãe e completei a citação. Pude enxergar um certo desespero em seu olhar— Eu sei esse poema do início ao fim, mamãe, desde pequena a senhora lia e recitava para mim. Eu só não entendo o porquê, sempre o mesmo.

— Profecia, meu amor...— Seus olhos começaram a marejar— Você não pode fugir do seu destino. Ninguém pode.

— O que quer dizer com isso? O que o poema, profecia, tem a ver com o meu destino?— Clamo por uma explicação.

Em meus vinte anos de existência cresci em meio a essas palavras, mas nunca me permiti entrar nelas, porque para mim aquilo não passava de uma história, mas depois dessa frase, eu sinceramente não acredito que seja apenas um conto de fadas.

— Pandora...— Mamãe chorava segurando minhas mãos seu rosto.

— Por Aresia, me fale o que esconde, me fale o que aconteceu, o que vai acontecer. Eu preciso de respostas!— Já desesperada, por mim e pela minha mãe que se encontrava em prantos, eu pedia.

Elaite? Onde você está?— A voz do papai soava nos corredores do castelo, a procura de sua rainha.

— Se arrume! Preciso que esteja pronta às 20h. Após o jantar eu conto tudo o que você precisa saber.— Mamãe levanta, enxuga as lágrimas e responde o chamado — Estou com Pandora, querido!. Se comporte. Não faça perguntas ao seu pai.

Logo as portas se abriram, dando vista a entrada do meu pai em meu quarto, com uma caixa em uma mão e lindas Lisianto na outra.

— Eu não sei se comemoro hoje por ter a oportunidade de celebrar a vida de uma filha maravilhosa ou se me entristeço por saber que estou ficando velho.— O velho Rei Viggor, meu querido pai, sorri para mim entregando os presentes e logo suspira e faz uma cara pensativa.— Você cresceu rápido demais, Pandora, por favor, volte a ser criança. Tenho saudades de buscá-la no estábulo por insistir em brincar com os cavalos, ou correr com você nos campos de Aresia, a soprar Dentes de Leão ao vento.— seus dedos fazem carinho em minha testa, observo que o mesmo insiste em prender o choro.

— Papai... eu sempre vou ser sua garotinha, não importa se eu faça 21, 31 ou 41 anos. A minha essência sempre vai estar com você. Eu estou longe de sair das suas asas e das asas da mamãe. Não se preocupe. — Afago seus grisalhos cabelos, em forma de conforto. Nunca havia visto meu pai tão emotivo.

— Assim espero, meu raio de sol, assim espero. — Ele diz, ou melhor, soa mais como um pedido, uma prece, segurando firme meu rosto.

Até o meu pai.

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