Capítulo 1- O Corvo

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   Lá estava eu, voltando pra casa. A escola Dom Pedro II, da qual estudo com meus amigos. Tinha inventado mais uma de suas gincanas anuais, que pro meu desprazer valiam pontos, e eu não sou muito bom em química do terceiro ano. Eu tinha sido parte da Red Squad, um grupo genérico da gincana, mas que tinha como vice-líder, Miguel Valêncio. E por isso, eu não tinha muito sobre o que ponderar quando entrei no grupo ao lado de Eduardo Polar. Foi um gincana que me mostrou mais uma vez, que se você quer ser popular, tem que ser atlético e comunicativo. Tudo que eu não sou, o que me fez perder algumas provas, como a do Splash, onde eu Infelizmente tive que ter como dupla, Eduardo.A prova se consistia em Eduardo sentar sobre uma plataforma elevada, até que eu acertasse um alvo pequeno e o derrubasse sobre uma piscina. Eu sei muito bem, e por experiência própria que mesmo Eduardo voluntariando-se para ser a vítima do Splash, ele não deveria ter noção das risadas que receberia se eu, acertasse o alvo, não que fosse possível com minha pontaria, mas o destino tende a ser cruel. Então com exceção dessa prova, eu mesmo perdi por pura falta de habilidade atlética, da qual tenho a teoria de que ela e eu somos opostos.
Ainda na volta para casa, e perdido no devaneio, da triste derrota da Red Squad, e do novo roxo no meu corpo para a coleção, caridosamente dada por Eduardo Polar. Eu me deparo com um corvo, ele era negro, suas penas pareciam se perder entre as tonalidades roxo escuro e preto, o que lhe dava um visual aterrorizante, naquela hora da tarde.
   Principalmente, quando ao passar dois minutos observando a ave, com suas penas lindas e sombrias, me dou conta, que não deveria existir corvos no Brasil, e muito menos no SantoMont. Ao perceber isso, logo via que o corvo que repousava sobre a casa mais bonita e tradicional da viela escura e solitária, abria suas asas e ao abrir seu bico, dizia "Quem quer?".
-Quem quer?
   Disse em uma mistura de medo e curiosidade. Aquela frase, era dita pelo pássaro várias e várias vezes, enquanto eu caminhava tentanto o ignorar.
-Eu..Eu to ficando louco?
   Disse para mim mesmo, até que a mulher mais bela e minha particular paixão escolar. Sai de uma casa e diz à ave.
-Matinta? Passe depois, para ter o quer.
  Logo ao ouvir Júlia, o corvo voava para o leste sem emitir mais nenhum som.Eu não tinha entendido nada daquilo, mas meu corpo e mente pareciam mais interessados na informação da localização casa de Júlia. Até que ela olhasse pra mim, como nunca antes. Seus olhos castanhos, pareciam demonstrar raiva contra mim, o que me deixou mais confuso do que antes.
-Você. Você é o garoto que anda com Miguel, tô certa?
   A garota disse com um ar soberano, porém suave e calmo. Mas seus olhos, ainda eram as de quem não gostava de mim, olhos castanhos e cheios de raiva.
-Sim, eu sou. Apesar de que na realidade eu diria que Miguel que anda comigo.
    O que foi aquilo?! Eu sempre pensei duas ou três vezes antes de falar, mas parecia impossível fórmula frases adequadas a serem ditas para ela. De fato eu estava apaixonado, e esse sentimento só crescia, tomando conta de mim.
-Sei. Bom, venha garoto. Você tá com um problema meio complicado.
    Ela disse. Quebrando o meu momento de apreciação por ela, o que me deixou um tanto irritado. Mas antes que eu pudesse falar algo, a garota já tinha dado as costas e seguido para a porta de sua casa. E assim eu a segui.

  Assim que entramos na casa, me deparei com a senhora do corvo que meu pai tanto falava, sentada sobre suas pernas curvadas, em um estilo japonês, em frente a uma pequena mesa onde repousava uma pena roxa e negra, assim como as do corvo que tinha visto.
-Dante? Sim! Dante. Filho de Edmundo. Sente-se, pois agora você tem uma responsabilidade nova pra sua lista.
  Disse a senhora, tragando um tipo de cachimbo que nunca tinha visto na vida, apesar de meu pai ser apreciador de cachimbos aquele era diferente. A madeira que o confeccionou era escura e nela possui adornos de metal parteado, na forma de um corvo.
-Você sabe quem é Matinta Pereira?
  Disse novamente a senhora, antes que eu mesmo pudesse organizar as idéias novas que eu tinha ali. Júlia teria se sentado ao meu lado, assim que tinha sentado na outra extremidade da mesa pequena, e talvez isso me fez mais desatencioso, então eu resolvi responder sem pensar duas vezes.
-Matinta? Não, nunca ouvi falar.
   Disse para senhora que respondeu com uma baforada em seu cachimbo.
-Matinta Pereira é senhora dos corvos, e a oráculo dos Deus Yamandú. Você deve ouvir cuidadosamente isso. Matinta se utiliza de corvos para trazer os recados através de Jourmugand, um portal que liga cada um dos nove reinos. Mas no decorrer das eras, sua frota de corvos foi diminuindo até sobrar apenas um corvo, que fez um pacto com a mesma. Como último que tem a maldição de Matinta, o corvo que um dia foi um homem, iria procurar pelo mundo alguém que o pudesse substituir. Não conheço os parâmetros para isso, mas você foi o escolhido. Eu não vejo aquele corvo a mais de cem anos, então devo dizer que você tem algo especial. Ou só é muito azarado.
  Depois de uns dez minutos, refletindo. Eu por instinto soltei, um:
-Oi?
  Júlia se levantou e disse com uma raiva finalmente condizente com seus olhos.
-Eu treino, desde meus oito anos.
Treino para um dia fazer parte desse mundo dos Nove Reinos. E quando acho que estou indo bem, me aparece um idiota e antisocial que de repente, é elevado a um Yatagarasu. Você sabe porque me chamo Júlia Yata?! Yata, vem da palavra Yatagarasu, que na mitologia japonesa era um corvo de três pernas. Ele era um entidade, cultuada não so pelos japoneses, mas por várias outras culturas, possuindo histórias e nomes dos mais variados.
   Por um momento, a garota que falava rude e agressivamente. Dava um pequena pausa, quando uma lágrima escorre pelo seu rosto. Foi quando eu estendi minha mão até seu rosto, meu dedo indicador se curvou e enxugou delicadamente zua lágrima, fria e triste.
-Eu não faço idéia do que você ta falando, mas você é linda demais pra chorar.
   Após minha fala, da qual nem mesmo eu tinha pensado sobre. A garota me dava um tapa no rosto, e então corria para seu quarto.
-Não culpe ela, seu pai era fanático por essas histórias. Até que um dia, as histórias o engoliram. Ela ainda busca por ele, e acha que os Corvos podem ter a resposta. Eu acolhi ela, assim que soube do ocorrido. Eu admirava muito seu pai, aquele homem era fascinante.
   É quando a senhora pega a pena e a solta uma baforada de fumaça sobre ela, que responde brilhando. A luz emitida era um azul forte, e meu corpo logo respondia com o mesmo brilho.
-Realmente, você é adequado. Só queria saber o porquê. Mas não há tempo.
   Ela me entregava a pena, um chá logo aparecia sobre a mesa, um chá roxo escuro, com um leve cheiro de amoras.
-Tome garoto, amanhã você terá um dia complicado.
  Não sabia bem o que estava acontecendo ali, mas logo pegava a pena e o chá, guardava a pena no bolso, e tomava o chá. Após o término do chá, doce e suave. Eu via um grande corvo bater suas longas asas, e quando me dava conta, eu já estava no outro dia na minha cama.
-Nossa! Esse é provavelmente o pior sonho que tive.
  Dizia sorrindo, e aliviado. Mas logo teria percebido que tinha cometido um engano, assim que via a pena do corvo sobre os lençois.
-Droga!!!

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⏰ Última atualização: Dec 31, 2019 ⏰

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