Introdução a zoologia

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Quando eu tive meu primeiro dia na escola primária, tive que me adaptar a um sistema de sociedade. Os mais fortes comandam e dominam a sala e ficavam com todos os brinquedos, os pais sempre mantinham o orgulho. Eu me sentia uma raposa solitária numa jaula de leões famintos, e alguns fracos que se submetiam a eles. A professora me ensinava que todos deviam se respeitar de forma igual e serem amigos, eu realmente não deveria estar prestando atenção naquela aula pois eu não apliquei nenhum desses conceitos na minha vida.

Desde criança eu sempre quis ter um monte de amigo, ser reconhecida pelas coisas que eu fisese, ter uma casa com um cachorro e filhos. Mas, sinceramente meus sonhos sempre foram crescer, sair da casa dos meus pais e bater meu carro no muro e nadar numa geleira ate congelar. Isso sim e viver de verdade, ser uma executiva não me agrada muito.

- Koneko querida, está tudo bem? - a professora Yoko me olhava com ternura na frente da classe.

- Sim senhora- eu forçava um sorriso largo- Estou bem.

- O recreio já esta quase começando, se preparem para arrumar a sala e almoçar.- Ela se dirigiu a mesa e se acomodou na cadeira acolchoada de inverno.

O sinal tocou de forma estrondosa, a sala ficava no segundo andar subindo uma longa escada de mármore cortado, na verdade era um terrível pesadelo subir todos os dias, cada degrau parecia uma tortura. Todos os dias era estranho ver que algumas crianças da classe não ajudavam na limpeza como as outras, era bem frustrante ter todo o trabalho enquanto eles olhavam e fofocavam de nós.


"Idiotas com gravatas"


 Uma vez até tentei conversar e pedi para ajudarem, mas acabei na diretoria por que eu quebrei a vassoura numa menina, estranho talvez não, não para mim. A hierarquia e uma coisa meio ilógica, pessoas são meras peças de peão, num grande jogo de damas tentando virar reis e rainhas com poderes para submeter quem quiserem, talvez fosse mais fácil não  ter esse sistema, mas sem ele não seriamos nada. Enquanto descia as escadas m direção ao pátio frio por conta do inverno, percebi que ate mesmo os animais se comportam assim, na aula de história que eu dormia de vez em quando em cima do livro que eu desenhava alguns rostos e monstros interiores  que me assombravam debaixo da minha cama, que as coisas não mudam, tudo se transforma e volta do mesmo jeito que antes, e bem frustrante na realidade.

-Koneko olha um passarinho.- Minha amiga de carteira Kin estava freneticamente encantada junta as outras crianças da sala- Coitadinho dele, o frio deve estar difícil para os pobres passarinhos.

-Um deve ter caído bem feio- Eu analisava minhas botas vermelhas que agora escorria pequenas gotas de uma poça que tinha pisado na correia para ver o defunto.

- O que vamos fazer com ele?- Um outro colega que cutucava o pássaro morto com um graveto perguntou despretensiosamente.- Vamos enterra-ló? 

-Não, vamos dar um sentido a sua morte, fazer valer a morte no frio.- Eles me olharam com certa estranheza e alguns nem ligaram pelo fato de ter um pássaro morto no meio do pátio.- Já que ele esta morto, vamos come-ló. 

 Esta doida garota?- a representante da turma me olhava incrédula- Vamos enterrar ele sim, você deve ser maluca.

-Qual o problema dele ir para meu estômago? - ela não desviou o olhar nem por um segundo, mas sua pose de poder foi sumindo aos poucos- Ele morreu, e a ordem natural da vida.

- Talvez você não tenha noção mesmo.

Mesmo protestando, apenas pegaram o defunto e o jogaram em uma cova no meio do jardim da diretoria. Enterros eram extremamente estranhos para mim, ver alguém ser sufocado por terra e barro. Talvez ele tenha que lutar para respirar, ou simplesmente aceitar que acabou seu tempo, chorar por mortos era arrependimento demais, ter que falar coisas bonitas, como ele foi um bom pai, um bom amigo, era tão hipócrita vindo de pessoas que provavelmente detestavam seu jeito diante uma crise de choro. Eu observava cada passo deles, sem questionar apenas voltei para sala sem falar uma única palavra. Ser chamada de maluca não me deixava mais sã, embora fosse diferente só queria entender. O relógio bateu exatamente as 9 da manhã, naquele dia de inverno eu so queria voltar para casa e ficar no meu mundo das cobertas obsoletas, eram um monte de cobertas que mamãe escondia no armário da cozinha para que eu tivesse crises de asmas, mas eu amava ficar com o nariz escorrendo sangue pela casa, usar aqueles remédios que faziam fumaça era incrível pelo menos para mim. Perdida em fragmentos aleatórios da minha mente, abaixei a cabeça e vi minhas pequenas botas vermelhas que eu tanto amava, eu ate mataria por elas. Eu lembro que mamãe e papai me deram quando eu entrei pela primeira vez na escola, elas eram únicas, não somente por serem vermelho sangue, mas por serem 4 números maiores que eu.

- Koneko, você está bem?- Kin me encarava de forma preocupada-Ei, você ficou chateada?

Que irônia, estar chateada é meio estraga prazer as vezes, e incrível como acaba com o dia das pessoas, mas e uma sensação de desordem tão estranha.

- Estou bem, so quero algo para comer- ela me entendia bem pouco, mas se esforça para me aturar. - A aula vai acabar em breve, vou dormir o resto dela.

- Ok, vou te encobrir. - ela falava numa empolgação. Quando a aula retornou eu me virei para a janela e adormeci, só lembro de ter visto Kin jogando seu agasalho em cima de mim.

Capitã KonekoWhere stories live. Discover now