Na volta para casa eu me distraia constantemente com as placas de cafés anunciando novos tipos de bebidas coloridas. Sempre que eu passo na rua 23, eu sinto que a vida pode ser mais que só trabalho e contas, tenho certeza que se eu me esforçar a partir de agora vou conseguir ir embora desse lugar. Sei que as vezes não e correto desejar ir para longe, mas eu necessitava daquilo.
- Ir embora séria uma boa opção?
Nem percebi quando passava em frente a uma kombine tradicional do bairro, era tudo tão organizado, o Iori-sama era uma pessoa muito boa que ajudava minha família em momentos de crise financeira.
- Olá Koneko! Já faz um bom tempo que eu não te vejo.- Ele era mais velho que aparentava, e sempre usava seu terno de cetim vermelho, era engraçado, ele estranhamente combinava com minhas botas.- Como vai sua mãe?
Quando eu voltei a mim vi uma coisa que deixou meus sentidos embevecidos, uma edição rara de Pikys. Era um dos meus doces preferidos na cidade, era sempre uma surpresa seu sabor , embora eu conhecesse todos seus gostos agridoces, eu sempre fingia que era a primeira vez que eu experimentava.
-Estou bem, desculpe estar sumida por esse tempo, estava na escola.- Paralelamente aos acontecimentos das ultimas semanas, eu não pensava em mais nada, estava parada no tempo.- Como o senhor esta?- Passei pela porta que se abriram rapidamente e arrostei vários minutos aquela embalagem que me fazia ter sonhos a noite.
-Espero que a situação de seu pai melhore, sei que ele te ama muito.- Ele se aproximou de mim de forma sutil.- Você quer um?
Balancei a cabeça repentinamente confirmando suas suspeitas, estiquei os braços para alcançar a prateleira que ficava bem em cima do freezer.
- Eu pego para você.- Iori nem se importou com o vidro, apenas se apoiou e subiu em direção a prateleira. - Não entendo como você gosta tanto disso! Só sobrou essa da ultima edição.
-E estranho para mim também.- Encarava fixamente a embalagem azul em minhas mãos,- Tenho que voltar agora, mais tarde eu volto para ajudar na arrumação das novas mercadorias.
- Sem problemas. Alias, aproveite o doce.
Nem esperei terminar a frase, estava tão apaixonada pelas palavras "edição rara" que nem percebi que começou a chover.
''Mas que droga''
(...)
O barulho da chuva batendo contra o asfalto, contra as folhas das árvores eram um dos melhores barulhos que me acalmava em tempos difíceis, andar pela rua as vezes sem ter rumo era bom, as pessoas me olham estranho quando eu passava correndo e pulando nas poças de água, com minhas botas. Minhas botas que me acompanhavam a todo lugar, era bom ter ao menos vinte minutos de liberdade pulando de um lado para o outro.
Andando em linhas curvas na calçada, me aproximando cada vez mais da minha casa no alto da rua, a "esquina das flores" como era conhecida uma das entradas do meu bairro, era um lugar que me incomodava muito.
O cheiro das flores que eu sentia me fazia ter coceiras nos olhos, era um lugar extremamente perturbador, com casas escuras, trincadas e flores que mais pareciam uma coroa de flores mal feitas, dessas que a gente vê no enterro da sua tia de quarto grau.
- Esta cada vez mais estranhas as pessoas daqui.- os moradores eram o maior mistério, nunca os viam na rua ou suas janelas,nem ao menos recebiam visitas. Mas a casa que sempre me chamava atenção era a número 53, nunca havia nada que indicava que era habitada, mas as flores dessa casa eram exclusivamente aparadas e cuidadas como nenhuma outra.
- Koneko-chan, venha rápido vai esfriar.- Minha mãe apareceu na janela derrepente.- Vamos logo.
-Já vou.
Subindo as escadas vejo uma das janelas da casa 53 aberta, era algo extranho. Talvez fosse minha imaginação, foquei somente em subir até meu portão amarelo que era o único que não tinha flores. Era até engraçado ser a única do bairro.
Tirei minhas botas e coloquei na janela junto com meu casaco. O almoço estava com um cheiro tão bom, comer depois da aula me deixava feliz.
- Como foi o dia querida?- Minha mãe era uma típica cidadã deslocada de sua cidade natal para satisfazer o marido. Tinha a pele mais alva que eu já tinha visto, e sempre usava sua blusa com estampa de mar.
- Hoje eu vi um passarinho morto, limpei a sala e ganhei Pikys do Iori-sama.- Aquele momento eu estava dando a garfada perfeita com arroz e molho.
- A professora fez algo com ele?
Eu realmente não sabia, parei de tentar entender.
- Não sei.
Não gostava do silêncio, era desconfortável a sensação de vazio. Ver sua cabeça preencher os espaços com vozes repentinas e idéias mirabolantes para se fazer ainda hoje.
Minha mãe era um poço de doçura, mas metia medo em qualquer um quando ficava brava. Ela não gostava quê ficasse até tarde desenhando meus sonhos, dormir era um problema para mim.
(...)
À tarde eu ajudava o Iori-sama na loja. Eu sou uma criança muito animada para esse tipo de coisa, embora não pudesse trabalhar eu ajudava em algumas coisas. Queria ser diferente das outras, queria ser mais.
- Já vou. - ter empolgação nessa hora da tarde era difícil, ainda mais com a barriga cheia. Mas valia a pena.
- Tenha cuidado, volte antes das 6.
Desci as escadas rapidamente pulando três degraus de uma só vez. Eu me sentia um super herói, desses que a gente vê na tv.
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Capitã Koneko
AdventureEu queria entender o mundo, mas descobri que não era tão colorido assim.