Capítulo 1

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Liana de Souza Lins.

Saí da biblioteca em que trabalhava às pressas, mas antes peguei um livro da prateleira de romance e segui pro meu lugarzinho favorito dessa cidade toda; a gruta. Após me perder e descobrir aquele lugar incrível, passei a ir todo final de expediente. Claro que no começo fiquei um pouco temerosa, porque vai que tivesse um serial killer por lá? Eu preso a minha vidinha pacata, mas depois do primeiro mês, eu fiquei mais tranquila então passei a frequentar com mais frequência. Já faz três meses que vou lá e em todo esse tempo eu nunca vi ninguém.

Acenei pra dona Lilian - a dona da biblioteca - e saí com o maior sorriso do mundo, só de saber que daqui a pouquinho estaria no meu local de paz já me deixava extremamente feliz. Ás vezes penso que o destino colocou aquele lugar no meu caminho, sabe? Eu sempre estive em tormenta comigo mesma, então aquele lugarzinho é a minha válvula de escape.

Peguei minha bicicleta com algumas rosas presas no guidão e segui até o local desejado. Após uns 10 minutos pedalando, finalmente cheguei na gruta. A paz continuava a mesma, o cheiro silvestre e o barulho da cachoeira fazia a gruta ficar ainda mais encantadora.

Encostei a bicicleta do lado de uma árvore e fui até a água, tirei meu ALL STAR e mergulhei meus pés nela. Um arrepio percorreu meu corpo como choque térmico do dia quente e a água gelada. Fiquei perdida em pensamentos enquanto sentia pequenos girinos brincando nos meus pés. Lembrei do livro que tinha trago e fui até minha bolsa, peguei o mesmo e voltei pro lugar em que estava.

...

Tentava me concentrar na leitura mas o calor estava quase que insuportável, suava por todos os cantos e a vontade de entrar na água estava cada vez maior. O único problema é que não tinha roupas pra trocar.

- Poxa, como que eu vou entrar agora?

Sussurrei comigo mesma enquanto pensava em uma forma de continuar com as roupas secas. O calor fez uma ideia absurda passar pela minha cabeça, sinceramente essa ideia não me pareceu tão ruim. Com o pouco de coragem que tinha me levantei e comecei a deslizar o vestido rodado amarelo de alcinhas pelo meu corpo. Após estar apenas de calcinha - já que não uso sutiã pelo simples fato dos meus seios serem pequenos e não ver necessidade -, deslizo a mesma pelas pernas e a dobro junto com o vestido, deixo eles perto dos meu tênis e finalmente encaro meu reflexo na água. Minha pele negra e cabelos cacheados devam um belo contraste com as árvores a minha volta.

Tomei um pouco de coragem e comecei a entrar, a água estava extremamente deliciosa. Nadei como se nunca tivesse nadado na vida, meus pés não encostavam o chão e pela primeira vez eu me senti livre. Mergulhei até o fundo e vi vários peixinhos coloridos brincando entre si, aquela imagem fez meu peito se encher de amor pela vida marinha. Não conseguindo mais segurar a respiração, volto a superfície e puxo o oxigênio com a maior força possível.

Relaxo meu corpo e fico boiando enquanto pensava na minha vida. Acho estranho esse conceito de "o tempo cura" na verdade essa frase ou ditado deveria ser mudado para "o tempo faz com que você consiga viver com a dor", porque essa é a dura verdade, nós não estamos livres de demônios do passado, acostumamos e convivemos com eles. Em particular eu não gosto muito de falar da minha vida, creio que cresci como qualquer jovem do século XXI, ou seja, minha infância foi horrível.

Fui até a cachoeira e subi em uma das pedras, a água caia sob meus cabelos que desciam e cobriam meus seios. O fato de estar nua em um lugar como esse me deixava extremamente feliz. Passei as mãos pelos cabelos e os baguncei, dando um ar de selvagem. Absorta sobre tudo, acabai vindo um estalar, como se algo tivesse pisado em um galho ou alguma coisa. Morrendo de medo de ter alguém me observando, levei as mãos aos seios e a vulva. Quase caio pra trás quando vejo que algo pula da mata, quando me dou conta do que é começo a rir de mim mesma.

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⏰ Última atualização: Jan 11, 2020 ⏰

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