Contos e Fábulas

O Urso e o Mel

    Era uma vez uma colmeia, cujas operárias abelhas, incansáveis, trabalhavam incessantemente para produzir seu mel. Num belo entardecer na floresta ao lado de uma aldeia, os pássaros cantavam, já cansados. Um urso pardo, feroz e faminto, encontrou a colmeia, e imediatamente foi atacá-la afim de obter seu doce predileto. No entanto, sábio como era, não o fez de imediato:

    — Eu tenho que fazer isso — ele disse às abelhas — Sempre tenho. Vocês têm algo a dizer antes?

    Uma das abelhas, frustrada, respondeu:

    — Só queria que os humanos chegassem mais rápido. Nós produzimos mel para eles todos os dias, incessantemente. Mas eles parecem sempre ocupados demais e demoram meses, anos, décadas para coletarem. Antes disso, você sempre chega e nos destrói com suas garras, e todo o mel que se acumulou por tanto tempo é perdido para sempre...

    O urso fez uma reverência, respeitosamente. E então com uma única patada, precisa e impiedosa, derrubou a colmeia, pegando para si todo o mel que lá havia.

    O urso é a morte, fria e inevitável. As abelhas são a vida, que sempre produzem de uma forma ou de outra o mel da felicidade. Mas os humanos esperam até ficarem bem velhinhos, deitados num quarto no hospital, para pegá-lo, depois que acumularam-no pela vida inteira, e já não o podem mais consumir. 

    Lembremo-nos de coletar o mel de cada dia. Memento mori.