25 de outubro de 2019

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Dessa vez, eu consegui. Consegui não trocar literalmente nenhuma palavra com Devon e, por mais que doa profundamente, sinto que estou fazendo tudo o que eu realmente deveria ter feito todas as outras vezes.

Eu deveria conseguir relaxar quanto a tudo isso, mas eu não consigo, é agoniante não saber o que irá acontecer com ela, ainda pior do que a certeza de perdê-la.

Toda essa agonia me causa arrependimento, arrependimento esse que acaba com a minha mente, o mesmo que me faz deixar o apartamento correndo para pegar o carro, eu preciso da praia.

É inconsequente demais ir para tão longe a essa hora. Sair de Los Angeles para San Pedro quase meia-noite é definitivamente uma loucura, mas sinto que não controlo onde estou indo, algo me diz que eu preciso ir para lá, e é isso que eu faço, sigo para a Ponte Vicent Thomas esperando que meus sentimentos não me matem.

O vento que corre pela ponte é forte, forte o suficiente para que, ao passar pelos vidros abertos, me impeça de ouvir a música que toca no rádio, e bagunce ainda mais meu cabelo que eu nem ao menos tinha arrumado. A corrente de ar que me bate nessa ponte completamente vazia é, definitivamente, a definição física do caos, o caos que habita minha mente neste momento, como se tudo que eu tentei evitar em todo esse tempo pudesse acontecer exatamente agora.

Minha mente corre para Devon e se pergunta se realmente valeu a pena tanto sacrifício. E em meio a todos os pensamentos sobre tudo o que poderia ter sido feito, ela aparece, tenta pular a grade de proteção, mas tem medo o suficiente para não se soltar.

Imediatamente paro o carro e corro, corro até ela como se eu realmente pudesse impedir aquela maldição alguma vez. Ela não percebe minha presença, não até que eu toque seu braço, ato esse que a faz virar o rosto para mim, deixando-me ver seus olhos, há medo neles e, mesmo que inconscientemente, me pede socorro em suas lágrimas acumuladas.

— Vem, eu posso te ajudar — falo em tom baixo, tentando não fazê-la se desesperar. — Eu te ajudo a sair daqui, não quero que se machuque...

Ela apenas se recusa, virando o rosto e voltando a encarar o horizonte, mas mesmo assim acabo segurando seu pulso para que, se caso algo acontecesse, eu pudesse segurá-la.

— Olha, você não precisa fazer isso... — falo e ouço seu primeiro soluçar, ela tenta não chorar, e isso é tão doloroso quanto qualquer outra coisa nesse mundo. — Vem comigo, eu vou ajudar, eu prometo.

Ela ainda hesita, o que me motiva a abraçá-la desajeitadamente por cima da grade, Devon logo deixa-se entregar ao choro e agarra meus braços, já perdendo sua pouca coragem de fazer aquilo.

— Eu vou te tirar daqui, está bem? — ela assente de modo assustado, se virando com cuidado para ajudar-me a puxá-la para dentro da grade de proteção novamente.

Agarro-a por baixo dos braços, a abraçando de forma que pudesse levantá-la, ajudando-a a sair de lá com uma facilidade talvez um pouco maior do que a esperada.

Mesmo em "terra firme", Devon não me solta, ela me abraça com força e chora desesperadamente, algo que dói como uma facada e ao mesmo tempo traz-me um alívio intenso, ela ainda está aqui e isso é o que importa.

— Shhh tá tudo bem — passo a mão suavemente por seu cabelo, tentando confortá-la, mas claramente falhando. — Eu estou aqui, não vou deixar nada acontecer...

— Por favor... só me tira daqui...

Eu concordo, levando-a para o carro que, naquele momento, estava criando um transtorno na ponte mesmo com o baixo fluxo de veículos daquela noite.

Eu não sei se devo dizer algo neste momento, é tudo muito estranho, sinto que tudo o que eu possa dizer seja capaz de machucá-la ainda mais. Então eu apenas dirijo, de vez em quando olhando para Devon e vendo-a secar as lágrimas.

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