Já parou para pensar como todas as pessoas a sua volta mudaram para caralho?
Quando somos bem pequenos, em nosso jardim de infância, costumamos ser mais inocentes, dividimos nossas coisas, comemos lápis crayon e não julgamos muito os nossos amiguinhos a não ser que tenham nos feito algo realmente mal, ou algum adulto nos fale para tomar cuidado.
Então vem o ensino fundamental e somos todos crianças catarrentas com egos em desenvolvimento e capacidade cerebral limitada para socialização, mas muito bem formada para maldade. Em suma: nosso filtro é baixo e somos malvados.
Formamos nossos grupos e nossas castas sociais e esperamos o bom e velho caminhão da puberdade, vindo a toda velocidade nos atingir e modificar nossos corpos, nos deixando um amontoado de hormônios irritados, rebeldes e excitados.
Gostaria de falar algo sobre a vida adulta, mas ainda estou preso no amontoado excitado e irritadiço da adolescência.
Gostaria de dizer que meus amigos são muito diferentes hoje de como eram na quarta série, mas isso talvez não seja totalmente verdade. Pois uma das coisas que o tempo mais muda em nós, são nossas perspectivas.
Veja Stan e Wendy como exemplo. Ambos viviam brigando e reconciliando sobre besteira. Hoje, Wendy é uma aluna exemplar com grandes chances de entrar em uma excelente faculdade, ela é feminista, batalhadora e líder do clube de debates. Stan por outro lado conseguiu uma posição muito boa no time de futebol da escola, como quarterback. Ele treina avidamente e pode conseguir até uma bolsa de esportes. Ainda arruma um tempo para jogar videogame com os amigos e ver a namorada.
Mas ambos continuam brigando e reconciliando sobre qualquer besteira.
A diferença é que agora Stan tem que fazer a barba e Wendy menstrua. Ah, e tem peitinhos.
Um exemplo melhor talvez seja eu mesmo.
Sempre tive muito problema com meus cabelos, por serem diferentes, ruivos e volumosos. Quando comecei a crescer, percebi também que nunca perderia as sardas em meu rosto e sentia muita vergonha delas. Um dia, aos quinze anos, eu simplesmente cansei de esconder meu afro ruivo. Fui num barbeiro e pedi para aparar nas laterais e ele fez um ótimo trabalho.
Ganhei confiança de que o que me fazia diferente dos outros, me fazia especial. Ou ao menos, me fazia realmente diferente dos outros. Pode ser por meus amigos terem elogiado o corte novo, mas comecei a me livrar cada vez mais dos chapéus e ushankas que cobriam minha juba.
Mas não foi só Stan e Kenny que levaram um upgrade do bom e generoso tempo (Kenny mais agora, que aos 13-14 anos ele ficou muito esquisito), mas um certo garoto moreno dos olhos castanhos também.
Como eu disse, talvez tenha sido apenas a minha perspectiva, pode sim ter sido o caminhão da puberdade, a toda velocidade, fazendo um bem a quem não merece. Mas tem uma grande parcela de chance de essa mudança ter acontecido mesmo apenas dentro de mim. Como um click, numa bela noite de sono como outra qualquer – ao menos deveria ser – revivi uma cena comum no corredor de South Park High. Eric Cartman vinha em minha direção, andando confiante da forma desprezível que costuma fazer quando tem algum motivo para me importunar.
Eu me virava para ele irritado, já com a língua afiada para devolver qualquer ofensa que possa ter planejado para mim, mas o que ele faz é um pedido inusitado. Ele pede para que eu me ajoelhe e bem... faz pedidos humilhantes, como o bom e velho "chupe minha bolas".
Até aí não deveria ter nada de novo, porém algo de diferente começou a dar em mim. Pois a humilhação, tanto no meu sonho quanto posteriormente na escola, ao menos a ideia de humilhação, começou a ter efeitos colaterais em meu corpo muito sérios. No sonho, não usava mais roupas comuns, muitas vezes nem sequer precisava delas. O reflexo de meu corpo branco manchado pelas íris castanhas de Cartman passava a transmitir desejos do qual ninguém jamais saberia.
Estavam me excitando.
Claro que muitos devaneios com leprechauns depois, comecei a separar as coisas entre eventos reais, escola e ficção, Eric Cartman e fetiches. E acabei descobrindo muito sobre mim. Coisas no qual algumas foram mais fáceis de aceitar do que outras.
Primeiro, minha bissexualidade. Gostaria de abraçar a bandeira gay, tanto quanto a bandeira héteronormativa, mas a verdade é que já tendo tantos interesses femininos como Rebecca e Nicole, ficou um pouco difícil dizer que eu jogava totalmente para um time. Por mais que a ideia do sexo gay estar me sendo bem mais apelativa ultimamente.
Já cheguei a contar para Stan que tenho interesse em meninos, o que foi bem engraçado, uma vez que nunca tive interesse nele. Sei lá, Stan é como um irmão para mim, como Ike. Queria ter alguma experiência com meninos antes para ter certeza de minha sexualidade, mas por hora é isso mesmo.
Descobri também que meu interesse partia mais da pessoa e do que ela representava, do que simplesmente de algo da forma carnal. Ou seja, alguém independente ou dominante tinha muito mais chance de se tornarem atraentes para mim. Como minha experiência sexual até esse presente momento é nula, algumas coisas sobre mim ainda se encontram no plano teórico. Ao menos foi o que tenho dito para mim mesmo durante algum tempo.
Porém, meu interesse por Cartman começou a se tornar algo muito difícil de se negar. Por mais que continue dizendo a mim mesmo que se trata de algo impossível, não consigo afastar a imagem de devaneio dele com seus uniformes de exército e jaquetas de couro. Na verdade, sou um masoquista e como ele é um completo sádico, ou ao menos se comporta completamente como um, fica difícil não tomar algum interesse.
Ainda mais em uma cidade tão pequena do Colorado como essa.
Logicamente que ninguém sabe sobre meu particular interesse. Primeiro, minha mãe possivelmente viraria um bicho se eu "saísse do armário", segundo, não gosto da ideia de virar atração de diversidade da cidade. Terceiro, não existe a menor possibilidade disso dar certo.
Constantemente tenho que por minha cabeça no lugar e me lembrar que tenho gostos particulares, gosto muito de ler e ver um ou outro video com umas chicotadas e uns equipamentos de couro e ferro. Nada que ninguém precise saber, sou grandinho o suficiente para não confundir tesão com paixão.
De qualquer forma, sou Kyle broflovski. Tenho 17 anos e tudo o que eu quero é uma vida tranquila.
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Kyman: Reviver
FanfictionKyle cresceu e agora está se descobrindo bem mais pervertido do que imaginaria. Confrontando suas expectativas do passado e inseguranças par ao futuro, a história conta com light BDSM e situações cômicas. Capa por Giobobobo no DeviantArt