Naquele final de tarde de sexta-feira, o Aeroporto Internacional Gilberto Freyre estava bastante movimentado. Muita gente chegando para passar o final de semana nas praias maravilhosas do meu Pernambuco, muita gente voltando para os outros estados do país. Esses, a gente reconhecia pela cara de cansaço, ou pelos ternos já não tão impecáveis depois do expediente, ou ainda pelo bronzeado caprichado, depois de passar uns dias na Veneza Brasileira.
Apesar de toda a minha vida, família, amigos e conhecidos estarem aqui, em Recife, apenas meus pais me acompanhavam à fila do check-in. Não contei para mais ninguém que eu estava indo embora, provavelmente para sempre.
Ah, tá bom... para sempre, não, mas pelo menos por um bom tempo. Eu tenho meus motivos para não querer grandes despedidas, como seria o esperado.
Após despachar as três malas enormes – pelas quais eu paguei uma pequena fortuna, já que deixei para fazer isto de última hora – resolvemos subir até o último andar para tomar um café antes de chegar a hora de eu embarcar, às cinco da tarde.
Estava nervosa, e já com um pouco de saudades da minha terra. Aproveitei a escada rolante panorâmica para gravar na memória a beleza que era aquele aeroporto. Não sabia quando iria pisar ali novamente.
Nos acomodamos em uma mesa perto de uma das enormes colunas redondas revestidas com cerâmica Brennand e com suas saídas de ar, mantendo o calor lá fora e um clima ameno aqui dentro. Quantas vezes eu não sentei nessas mesmas mesas, tomando um café, quando vinha me despedir de algum amigo ou parente? Agora, era eu quem estava partindo.
Uma garçonete simpática logo se aproximou para pegar nossos pedidos.
– Um café expresso para mim – falou meu pai. Olhou para minha mãe, seu olhar perguntando o que ela iria querer.
– Ah, quero apenas um suco de laranja. Com gelo, mas sem açúcar – disse ela, sorrindo para moça.
– Eu vou querer um café com leite médio e uma tapioca de carne de sol com queijo coalho, bem caprichada, que eu tô indo embora e não sei se pra onde eu vou vai ter uma tapioca tão boa quanto a nossa! – A moça sorriu com a minha observação, anotou os pedidos e foi providenciar.
– Ô, filha, você não acha que é muita coisa, não? – perguntou meu pai, olhando para mim com ar de riso e as sobrancelhas erguidas.
– É não, painho! Tá pensando que andar de avião hoje em dia é igual ao tempo que o senhor viajava, é? O povo me disse que mal servem um biscoitinho... se quiser algo mais substancial, tem que comprar! – falei, rindo – Sem falar que eu tô nervosa, né? E o senhor sabe que quando eu fico nervosa, eu como!
– É, eu sei. Ainda bem que você puxou à sua mãe e à família dela, que é todo mundo magro de ruim! – diz ele, já se abaixando pra não receber o tapa que minha mãe tentou acertar em sua careca.
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Um viúvo em meu caminho (DEGUSTAÇÃO)
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