Capítulo 6

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[A música que vai aparecer no meio do capítulo está na multimédia, se quiserem ouvir.]

"Não é preciso fugir" alguém grita do veículo.

"Assustaste-me estúpido!" grito de volta assim que vejo quem supostamente me seguia.

"Foi por isso que quase corrias?" Liam pergunta divertido.

"Se pensasses que estavas a ser seguido que fazias?" pergunto retoricamente.

"Bem visto" ele acena “Mas por outro lado, podia ir até ele e atirar-lhe comida à cara”

"Até quando vão falar sobre isso?" pergunto irritada e ele ri-se.

"Vais entrar no carro ou tenho de te ir buscar?"

"Eu não preciso de boleia"

"Então pode ser a segunda opção" ele diz e eu arqueio uma sobrancelha.

Ele desliga o carro ali no meio da rua e abre a porta do carro. Eu percebo o que ele ia fazer e começo a correr. Consigo chegar à próxima rua mas assim que olho para trás Liam encontra-se a apenas alguns passos de distância de mim. Ouço uma gargalhada e passados alguns segundos, sinto-me a ser envolvida por um braço. Liam pousa-me no seu ombro como se fosse um saco de batatas e muda de direção, e mesmo de pernas para o ar, sei que ele se dirige ao seu carro.

"Liam, eu também tenho pernas. Põe-me no chão" eu peço.

"Pena que não as tenhas usado para entrar no meu carro quando eu pedi” ele diz.

"Parvo” murmuro e ouço Liam rir-se.

Ouço um barulho que identifico como o abrir da porta do carro, ele senta-me no banco de pendura e corre até ao lugar do condutor. Ele entra e tranca as portas.

"Estás com medo que eu fuja?” arqueio uma sobrancelha.

"Mais vale prevenir" ele afirma, com um sorriso divertido esboçado nos seus lábios.

Reviro os olhos. Ainda posso saltar pela janela. Riu-me mentalmente com o meu pensamento.

Apenas agora reparei na maneira como ele estava vestido, uma roupa bastante prática até. Uma camisola cinzenta sem mangas e justa, que por isso mesmo delineava os seus abdominais e uns calções pretos, simples e largos. Arriscaria a dizer que ele tinha estado a praticar exercício físico, ou até que iria fazê-lo.

Ele roda a chave na ignição, e dirige o seu olhar para o meu. Aqueles olhos castanhos são tão profundos, que juro que me podiam levar para outra dimensão. Mas existe algo de misterioso neles, como uma barreira que não me deixa ver nada mais que o meu reflexo.

"Levo-te para casa?" ele meio que pergunta.

Quero mesmo ir para casa? Não. Queria ir para longe, queria poder esquecer durante um pouco, que sou tão facilmente esquecida. Queria poder esquecer da maneira como o meu pai se esquece, mas não consigo e infelizmente tenho de ir para casa.

"Sim" digo, quase num suspiro.

"Algo me diz que não é bem isso que queres" ele levanta uma sobrancelha.

"E diz-te bem, mas tenho de ir" encolho os ombros.

"Está alguém à tua espera em casa?" ele pergunta.

Desvio o meu olhar para as minhas mãos.

"Provavelmente não" digo tão baixo, que nem sei se ele ouviu.

O carro começa a mover-se e eu olho pela janela. Provavelmente, ele entendeu que eu não queria falar sobre aquilo, algo pelo qual agradeço.

Reparo que ele não está a conduzir em direção a minha casa, algo que me deixa confusa.

Secrets || l.p.Onde histórias criam vida. Descubra agora