Segundo

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Anastácia era uma mulher interessante, quando não diz respeito à Edward. Com belíssimos cabelos loiros e um corte bem jovial, um pouco abaixo do pescoço com a parte frontal levemente mais cumprida que a da nuca, realmente não aparentava os seus 40 e tantos anos, era mais como se fosse uma jovem donzela vestida com seus vestidos estonteantes e de cores um tanto quanto vibrantes, era lembrada como "a moça de vermelho carmesim". Mesmo após seus três filhos, tamanho foi o cuidado que teve consigo mesma que as marcas do tempo não tiveram efeito sobre ela, o que era estranho, pois quem via de perto não notava sinal algum, sendo que deveriam existir.

Antes mesmo de seu marido, seus filhos eram quem mais recebiam o seu amor. Super protora, de fato, se colocava na frente de tudo e todos pelas suas crias e não suportava que outros tivessem mais coisas que elas, motivo pelo qual morria ao ver a relação entre Tobias e o filho ilegítimo. Na verdade, parte das atitudes das crianças eram por sua causa, visto que sempre achava uma forma de incitá-las contra o bastardo.

- Veem? Todo esse amor que ele dá para aquela criança inútil que nem mesmo dele veio quando na verdade deveria estar sendo afetuoso cem vezes mais com cada um de vocês... não podemos aceitar!

E basicamente assim era o seu dia-a-dia: acordava em algum horário desconhecido, sempre antes de todo mundo; atacava com palavras dolorosas o menino Edward quando não estava aos olhos de Tobias; tinha com seu marido relações. O ponto é que, de certa forma, era uma boa mãe, exceto pelo mal exemplo de ciúmes. Gostava muito de Gregory, mas o sentimento não era menor quando se tratava de Lary, a do meio, e Gramp, o mais novo.

***

Tobias estava apreensivo. Já imaginava que os tempos não estavam tão bons quando comparados com antigamente. A época de ouro de Farsey tinha acabado, pelo menos para ele e sua família, mas ele não deixava que seus familiares soubessem disso. O ponto é: os nobres não estavam gostando de suas atitudes. Suspeitava que um golpe o fizesse sair de suas terras, afinal, tinha feito alguns inimigos para obtê-la e estes se esconderam no pior lugar, em baixo de seu próprio território.

O que ele não esperava é que tudo aconteceria tão rápido, naquela mesma noite.

Sempre manteve os olhos bem abertos, prestando atenção em seus inimigos, mas mesmo assim não soube quando exatamente eles conseguiram adentrar na sua própria casa. Teria descoberto tudo de forma bem sortuda ao interceptar uma pomba que carregava consigo uma mensagem e, ao lê-la, logo entendeu que o conteúdo era a resposta para todas as suas perguntas.

"Tudo deve ser feito hoje. Logo pela manhã iremos pendurar o corpo daquele traidor e seu amado filho bastardo. Esperamos que você e A não tenham sido descobertos. M"

Baseado nisso, percebeu que, dentre o corpo trabalhador, alguém estava aliado à facção inimiga que atuava por sob os panos. E pior, não fazia a mínima ideia de quem o suposto "A" seria, afinal, há muitas pessoas naquela residência. Trancou-se em seu escritório pelo resto da tarde.

Já era noite quando Edward bateu na porta. Tinha sido chamado no final da tarde.

- Mandou me chamar, pai? - perguntou o garoto.
- Sim... Deixe-me vê-lo por um momento, por favor.

E foi um momento constrangedor para o menino. Normalmente as coisas eram assim, mas Tobias estava diferente. Tinha um ar de despedida em seu rosto, estava se preparando para o pior. O único que realmente podia confiar na casa era o seu filho adotado, pois com ele tinha compartilhado todos os seus pensamentos e objetos de estudo.

- Preciso que me escute e, logo após, obedeça-me sem pestanejar, acredito que o fará. - falou em tom sério. - Talvez eu tenha feito coisas ruins no passado para chegar até onde estou hoje. Não me arrependo. Você foi um dos presentes que recebi. Mas todas as maldades que fiz estão retornando e temo que não haverá muito tempo.
- Do que o senhor está falando?! - Edward interrompeu, mas ao perceber o olhar trêmulo de Tobias, fez silêncio e tornou a escutá-lo.
- De hoje não passarei, minha morte está próxima e não posso confiar em mais ninguém... você será o meu legado!

A conversa foi interrompida por batidas suaves na porta. Tobias logo percebeu que era Anastácia, sua mulher, pois este era seu toque característico.

- Rápido, esconda-se atrás da janela! - cochichou. - Saiba que antes de tudo, eu o amo. Você é o meu verdadeiro filho, nunca esqueça isso! Guarde as minhas pesquisas no fundo do seu coração, espero que possa concluí-las algum dia. Agora vá!

E, como se fosse premeditado, assim que o garoto pulou pela janela, a porta se abrira, mas a mulher entrou sem perceber o movimento.

- A que devo a honra, amor? Normalmente não me procura quando estou trabalhando... - disse o homem ao se recompor forçadamente.
- Apenas trouxe um pouco de chá, querido! - ela o serviu com uma das xícaras que carregava numa bandeja.

Foi um momento breve, mas, assim que percebeu que Tobias já tinha tomado um gole, voltou a falar.

- Sabe, Tobias, é incrível como estas terras se tornaram fortes depois da sua traição... - suas palavras adentraram bruscamente a mente do duque. De fato, não tinha se tocado desde o início! Uma mulher que, de repente aparece pedindo abrigo numa noite e a partir daquele momento tem com ele uma história de amor. Um estranho "A" na carta que tinha interceptado horas atrás. Ingênuo.
- De todas as pessoas, nunca cheguei a pensar que fosse você... - respondeu, triste, mas não pelo que estava acontecendo e sim por, realmente, não poder confiar em ninguém.
- Onde está o bastardo? Ele deve morrer com você. - gritou Anastácia.

Edward não conseguiu simplesmente fugir. Pendurado na janela do 1º andar de forma sigilosa, observava todo o acontecimento. Presenciou, em lágrimas, o assassinato do pai. Conseguiu escutar a última palavra de Tobias dizendo "Você nunca terá o MEU filho!" acompanhado do seu último suspiro.

Edward não conseguiu segurar o surto. Infelizmente este foi escutado pela ex-mãe, que não perdeu tempo. A casa já estava completamente cheia de homens que não seriam gentis com o menino, fora tudo arquitetado dias antes.

- Peguem-no! - gritou.














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