O Sonho

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Duas horas da manhã. O quarto num negrume, uma corrente de vento assovia lá fora e eu já havia virado e revirado na cama, milhares de vezes e nada do sono chegar. Já fazia três dias que tudo aconteceu, mesmo assim não conseguia esquecer. Isso esta martelando minha cabeça. Me deixando confuso. Nada daquilo faz sentido. Só de pensar naquele momento meu corpo reage. Não é normal. Sentir esse desejo. Tento de novo e de novo dormir, mas nada adianta. Quando decido tomar um remédio para dormir. Voltando para a cama, aparece ele. Não acredito no que estou vendo, fecho os olhos bem forte e os abro novamente, assim como é de se esperar não há ninguém. Uma alucinação? Deduzo que é o sono pregando uma peça em mim. Chego na cama. Mal deito e o remédio fez efeito. Apago.

・・・

A garrafa girando no meio do circulo. Todos observando para quem apontaria. Bêbados, rindo da possibilidade de ser o próximo. A garrafa girando e girando, quando me dei conta já estava parada apontando para mim. Eu fiquei levemente nervoso, mas como esta alterado, logo passou e pedi a unica opção que pudia pedir naquela hora, desafio. A pessoa do outro lado da garrafa era minha namorada, e aí eu tremi quando olhei o sorriso safado na cara dela. Eu amo ela, e tudo nela era perfeito, espera, quase tudo. O único defeito dela era ser uma apaixonada por yaoi bara. E no momento em que vi aquele sorriso sorrateiro eu percebi qual seria o desafio. A única pergunta que eu e meu cérebro embriagado podia fazer naquela hora era: Com quem terei que fazer?  

- Mor desculpe, mas vou pegar pesado. - isso me fez regalar os olhos - Te desafio a beijar o Lucas.

Como se fosse possível, arregalei mais ainda os olhos. Olhei para o Lucas que ao ouvir o desafio já estava dando uma gargalhada alta. Claramente um dos mais bêbados da roda. Pensei em recusar, mas depois ficariam me incomodando por não ter cumprido. Olhei pra ela, me arrependi, os olhos delas já estavam sedentos pela cena. Detesto isso nela. E quando fica assim não tem como argumentar com ela. Então olhei para ele. Como é bonito, pensei. Esse pensamento fez meu coração disparar. Estranhei esse pensamento, essa sensação. O que eu estava pensando. Droga. Fazer isso. E na frente dos outros. Isso é embaraçoso e errado. Mas no meio a esses pensamentos contraditórios, decidi fazer logo. Pelo menos é com meu melhor amigo, justificando pra mim mesmo.

- Vamos logo Lucas, vamos terminar logo com isso.

Nós nos levantamos e nos aproximamos. Ficando cara a cara com ele, empaquei. Isso esta errado. Não dá para fazer isso. Senti todos os olhares em nós. Aquele silêncio martelando o ambiente. Espiei pelo canto dos olhos a Andreia, minha namorada, e estava com olhos arregalados, nem piscava para não perder nada. Engoli em seco. Encarei Lucas nos olhos e minha mente se perdeu. Aqueles olhos. Todo mundo já sabia que eu achava os olhos dele lindos, um azul perolado. Mas nunca tinha parado para olha-los frente a frente daquele jeito. Meu coração disparou, mais ainda quando ele deu mais um passo na minha direção. Ficamos quase com nossos narizes se encostando. E quando coloquei meu pé para trás tentando recuar, ele avançou e me beijou colocando a mão direita em volta da minha cintura para não recuar mais e a mão esquerda na minha nuca.

Naquele momento não sabia o que fazer, não reagi. Ao contrario, eu o beijei de volta. Não conseguia pensar em nada, só me deixei levar por aquele momento. Eu comecei a desejar mais daquele beijo. E num instante já estávamos beijando de língua. Foi quando empurrei ele. E logo voltei ao meu lugar. E ele também. A reação dos demais era uma mistura de risadas, piadas, incredulidade e outros aplaudindo a coragem. Eu respondia com um sorriso tímido. A Andreia exaltada, querendo saber de tudo que passou na minha cabeça e eu respondia por cima.

- Como foi?
- Estranho.
- O que sentiu?
- Uma boca ué.
- Não isso, quero saber como se sentiu?
- Sei lá - olhei por volta da sala, meus olhos e os dele se cruzaram e quando isso aconteceu, fiquei embaraçado e desviei o olhar.

- Vai me conta os detalhes.
- Caraca, só foi um beijo.

A minha mente estava uma bagunça. Não sabia o que responder. Eu só queria entender o que aconteceu. "Por que ele avançou tanto?", "Por que retribui o beijo?", "Por que evoluiu para um beijo de língua?", "Por que eu tive uma ereção?" e "Por que ele também teve uma ereção?". Perguntas que precisavam de respontas....

・・・

Acordo com minha mãe batendo na porta, gritando que minha carona para aula já chegou. Eu devolvo dizendo que já estou indo. Vou até a janela e faço um sinal para o Henrique que espera no carro. Me visto as pressas, meio zonzo por não dormir direito. E saio para a aula. Onde fica sempre tudo pior.

Aquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora