O Susto

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Estávamos na hora do almoço Andreia, Lucas e eu. E novamente aquele desconforto me assolava, embora que desta vez mais apaziguado, talvez por Andreia estar ao meu lado e pela noite passada incrível. Eu estava conseguindo de maneira bem eficiente em manter um diálogo com Lucas que não fosse apenas respostas rápidas e diretas. Agora, por estar mais calmo, olhando para Lucas notei algo errado. Algo estava diferente, mas não conseguia dizer com precisão o que era. Andreia como de costume era quem fazia a conversa andar. Lucas terminou primeiro e foi para aula. Como ficamos sozinhos a Andreia olhou séria para mim, que cheguei a ficar com muito medo. "Será que fiz algo errado agora?" - pensei.

- O que você fez? - indagou fortemente.

- O que? - eu não sabia o porquê da indagação, levei até um certo susto pois estava pensando o que tinha de errado no Lucas - Como assim?

- O Lucas está agindo estranho, não notou?

- Eu notei algo diferente, mas não consegui decifrar o que era. Mas por que está me culpando? - eu fiquei até meio furioso a culpa tenha sido jogada nas minhas costas.

- Vocês não discutiram? Tu não falou nada desagradável para ele nos teus acessos de raiva? - claramente o sangue ferveu por causa da acusação.

- Claro que não. Faz tempo que ele e eu não passamos um tempo juntos. Como eu poderia fazer algo. - falei mais rispidamente do que esperava.

- Algo aconteceu, e é com você. - ela diminuiu o tom da inquisição notando que ela estava também exaltada e que tinha colocado em más palavras.

- Por que acha isso?

- Porque ele não estava olhando em seus olhos enquanto vocês conversavam.

Aquilo me provocou um estalo. Lucas sempre, não importava quem mesmo se fosse uma pessoa que não gostava, olhava as pessoas nos olhos enquanto conversava. Lucas por mais quieto que fosse, como eu, ele era um comunicador nato e uma de suas sagacidades era o olhar terno direto no olho com um talento para adaptar a conversa a seu favor. Eu brincava com ele que isso me assustava.

Bem, Andreia foi para a aula também e eu fui para casa pois não tinha aula à tarde. Chegando em casa, como sempre, arrumei algumas coisa. A cozinha sempre ficava uma completa bagunça, parecia que minha irmã fazia de propósito só porque era minha vez de limpar. O resto da casa era só dar uma recauchutada, o que tudo não levava mais que uma hora para arrumar as coisas. E logo depois ia para meu quarto e lá ficava completamente absorto com meu canal, que podia levar horas a fio entretido gravando vídeos, editando, vendo estatísticas e pensando em mais conteúdo. Embora o canal fosse pequeno, já rendia uns trocados bons. Mas eu tinha que trabalhar por fora para manter a faculdade, e recentemente consegui um cliente fiel, uma produtora de eventos, meu trabalho com eles era em si gravar os eventos e editar o material. E sem brincadeira, esse trabalho era mais difícil do que os que fazia no canal. Eram geralmente eventos de no mínimo 3h de duração, quando os clientes da produtora não escolhiam o pacote completo da gravação, que era acompanhar a rotina desses clientes no dia do evento, o que quadruplica o material bruto. Mas a remuneração era muito boa e a produtora tinha seus próprios equipamentos, assim não precisava levar os meus. Isso também ajudou meu canal, afinal tive que aprender na marra a usar aquelas câmeras e microfones deles, além da edição que era diferente do que geralmente se faz nos vídeos para internet. Já fazia algumas hora estava completamente focado no trabalho quando o celular começa a tocar, me trazendo de volta para a terra. Era Lucas, de primeira eu estranhei e atendi com cautela.

- Fala Lucas, o cê manda?!

- Fernando, tudo certo para mais tarde?

- Desculpe, o que?

- A gente marcou de ver aquele anime juntos hoje a noite. Tudo certo?

- Bá cara, tinha esquecido, mas vou sim.

- Beleza, e se lembra do que você ficou de trazer? - disse num tom irônico e deu uma risada.

- Bem...

- Tu ficou de trazer aquele aquele álbum do ensino médio.

- Ah! Sim, sim. Levarei.

- Então até mais.

- Até.

Bem, conferi a hora e me surpreendi que já eram dezenove horas e meia. Por isso ele me ligou, eu já devia estar lá. Bem, começo a procurar o tal álbum, me perguntando o porquê ele quer ver. Demoro um pouco para achar, e assim que acho vou para o banho. Meia hora depois estou em frente a porta da casa dele. Parado. Sem nenhuma coragem de apertar a campainha. Eu não sei quanto tempo fiquei encarando aquela porta. Mas foi o suficiente para que ele tenha me visto ali fora parado e vir abrir a porta. Perguntou o porquê de estar parado. Eu não sabia o que responder ai inventei algo na hora, como "pensando se não me esqueci de nada".

Entregando o álbum, o questionei do porquê ele o queria. Ele de repente ficou meio corado e sem jeito de um modo que nunca tinha visto antes, notei que desconversou dizendo que tinha apenas dado saudade dos colegas. Achei estranho, mas evitei perguntar mais. Afinal, eu não era a melhor pessoa para isso, visto que eu estava bem confuso comigo mesmo.

Eu não consegui prestar muita atenção no anime. Estava tenso na cama de Lucas e ele ao meu lado, se divertindo, comentando sobre. Tentei ao máximo agir naturalmente. Mas acho que não estava sendo convincente, pois ele estava de certo modo incomodado também. E com isso me senti mais para baixo. Queria que aquela noite nunca tivesse acontecido. Geralmente passo a noite ali, mas desta vez tentei fugir para casa com alguma desculpa o que não adiantou muito. De fata, Lucas estava estranho. Parecia que estava em conflito com algo, e era comigo. Tentava se manter distante, mas não queria se afastar. Eu não sei o que era e principalmente o que eu tinha feito para que ele se sentisse assim. Mas eu não queria perguntar, para dizer a verdade eu não tinha coragem de perguntar pois se fosse por algo que fiz ou como tenho agido eu não queria fazer sobre. Então achei melhor não tocar no assunto.

No meio da madrugada acordo tendo que ir ao banheiro. Na volta para o quarto passo pela cozinha para tomar uma água. Tomando água fico olhando para as fotos ali. Algumas de seus pais, outras com os amigos e outras apenas comigo. Olhei mais atentamente uma que os pais dele tinham tirado de nós dois, Lucas me puxando pela mão correndo para irmos ao parque. Um registro que me deixou com um gosto amargo na boca, pois alguns dias depois os pais dele sofreriam um acidente de carro e ele nunca mais segurou minha mão. Voltando para a cama, observei ele dormindo ao lado. Passei a mão no cabelo dele, afaguei o rosto dele com todo cuidado para ele não acordar. Foi então que eu me surpreendi quando vi lagrimas no rosto dele dizendo: não me deixe sozinho Fernando. Eu me assustei e me afastei imediatamente, ele estava ainda dormindo. Eu não sabia com o que ele estava sonhando e isso me incomodou muito. Na minha confusão eu peguei minhas coisas e fui embora.

Aquele BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora