AGORA
Arya Stark costumava não gostar de bailes quando era mais nova, e muito menos gostava de se arrumar para esses eventos. Depois de adulta algumas coisas mudaram, e mesmo que agora achasse um pouco de graça nisso, odiava sentir-se presa ao espartilho do vestido. No entanto era uma ocasião tão especial que resolveu atender ao desejo de sua irmã. O noivado de Sansa com o herdeiro Baratheon durava já por três dias, e finalmente chegara a noite do anúncio.
Após o discurso do Senhor de Ponta Tempestade, todos fizeram brindes e parabenizaram o futuro casal. Apenas por sua irmã Arya pintava nos lábios um sorriso quase verdadeiro.
— Certo, Certo! Mas agora, todo mundo, batam palmas para a irmã e dama de companhia, Arya Stark!
Aquele era o barulhento Podrick Payne, o melhor amigo do noivo. Batendo com a colher em uma taça de ferro fundido ele não obteve a atenção que precisava, então já alterado pelo álcool preferiu usar a voz.
Arya levantou sorrindo um tanto sem graça quando os outros amigos do noivo bateram palma e assobiaram para anunciar seu discurso. Bem, na verdade ela não tinha um discurso.
— Um brinde ao noivo! — Ele ergueu a taça quase vazia de vinho doce e foi acompanhada.
— Ao noivo! — Repetiram em uníssono.
— À noiva! — Seu sorriso dessa vez era largo e sincero, olhando apenas para Sansa. Todos mais uma vez repetiram alto sua palavra. — De sua irmã, que sempre estará ao seu lado. À união e à esperança de que prosperem! Que vocês sempre estejam… — O sorriso de Arya não se fechou, mas seu coração apertou um pouco dentro do peito no instante que os brilhantes olhos de Gendry, o noivo, encontraram os seus. — Satisfeitos.
MESES ATRÁS
O clima nas Terras da Tempestade era muito mais úmido e quente que em Winterfell. Por dentro das calças de montaria e do grosso gibão de couro, Arya Stark sentia o suor escorrer em seu corpo como nunca acontecia em sua casa. O céu estava cinza, mas ela podia sentir no rosto o mormaço do sol coberto por nuvens. Sobre o calmo trote do cavalo preto que cavalgava, a nortenha se tornava cada vez mais impaciente. Ao seu lado estava o senhor seu pai, Ned Stark, e na carruagem logo atrás vinham sua mãe, Sansa, Bran e Rickon. Robb estava responsável pelo Norte durante a ausência do pai, e também não deixaria, Talisa, sua mulher grávida sozinha para participar de comemorações. A ele fazia companhia Theon, protegido dos Stark e praticamente membro da família. Arya desejou que Jon pudesse estar ali no calor do sul para ver aquele lugar diferente, mas infelizmente ele estava no frio da Muralha, sendo um irmão da Patrulha.
Seu pai deixou que seu cavalo branco e robusto diminuísse os trotes e parou ao lado de Arya, a lançando um olhar compreensivo.
— Se você prometer pra mim que não vai sumir e não vai deixar sua mãe nervosa, pode ir na frente sozinha e conhecer o lugar novo como gosta.
Arya sorriu animada, ergueu o dorso o máximo que pôde e deu um rápido beijo no rosto de seu pai, voltando a sentar de segurar firme as rédeas, partindo com o cavalo e deixado toda a comitiva para trás. A trança feita no cabelo escuro se desfazia aos poucos enquanto cavalgava contra o vento.
— Yah!
A Stark mais nova não era mais uma criança, era agora moça feita, com idade para ser a lady de qualquer rapaz de sorte e de bom nascimento. Mas Arya queria apenas ser livre, queria poder vestir calças e andar a cavalo enquanto uma tempestade se formava. Se um dia encontrasse um parceiro e não uma proprietário, então se casaria. Do contrário viveria em Winterfell entre seus familiares amados.
Comandando o cavalo a ir cada vez mais rápido, ela já não sabia onde estava e parecia não se importar. Queria tentar chegar às costa e ver se contas quebrando contra as pedras, descobrir se eram tão violentas quanto diziam ser — o suficiente para arrastar para o fundo do oceano uma fortaleza e seu senhor, no passado.
O céu se fechou cada vez mais e um vento forte soprou jogando seu cabelo com tudo para trás. Arya agora podia avistar o mar, mas não conseguiu se aproximar mais quando o cavalo se assustou com o trovão que estremeceu o chão. Um raio cortou o céu, partindo de uma pesada nuvem até se encontrar com as águas azuis no horizonte. O animal relinchou e se empinou, correndo em outra direção, assustado, não obedecendo aos comandos da jovem.
Arya montava desde criança, mesmo que sua mãe a proibisse, mas pela primeira vez se viu sem saber o que fazer enquanto o cavalo corria disparado sem controle. Vendo que iam em direção a árvores, ela se soltou das rédeas e das esporas, pulando para o lado, rolando pelo chão logo após a queda consideravelmente alta. Apoiou as mãos na grama quando parou e ergueu o rosto ainda ofegante.
Quando pensava em levantar, um passou por ela correndo indo até o cavalo sem ter medo algum. Alcançou o animal somente quando ele parou preso a uma árvore, puxando a rédea que estava enrolada no galho enquanto relinchava. Arya cogitou ser algum dos homens de seu pai já procurando por ela, mas quando o viu voltar percebeu que não poderia ser.
Vestia apenas calças largas num tom escuro de marrom e uma camisa de tecido branco, meio aberta e meio fechada. Seu cabelo era negro e se bagunçava conforme o vento soprava. Apoiando-se nos joelhos a garota levantou sozinha, não gastando seu tempo nas roupas agora sujas de terra.
— Se machucou, milady? — Ele havia rapidamente acalmado o cavalo que agora trazia consigo.
Arya se encontrou ofegante de novo, mas dessa vez não pela queda do cavalo. Ela estudou o rosto novo que agora via e queria poder ficar ali o conhecendo por mais algum tempo antes de precisar falar.
— Não — Respondeu simplesmente.
— Oi. Como se chama, milady?
Ela ainda era capaz de lembrar seu nome? Precisou vasculhar a mente atrás de lembranças rápidas para que seu próprio nome fosse dito em voz alta
— Arya. E não sou nenhuma lady.
— Pelo jeito que monta o cavalo eu diria que é, sim, uma. — Seus olhos sorriram junto aos lábios.
— Ele só se assustou, isso nunca aconteceu antes. — Arya suspirou e se aproximou fazendo carinho no pescoço do animal, segurando a rédea firme para não perdê-lo. — Eu monto muito bem. Não tenho culpa se do nada uma tempestade se formou!
— Bom, seja bem vinda a Ponta Tempestade. Deve ser de fora, se fosse daqui saberia que a qualquer momento pode começar a chover e trovejar — Seus olhos eram tão azuis quanto o mar e davam a Stark a sensação de selvageria que esperava ver nas águas turbulentas.
Ele tinha uma beleza forte, bruta, e Arya não conseguia desviar o olhar mesmo que tentasse.
— Você vive aqui?
Ele concordou com a cabeça e continuou, caminhando em direção à fortaleza.
— No castelo. Ou pelo menos perto dele. — Sorriu mais uma vez, apenas com os cantos dos lábios.
— Trabalha para os Baratheon?
— Eu preciso voltar, milady. Deixei minhas roupas na beira da praia quando vi você perdendo o controle do cavalo.
— É Arya.
— Consegue levar ele até os estábulos? Se for rápido talvez não pegue a chuva. — Ele parou os passos e se permitiu correr o olhar pelo corpo dela, voltando aos olhos cinzentos da nortenha.
— Eu consigo.
— Tome cuidado, milady. Nos vemos depois — Ele piscou um olho, sorriu e se virou, voltando apressado para a praia, não permitindo mais perguntas.
Quando Arya pisou dentro do castelo, a chuva caiu dos céus sem mais anúncios.
i'll never forget the first time i saw your face
i have never been the same
intelligent eyes in a hunger-pang frame
and when you said "hi", i forgot my dang name
set my heart aflame, ev'ry part aflame
VOCÊ ESTÁ LENDO
Satisfied | Gendrya
FanfictionArya Stark nunca pensou em se apaixonar por alguém tão rápido em sua vida, mas isso muda drasticamente ao conhecer Gendry. O único problema é quando sua amada irmã Sansa também se encanta por ele, e Arya decide quebrar seu próprio coração no lugar d...