— A-Ahaha, n-não precisa se preocupar, senhor! – gaguejei. O soldado se aproximou do beco onde eu estava, saindo da multidão.
— Está sozinha para levar tudo isso, não vejo problema em carregar algumas cestas.
Droga!
— Gentileza sua, mas n-não estou sozinha, não precisa se preocupar – ele havia me seguido. Como havia pensado, a Patrulha não era nem um pouco inocente, acabei me arriscando demais. O soldado nem mesmo se mexeu, provando que não seria tão simples dispistá-lo. — Senhor? Algum problema?
— Só estava pensando que galgarianos são bastante gananciosos e não muito inteligentes, apesar de serem muito... sensíveis. – ele saiu de sua posição de guarda, deixando sua arma de lado enquanto encostava na parede ao meu lado. Eu não mexia um músculo sequer. — Ele acusou você de bruxaria, não acusou?
— Já são águas passadas, senhor – falei o mais calma que conseguia, virando-me para o mesmo, sorrindo. — Só espero que não aconteça novamente com outros humanos, e isso é tudo.
Apesar da minha experiência carismática, não parecia que ele estava caindo na minha história contudo, já estava começando a suar um pouco.
— Ah! Aí está você Trí- – Luka apareceu do nada, mas seu sorriso morreu ao ver minha companhia — ...Triiiivago. Mamãe Trivago! Eu tava te procurando por todo lugar, pensei que ia me ligar pra avisar quando fôssemos! – ela correu e se agarrou em meu manto, olhando para o soldado ao meu lado.
— Ah, querida, o soldado veio conversar com a mamãe, por isso demorei um pouco mais – falei suavemente, fazendo carinho em seus cachinhos curtos, da forma mais natural que conseguia.
— … Certo. – por fim, o soldado afastou-se da parede, voltando à posição anterior e curvando seu corpo respeitosamente à nossa frente. — Não esqueça, se precisar de ajuda, basta acenar.
Por fim, se foi, erguendo um dos braços para o lado do beco onde estávamos.
— Está dispensando outros guardas – sussurrou Luka me fazendo soltar o ar que estava preso na minha garganta. Ela riu divertida, me olhando. — E foi você quem tinha dito pra não chamar atenção.
Respirei fundo, batendo meu manto. Seria muito fácil derrubar aquele simples soldado, mas o rastro de magia ancestral é muito forte. Por isso costumo evitar usar quando vou sair para não ser rastreada.
Porém mesmo tendo cautela, é perigoso demais.
— Aaah, finalmente! – minha amiga novamente empenada jogou-se no carpete assim que chegamos em casa, fazendo movimentos de "boneco de neve". Pra quem queria tanto sair, ela parecia bem mais confortável em casa. — Foi divertido, queria sair assim mais vezes.
— O que esteve fazendo? Demorou pra aparecer quando te chamei da primeira vez – perguntei enquanto abria a dispensa e colocava tudo arrumadinho em seu devido lugar. Ouvi um ronronado atrás de mim.
— Comi uns dois buplanos e corri muito muito – me virei a encarando, reprovando totalmente o que acabara de dizer. — O quê? Eles estavam perdidos da mãe deles mesmo.
— Luka! – bati com a colher de pau em sua cabeça que deu um grunhido torto de dor. — Quantas vezes vou ter que te dizer pra não comer nenhum ser vivo que eu mesma não te sirva!? – a criaturinha gemeu parecendo entediada com sua barriga enorme. Bufei, voltando a arrumar meu estoque.
Eu estava preocupava.
Fui condenada a vagar pelo espaço a muitos anos e, apesar da minha pena ter sido de morte caso fosse localizada em qualquer planeta que fosse, nunca pareceram se importar realmente comigo, até esse dia.
— Gostaríamos de vasculhar sua casa, senhorita. – uniformes e armas da patrulha na porta da minha casa. Eu os encarava surpresa por terem batido na porta como pessoas civilizadas. — Não se preocupe, é um protocolo de rotina.
— Vocês nunca vieram confirmar se eu estava aqui ou não – rebati ainda um tanto confusa, deixando-os entrar calmamente. — O que vocês querem de verdade?
Um dos dois, após pedir para eu fechar a porta, retirou seu capacete, pondo embaixo do braço.
— Trívia De Mortimus, você está sendo convocada pela Congregação da P.A para uma reunião.
Pisquei algumas vezes, o encarando. Congreg-...? Tipo um conven? De bruxas? Nas Patrulhas Armadas?
— Desde quando…? – o soldado entregou-me então uma foto, me fazendo deviar o olhar.
— Estamos rastreando você já faz algum tempo a mando dos superiores e, finalmente te achamos neste quadrante distante. – Na foto, mostrava o momento que eu havia pisado em Chiaki 12 juntamente com a Luka, antes de mudar sua aparência. O guarda riu. – Não querendo ser rude, mas você parece ter perdido o jeito de se esconder da patrulha, senhorita De Mortimus.
— Você é aquele soldado de Chiaki 12 – cruzei os braços enquanto Luka saía de seu esconderijo, esfregando-se à minha perna. Ri derrotada. — Eu deveria ter caprichado mais no meu disfarce antes de sair.
Na época em que eu havia sido condenada, a tecnologia em mão dos humanos não era tão avançada como agora. Devem possuir um bom rastreador de magia ancestral nos dias de hoje.
Por fim, eu não tinha muito escolha, havia sido descoberta.
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Trívia
FantasyE se você fosse uma antiga bruxa confinada no espaço, com apenas uma gata coruja como companhia, impedida de pisar em qualquer planeta pela maior força tarefa do universo? Bem, essa é minha história. - - •PLÁGIO É CRIME 2020 Copyright © LuciaMariane