Capítulo III

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Depois de nos escoltarem até sua nave, estávamos em caminho do destino desconhecido.

— Em quanto tempo chegamos? – já estava ficando entediada e, claro, a ideia de que eu estava obedientemente indo em direção à minha execução a cada minuto que se  passava não parava de martelar na minha cabeça. Um soldado com uma insígnia prateada em formato de uma asa sentou-se de frente pra mim com os braços cruzados. — Pretende me responder?

— Se tentar alguma gracinha, explodo sua cabeça– disse simplesmente, me olhando. Bufei. Ele parecia estar se divertindo — Pode me chamar de Ed. É um prazer e uma honra estar sentado de frente a grande Trívia De Mortimus.

Ele estendeu a mão, apesar de ainda estar tentando ser ameaçador.

— E é assim que trata seus ídolos? – perguntei, sorrindo de lado sendo sordidamente acompanhada por ele que recolheu seu cumprimento de volta, parecendo ter desistido. — Fala sério e diz que você inventou essa tal de Congregação e que na verdade está me levando pra morte certa, general Edmond.

— Você é boa – ouvi um sussurro do guarda ao meu lado, atraindo olhos incrédulos do bigodudo à minha frente.

— Só chutei, seu medroso – ri levemente. Ele apertou as mãos que estavam sobre a mesa parecendo agora nervoso. — Você tem cara de Edmond.

Apesar de tudo, essa viagem poderia até ser divertida.

— Tem certeza que vão me deixar sem algemas ou coisa parecida? – estava sendo guiada até meu "novo quarto", mas conhecido como cela. Estava carregando lençóis nos braços. — Eu mordo, sabia?

— O general já te deu o aviso, não deu? – mais uma vez eu estava na presença daquele guarda de Chiaki 12, me escoltando. — A nave é equipada com sensores potentes de magia ancestral, senhorita bruxa. – O olhei de lado e ele pareceu notar. — Que é? Me achou bonito?

— ...Talvez? Uma velha bruxa não pode ter seus momentos? – sentei na cama da minha cela, cruzando as pernas. Sorri ao vê-lo engolir sua saliva tentando ser discreto. — De todo jeito, não vou ter muito que fazer até chegarmos ao nosso destino, pelo visto. Se quiser vir me visitar pra… conversarmos, vou estar aqui, como já pode imaginar.

Ouvimos ele ser chamado pelo seu número de série, travando a porta de contenção imediatamente e se distanciando da pequena janela triangular transparente no meio da porta.
Acenei devagar sorrindo, me deitando logo em seguida.

Sabia que você faria
o que era preciso.


Levantei com os olhos arregalados, respirando com dificuldade, eu estava sufocando. O ar estava rarefeito e agonizante para qualquer ser vivo; o quarto estava turvo, as luzes piscavam em vermelho, um som insistente ecoava por toda a extensão de onde estava.
Ouvi grunhidos abafados pela minha cabeça, como se alguém me chamasse, pude ver a porta de contenção se abrindo, vendo o guarda de antes, agora assustado com algo que via. Eu não sabia o que era, estava tremendo, o calor me fazia tremer, suar. O vi tentar se aproximar, segurar meus ombros e me sacudir, mas eu não conseguia respirar, o ambiente estava totalmente estonteante, sentia meus olhos revirarem, ele me sacudia com força.

Estava perdendo a consciência.

Só então finalmente puxei o oxigênio com força, engasgando-me de imediato e tossindo, misturando tudo às lágrimas e gritos. Eu estava viva na verdade.

— Ah, parece ter voltado – ouvia vozes com clareza agora, porém eram diferentes. Olhei ao redor desesperada e finalmente entendera o que tinha acontecido. — Consegue falar, bruxa?

Meu amigo soldado estava caído contra a parede do outro lado do quarto, suas pernas pareciam muito quebradas e ele estava inconsciente. A minha frente, outros cinco soldados com seus capacetes e armas engatilhadas.
Deslizei as mãos no pescoço lembrando da sensação de sufocamento, às lágrimas rolavam dessa vez calmas junto aos soluços. Nunca havia sentido algo assim em meus anos de vida, uma sensação tão vil e agonizante, eu estava inconsciente e era um perigo para qualquer um ao meu redor. Apesar de já saber disso a muito tempo, fazia muito tempo que não provava isso para mim mesma.
O soldado de antes veio a minha mente, me fazendo lembrar do que eu provavelmente tinha feito.

— A-Ah, eu ajudo…!

Não havia mais ninguém lá.

Voltei a sentar-me com a sensação de que algo com certeza não estava certo.

Algum tempo se passou e eu estava sentada, encolhida. Não podia dormir e havia perdido mais uma vez a noção do tempo.
A porta de minha cela então deslizou para o lado, me fazendo levantar assustada.

— Chegamos, aberração. – um soldado apareceu já parecendo pronto para o desembarque, quero dizer, totalmente armado e de capacete. — Não preciso te amarrar, preciso?

— Faça um favor e não fale comigo – grunhi, passando por ele e sendo seguida logo depois.
Um corredor de soldados me esperava na hangar de saída da nave, tendo no fim o general bigodes de antes, em sua posição inquebrável com as mãos para trás. Caminhei até sua frente, ele me olhava com o mesmo sorriso de desprezo da última vez e eu o ignorei. — Perdeu algo na minha cara, senhor Edmond?

— Você está só o pó, bruxa. Não são vocês que zelam tanto pela aparência feminina para atrair homens inocentes para suas teias? – disse baixo enquanto pegava o que parecia ser um comunicador que um soldado lhe trouxe. O olhei de baixo, não estava com o humor certo para brincadeiras.

— Vamos ver quem vai estar só o pó, humano desprezível — dei um sorriso amigável – que pelo meu estado atual, devia ter sido tenebroso –, vendo os soldados ao redor destravarem suas armas e ele erguer sua mão, os parando.

— Mil perdões, senhorita – proferiu, erguendo-se a minha frente, apesar de claramente estar debochando de minha ameaça. — Não vamos mais incomodá-la, então pode ficar tranquila.

Apertou então um botão no comunicador que revelou ser um reprodutor holográfico, mostrando um rosto que me fez paralisar.

Saudações, pequena Trívia De Mortimus. Aqui quem fala é a atual general superior da Congregação  Espero que a viagem tenha sido no mínimo confortável, apesar de você parecer horrível.

— A quanto tempo... Caríbides.



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⏰ Última atualização: Jan 21, 2020 ⏰

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