Reencontro

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Duda

Poucas vezes na vida tinha acordado com a sensação daquela manhã, não sabia explicar se era boa ou ruim, só sabia que estava ali.

Era uma manhã aparentemente calma. Ocupei o meu tempo resolvendo algumas coisas na cidade, até que um trovão me chama a atenção, as horas estavam passando e uma chuva forte se aproximando. Me lembro de tirar as chaves do meu bolso e o capacete -que eu sei que por mais errado que seja- não saía do meu braço.

Eu pilotei naquela manhã com a sensação de liberdade que à tempos não sentia, começou a chuva forte e alguma coisa me fez parar antes de chegar em casa, talvez fosse o cheirinho de café da cafeteria mais famosa dali, ou então algumas crianças que brincavam ali com a sua mãe. Só sei que parei a poucas quadras de casa, na primeira vaga que vi. Eu tava molhada e resolvi ficar, e, por algum motivo, ao entrar ali senti minha pele arrepiar. Sentei em frente ao balcão sentindo um olhar sobre mim, então uma moça se aproximou e pediu a conta.

Aquela simples frase mudaria o rumo de tudo. Me virei e foi o suficiente pra ver ela engolindo em seco, quem diria que tudo só estava começando de novo, não é mesmo?

— Mariana? Quem é vivo sempre aparece. — A olhei, sorrindo irônica.

Eu tinha tanto pra dizer, e por um momento um filme inteiro passou pela minha cabeça, vê-la ali na minha frente fez o meu coração balançar.

— Pois é, coisa ruim não morre cedo. E você? Achei que nesta altura já estaria presa. — Brincou. Olha só! Alguém parece que aprendeu a arte da irônia também.

Ela me parecia tão real e mesmo assim eu não conseguia acreditar que ela estava aqui. Afinal, por quê ela estava aqui?

— Claro que não. Eu respondo em liberdade agora, advogados bons, sabe. — Era difícil pensar no que falar quando agora o que eu mais queria, era admirá-la.

— Sei. — Disse baixo.

Silêncio.

Não sei por quanto tempo ficamos nos olhando, se foram segundos ou minutos, eu realmente não ligava.
Eu apenas a olhei, nós nunca fomos muito boas com palavras, e nem precisávamos. Só aquele olhar, já era o suficiente pra mim.

Ela me disse algo que eu não consegui escutar, eu não sabia o que estava acontecendo, mas parecia que eu tinha voltado para os tempos de adolescente. Eu só conseguia a olhar e admirar. Passaram-se minutos e nem uma palavra ali tinha sido dita, mas eu não me cansava de olhar pra ela, a mesma me parecia tão diferente e ao mesmo tempo tão igual, e eu sabia que mesmo se eu nunca mais a visse já teria valido a pena. Mas ela sabe como eu sou, eu não a deixaria sair por aquela porta de novo sem ao menos ficar sabendo o que tinha trazido ela até aqui.

— Então, eu sei que você tem perguntas pra me fazer... E eu tenho respostas pra te dar. — Ela desviou os olhos por um momento. — Jantar na sexta?

Senti as malditas vibrações e aquele calafrio de novo, mas como sempre, eu tinha que dar um jeito de esconder isso, fazia parte de mim e nada melhor do que minhas ironias pra ajudar.

— Eu estava mesmo pensando em comer na sexta, marcado. — Não me dei por vencida e ela revirou os olhos sorrindo.

— Tudo bem. Marcado. — Ela puxou o celular que estava na minha mão e adicionou seu número.

Me aproximei mais na tentativa de dar um abraço e sentir mais dela.

Travei.

— Então, tchau. — Sorriu pela última vez, deixando o dinheiro no balcão antes.

Eu me despedi e vi ela saindo pela porta, mas dessa vez sem aquela sensação de que eu nunca mais a veria.

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