Mariana
Ela estava linda. Tão surreal. Tão ela. Seus cabelos haviam mudado, e seu estilo continuava o mesmo, ela era perfeitamente imperfeita.
— A gente vai esperar a comida ou vamos começar com as explicações? — Ela não me parecia impaciente, mas sim, ansiosa.
Eu não sabia por onde começar. Parece que foi ontem, mas faz tanto tempo. Ela mudou, amadureceu. Se fosse naquele tempo, uma hora dessa já havia me matado por ficar tanto tempo calada.
— Vamos esperar a comida, por que a pressa? Temos tempo. Afinal, já se foram dez anos. — Sorriu de lado.
Eu queria falar tudo pra ela, tudo o que ela tinha vontade de saber e tudo o que ela não tinha vontade. Eu queria dizer o tanto que sentia e como estar ali tava mexendo com cada órgão do meu corpo, transformando tudo em uma bagunça só. Eu tinha tanto pra dizer, mas ao mesmo tempo, parecia que só olhar pra ela já lhe dava a resposta de todas as perguntas.
[...]
A comida chegou e nós comemos em silêncio, mas não era um silêncio constrangedor. Era reconfortante ter ela ali, comigo, mesmo que seja calada. Mas, ela merecia explicações.
— Okay. Eu falo, você escuta, apenas. — Chamei sua atenção e logo perdi a minha ao me encontrar naqueles olhos desafiadores com aquela sombrancelha arqueada. — Havia chegado uma carta daquela Universidade que eu sempre quis ir, lembra? Eu não tive coragem de te contar. E você sabe, eu sempre coloquei os meus objetivos, como os estudos, à cima de tudo. E não me arrependo disso. Não me arrependo de ter corrido atrás do que eu queria, de ir atrás de conquistar as coisas que eu tinha vontade. — Por um segundo eu vi decepção passar sobre o seu olhar, e aquilo partiu o meu coração. — Mas o meu maior arrependimento nessa vida foi ter deixado você. Foi ter sido covarde e não ter coragem de falar frente-à-frente contigo, de apenas ter ido embora sem avisar. Eu não queria ver você chorar, meu Deus, como eu não queria! Eu achei que fosse bem melhor eu ir embora, sem despedida, sem dor... E eu não podia estar mais errada. Eu nunca esqueci você. Nunca. Nem por um segundo. Quando eu fechava os olhos, eu via o teu sorriso. Quando eu me deitava pra dormir, escutava o som da sua risada. Aquilo era uma tortura pra mim. Saber que fui eu quem causei a perda de tudo, me dói. — E trouxa do jeito que sou, já estava chorando. — Me desculpa. Por tudo isso. — Enxuguei os olhos e a olhei, sem saber decifrar sua expressão. — Eu sabia exatamente o que falar, mas agora parece que as palavras se perderam. Então eu vou responder as suas dúvidas. — Enxuguei os olhos e a olhei, sem saber decifrar sua expressão.
Duda
Ela me disse tanta coisa... Eu não sabia se era tudo o que eu queria ouvir ou não. Eu esperei tantos e tantos anos por aquele momento que depois de um tempo eu achei que ele nunca chegaria, mas chegou, e ela estava ali, na minha frente dizendo que sentiu minha falta, dizendo que ao contrário do que eu tanto pensei, eu fui e sou importante. Eu queria me declarar pra ela, queria dizer que nunca a esqueci, queria que tudo entre nós voltasse a ser bom e colorido como há dez anos atrás, mas não podia ser assim, eu não podia deixar que fosse.
— Você nunca pensou em voltar pra me dizer a verdade? Pra se despedir direito? Pra pelo menos, não me deixar pensando que a culpa era minha por você ter partido? — Não queria ser dura com ela, de jeito nenhum. Mas eu tinha que saber de tudo, por mais que as perguntas fossem bobas.
Eu não aguentava vê-la chorar, mas ao mesmo tempo eu sabia que algumas coisas precisavam ser esclarecidas ali, agora.
— Eu pensei desde o momento em que pisei no aeroporto até o momento em que pisei de volta nessa cidade em voltar e te explicar tudo. Mas eu não podia, não até conseguir conquistar tudo o que sempre quis. Eu não queria me despedir de você, eu sabia que se fizesse isso, não ia embora. E eu tinha que ir. — Eu sei que as palavras dela são reais, ela nunca soube mentir, os olhos dela não deixavam. Mas, dói. Dói, mesmo depois de tantos anos.