Mariana
O cheiro de cafeína me levou até o outro lado da rua, eu realmente precisava acordar um pouco.
— Primeira vez por aqui? — Perguntou o atendente por trás do balcão, sorrindo simpático.
— Ah, sim! Dá pra notar? — Respondi.
— Costume. Percebi como você está capturando os detalhes do lugar. — Observou. — Seu café. — Me entregou a xícara com um pedaço do paraíso.
— Obrigada. — Sorri agradecida.Peguei o meu café e caminhei para a mesa no canto do espaço. Me sentei e olhei para o vidro, tendo a visão da rua onde crianças brincavam com a sua mãe, o que me fez sorrir. Havia acabado a faculdade de Direito, consegui emprego, me estabilizei e agora poderia relaxar mais, então resolvi me mudar de volta para a minha cidade natal.
O que eu poderia querer mais da vida? Conquistei tudo o que sempre desejei, mesmo que tenha sido muito difícil colocar os meus objetivos à cima de qualquer coisa.
Agora, eu posso viver. Só viver. Sem medo do futuro, sem medo de absolutamente nada.Não me falta quase nada.
Paixões? Amor? Realmente, nunca tive muita sorte quanto à esses assuntos. Foram decisões que eu tive que tomar, escolhas difíceis, caminhos diferentes. Caminhos precisos.
De repente o céu se torna nublado e começa a chover, fazendo com que o cenário ficasse ainda mais melancólico, e as pessoas na rua começassem a correr.
Dei uma checada no celular e escutei o sino da porta da loja tocar, com provavelmente pessoas fugindo da chuva. Ah, chuva! Eu a amo, nunca tive medo de me molhar, era um dos poucos momentos que me proporcionavam sensação de liberdade. Sorri ao lembrar de alguém que dizia que dias de sol com certeza eram os melhores.
Ao olhar ao redor da cafeteria, meus olhos batem com as costas de alguém sentada em frente ao balcão, fazendo com que meus olhos se fixem em sua jaqueta de couro com detalhes vermelhos, seguindo para os seus cabelos curtos e coloridos, o que me chama a atenção.
Aquilo me lembrava alguém.
Me levanto para ir pagar a conta e a dona da jaqueta chamativa se vira, fazendo com que minha garganta ficasse seca e meus olhos lacrimejassem ao sentir aqueles olhos sobre mim.
— Olá. — E ela sorriu de lado, nem sequer piscando.
E, mais uma vez, aquele sorriso de lado fez fazer barulho no meu coração.