CAPÍTULO III

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APÓS A missa das duas os habitantes de Sundale reuniram-se na Praça da Piedade

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APÓS A missa das duas os habitantes de Sundale reuniram-se na Praça da Piedade. Diz a lenda que a antiga praça foi a primeira construção da cidade e que as casas começaram a rodear-la aos poucos; a mesma lenda também prega que a praça foi construída por um padre pecador como uma forma de implorar o perdão de Deus por seus pecados e que, a partir do dia de sua construção, Sundale passou a ser banhada pelo sol.

Claro, toda esta história não se passa de uma lenda popular, um mito, como quiserem chamar; contudo ela costumava servir muito bem ao seu propósito: sempre manteve a fé de todos que por ela peregrinaram intacta.

Padre Bichop costumava acreditar que a lenda tratava-se de um fato que fora transmutado pelo passar dos anos; conforme a história dos fundadores da cidade ensolarada passava pelos aldeões de boca a boca.

Tal como a informação obtida no jogo telefone sem fio, muito raramente a última pessoa ouvirá — exatamente — o que a primeira pessoa ouviu. As informações se transmutam, coisas novas são acrescentadas, assim como as coisas consideradas irrelevantes são descartadas. 

É tão lindo ver a hipocrisia dos fanáticos religiosos, é tão belo ver o quanto quebram os mandamentos que julgam que os outros devem seguir à risca! Ah, pobre e doce Sundale, é realmente uma pena que tenha permitido que os pecados mundanos lhe adentrassem novamente.

Ainda na igreja, o padre local se encontrava sentado sobre o primeiro banco de madeira presente na fileira do meio do salão; seu olhar estava fixo ao púlpito. O antigo padre havia lhe dito, instantes antes de vir a óbito, que ele deveria cuidar da cidade; manter os portões trancados e não permitir, de maneira alguma, que forasteiros adentrassem-na, pois estes apenas traziam pecados e destruição junto de si.

Em um primeiro momento, ele julgou ser uma metáfora, tal como as metáforas presentes na Bíblia, acreditou ser a forma que o padre encontrou de lhe dizer que deveria manter-se em oração, que não deveria abaixar a guarda e que deveria cuidar da espiritualidade da cidade... sequer cogitou a ideia de que o mais velho poderia estar sendo literal em suas palavras.

Por anos a fio os altos portões de madeira que davam para a entrada da cidade permaneceram trancados, todas as pessoas que residiam em Sundale haviam nascido nela; ninguém entrava e ninguém saia. A cidade se virava plantando o próprio alimento, criando o próprio gado, as próprias leis, as próprias escolas e métodos de cura. Sempre foi assim e seus moradores costumavam morrer de velhice, tal como o que aconteceu com padre Hernest.

Talvez ele tenha trago o mal para a pequena cidade ao decidir, por bem, abrir o portão e acolher a jovem peregrina que procurava desesperadamente por um abrigo... talvez fosse isso que padre Hernest tanto temia e talvez, mas só talvez, os antigos colonizadores tivessem construído a muralha e o portão impenetrável para manter o mal carnal afastado da cidade; para mantê-la isolada dos desejos carnais.

— Eu fiz errado em permitir que o peregrino ultrapassasse as muralhas? — Ele pergunta para Deus, ou para quem quer que pudesse lhe responder

Embora ainda fossem quatro da tarde, o céu permanecia tão negro quanto o céu que precedeu o primeiro contato do demônio para com o padre e o povo começava a se indagar o porquê de aquilo estar acontecendo.

Seria esse o fim dos tempos? — Era exatamente isso que se passava pela cabeça de cada fiel presente na Praça da Piedade.

Por se tratar de uma cidade que repugnava tudo o que vinha do exterior, Sundale não dispunha de água encanada, sistema de esgoto ou energia elétrica, nem ao menos aparentava estar no século vinte e um, parecia estar parada em um looping temporal que a mantinha constantemente no século treze; tanto tecnologicamente quanto moralmente falando.

A resposta esperada pelo padre Bichop não veio e ele pegou-se lamentando; mesmo que momentaneamente, pela criatura não tê-lo respondido. A cabeça foi meneada, algumas vezes, em sinal negativo, na vã tentativa de se livrar dos pensamentos impróprios que rondavam sua mente.

Não deveria ter se interessado tanto por aquela criatura, tampouco tê-la achado tão bela; se tratava de um demônio e demônios, bem sabia ele, não passam de seres ardilosos, que seriam capazes de tudo para alcançar seus objetivos.

Não muito longe dali, na pequena casa que Lucian se orgulha em chamar de sua, a garota de cabelos curtos e mãos calejadas mantinha seus olhos fixos na janela; com um sorriso malicioso a lhe adornar os lábios.

Caos; era isso o que ela levava para onde quer que fosse. Todas as cidades e aldeias pelas quais passou pereceram, tiveram suas colheitas arruinadas, sua fé abalada, suas crenças reduzidas a simples migalhas. Houve um tempo no qual julgou ser amaldiçoada, reprimiu a si mesma e ao seu dom por achá-lo maléfico; contudo, naquele exato instante, ela foi capaz de perceber que há beleza no caos e que se não fosse por ele nenhum de nós existiria.

Ela chegou à conclusão de que não deveria se considerar maligna apenas por levar o caos junto de si e ser sua porta voz. Tudo o que ela fazia era mostrar as pessoas quem elas realmente eram, permitindo, desta forma, que suas máscaras caíssem por terra e que elas se libertassem das mentiras que contavam para si mesmas.

Eudora, esse era seu nome, embora poucos ousassem pronuncia-lo. Ela sempre foi considerada uma garota divergente das demais, não por ser a ovelha negra do colégio ou a fruta podre dentre seus irmãos, ela apenas possuía outros desejos, outros medos e outros planos.

As madeixas azuladas foram ajeitadas e o sorriso se minimizou. Lucian havia sido gentil em acolher uma desconhecida, uma garota faminta que necessitava de ajuda e isso quase fez com que ela se sentisse mal em ser um sinal predecessor do caos que passaria a assolar a cidade. Contudo, assim como todas as outras cidades pelas quais passou, Sundale possuía segredos a serem revelados e máscaras a caírem; seu povo necessitava ser liberto de suas próprias mentiras.

Às vezes, embora muito raramente, o mal surge visando um bem maior.

Às vezes, embora muito raramente, o mal surge visando um bem maior

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HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!

Como cês tão? Espero que estejam bem,

Primeiramente: se alguém se ofender de maneira irreversível com o conteúdo deste livro, me procure, nós conversaremos e chegaremos a um consenso do que fazer.

"Segundamente": o que acharam do capitulo?

Críticas construtivas e opiniões sinceras são bem vindas, mas sejam educados, por obséquio.

Tia Bia ama vocês!

KISSUS DA TIA BIA!

Não me perdoe padreOnde histórias criam vida. Descubra agora