capítulo único

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Sabe quando você sente que todos ao seu redor te encaram? Que todos ao seu redor falam de você? Que cochicham histórias escutadas, mesmo sem saber a verdade? Esse era meu sentimento no momento. Isolado. Sozinho. Andando pelos corredores buscando somente chegar na maldita sala de aula o mais rápido possível. Era isso todo dia. E eu não podia fazer nada, porque merecia aquilo. Cada palavra, cada história, cada sussurro, eu errei, e pagava o preço por aquilo.

Cheguei na sala e me sentei na última mesa perto da parede, era mais fácil fingir que não estava ali. Já tinha passado dois meses de aula, meus pais mandaram eu fazer meu último ano novamente, era melhor, com os acontecimentos daquele ano ninguém tinha realmente aprendido as matérias. O medo era grande demais para prestar atenção em aulas, matérias e notas.

Coloquei meu material em cima da mesa de madeira escura e torci para o tempo passar rápido, se a aula fosse em dupla ficaria sozinho novamente, nem mesmo os sonserinos tentavam ficar perto de mim, "O filho dos comensais", "O comensal junior", "O da tatuagem", me chamavam dessas maneiras e outras, pareciam que tinham esquecido que seus pais também estavam naquilo, pareciam que se livravam do que aconteceu somente por não terem aceito ser um deles tão cedo, e talvez estivessem certos, mas eu sabia que, se tivesse durado mais, cada um deles teria participado, um ano, e eles estariam como eu, era a verdade, e eles também sabiam disso.

Mas era hora de esquecer isso, não tinha mais o Professor Snape para me ajudar nas notas, e Professor Slughorn não era o mais afetuoso comigo, podemos dizer assim. Poções era uma das piores matérias para mim, não conseguia contar as quantias corretas de lesmas ou a porcentagem certa de água, Snape sempre me ajudou, dicas silenciosas, respostas baixas, e Slughorn estava sempre preocupado com o Potter suficientemente para ignorar os outros. Mas esses casos não funcionariam mais, Snape morreu na batalha a seis meses atrás e Slughorn não tinha mais quem encher de elogios, sendo necessário foco extremo nas aulas para tentar entender, no mínimo, quantas salamandras seriam necessárias para fazer uma poção wiggenweld, não tinha como ser tão difícil, tinha?

– Você está cortando o ingrediente de forma errada, Malfoy.

Enquanto eu cortava as espinhas de peixe-leão alguém me chamou, perto demais para o que estava acostumado, me fazendo cortar o dedo com o susto:

– Humf. – Grunhi enquanto colocava o dedo na boca. – Posso te ajudar, senhorita...?

– Greengrass, e você está cortando errado, está machucando os espinhos, eles são importantes para fazer dar certo. – Ela falava enquanto sentava-se ao meu lado. Estranho. – O que?

– Porque está sentando comigo? Vão falar de você, sabe? E está longe de ser algo divertido. – Voltei a cortar as espinhas mesmo com o dedo ainda dolorido.

– É, eu sei, mas não me importo, já tenho coisas demais para me preocupar para me irritar com essas coisas. – Ela balançou os ombros e tirou um livro, um pergaminho e uma pena da pilha de coisas que levava.

– Uhum. – Voltei a olhar as espinhas e tentar cortar corretamente, ou pelo menos o que eu achava que era o correto.

– Você deveria ficar mais feliz, Slughorn sempre tira pontos de você por se sentar sozinho, e não acho que você esteja esbanjando de pontos suficientes para perder alguns.

– Como sabe? – Fui obrigado a encara-la, já que a garota tirou os peixes de minha mão e começou a cortar com facilidade.

– Ele me pede ajuda com os pontos e notas, está com uns problemas de visão, então o auxilio para passar a limpo os pergaminhos.

– Entendo. – Falei curtamente, não era para eu estar conversando com alguém, principalmente uma garota, não fazia parte do meu plano "Terminar a escola o mais rápido possível e me mudar para algum país no norte".

– Estou tentando conversar com você, pode ajudar ai? Eu vejo que está sozinho desde o primeiro dia de aula, não estou chocada, quero dizer, minha irmã sempre disse que seu grupo não era tão perfeito assim.

– Irmã?

– É..? – Ela me encarou – Você não ouviu falar dela? Daphne Greengrass, ela era ótima em astrologia, e era melhor amiga da Parkinson e da Bulstrode, meus pais acharam inútil ela refazer o ano então ela está viajando por ai, enquanto eu sigo aqui em Hogwarts. – Ela voltou a cortar.

Greengrass? Eu agora me lembrava de Daphne, mas uma irmã? Eu estava tão paralelo aos novos alunos, até mesmo de minha própria casa, que nem tinha prestado atenção que a Greengrass tinha uma irmã mais nova? Uau, eu realmente precisava prestar mais atenção, ou talvez um óculos. Não, era só atenção mesmo. Quando olhei para ela de novo as espinhas já estavam separadas em um canto da mesa e um ramo de hortelã estava sendo cortado:

– Vou buscar o que falta, alguma dica para mim, senhorita?

– Pegue sete presas de Chizácaro ao invés de oito, quem quer que tenha escrito os livros errou na quantidade, uma presa a mais vai fazer nossa poção provavelmente explodir. – Ela nem sequer tinha aberto o livro, como era possível ela lembrar disso tudo?

Me levantei e fui até o armário buscar as presas de sei lá o que, chizá..., chizáco, chizácaro? É, algo do tipo, deve ter escrito o nome no pote, não é mesmo? É, deveria. Abri o armário de madeira e fui lendo cada papelzinho com os nomes, quando alguém me chama atrás de mim:

– Draco Malfoy, achei que não iria voltar para cá depois da falha no plano de seu Lord. – Theodore Nott. Achei que iria poder ficar livre do garoto quando acabou as aulas de 1998, parece que errei.

– Nott, boa tarde. – Olhei rapidamente para ele e voltei a buscar os chifres pra poção, espera, eram presas, não chifres. Argh, precisava achar logo antes de esquecer a quantidade.

– E já achou alguém para te acompanhar no funeral, pelo que parece. – Ele disse sorrindo, sério? Ele não tinha crescido depois dos 15 anos mesmo, e talvez nem eu tenha crescido até ver o que aquela batalha resultou.

– Ela está me ajudando, sabe que nunca fui bom em poções, Theodore. – Tinha achado as presas de Chizáca sei lá o que e já estava andando de volta para minha mesa.

– Você não me engana Malfoy, espero que diga pra ela sobre sua marca, e como ela não sai nem com feitiços poderosos. – Revirei os olhos, agora tinha me lembrado perfeitamente o porque parei de falar com ele.

– Não se preocupe Nott, todos sabem sobre isso, principalmente você, afinal, seus pais tem uma igual, não é? – O encarei rapidamente, somente para ver seu rosto e a careta que fez, sorri e voltei para meu lugar.

– Pegou o que precisava? – A Greengrass me olhava enquanto estendia a mão, esperando os ingredientes.

– Sim, sim, sete, como pediu. – Lhe entreguei e comecei a misturar o líquido de dentro do caldeirão.

– Perfeito. – Ela cortava rapidamente, como se soubesse exatamente como fazer aquilo, e ela provavelmente sabia.

Terminamos aquela poção depois de uma dupla grifina, duas meninas, uma loira e a outra morena. Slughorn sorriu para mim e disse que ficava feliz em eu estar criando novas amizades, e que esperava que eu não estivesse atrás de nada perigoso como nos últimos anos, bom, isso ele pode ter certeza, mais problemas estavam fora da minha lista. A aula acabou poucos minutos depois, a Greengrass pegou suas coisas e foi saindo da sala, e, enquanto eu arrumava minhas coisas, percebi uma coisa: não sabia seu nome. Corri até a porta e a chamei:

– Hey! Greengrass! – Ela, assim como meia dúzia de segundanistas da lufa-lufa se viraram para mim. – Você não me disse seu nome. – Sorri para ela.

– Astoria, Astoria Greengrass. – Ela sorriu de volta e voltou a andar nos corredores.

Voltei para dentro da sala para terminar de arrumar as coisas. Era um nome bonito, pensei, combinava com ela e com seus olhos verdes, como grama.

A aula de poçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora