Capítulo 6

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Sasuke desceu do carro e deu dois toques rápidos na campainha. Veio atender uma funcionária baixinha, com os olhos atrás de óculos de tartaruga. Entreabriu a porta e perguntou o que ele queria. Sasuke se virou como pôde com a tal história. A enfermeira lembrou existir um regulamento, que a administração tinha se dado ao trabalho de estabelecer e, assim sendo, provavelmente era para ser aplicado. O visitante que voltasse na manhã seguinte, adiando a viagem. Ele implorou, mencionou a exceção que confirma todas as regras e já se dispunha a desistir, pesaroso, quando viu a enfermeira hesitar, olhar o relógio de pulso e acabar dizendo: 

- É hora da minha ronda, venha comigo, mas sem fazer barulho, não mexa em nada e daqui a 15 minutos tem que estar aí fora.

Agradecido, ele beijou-lhe a mão da enfermeira. 

- Todo mundo é assim no México?...- A enfermeira perguntou com um sorriso.

Deixou que entrasse no pavilhão e a seguisse. Foram até os elevadores e se dirigiram diretamente ao quinto andar. 

- O senhor pode ficar no quarto, faço o que tenho que fazer e volto para buscá-lo. Não mexa em nada.

Ela empurrou a porta do 505, que estava na penumbra. Uma paciente deitada no leito, iluminada por uma simples luzinha de cabeceira, parecia dormir profundamente. De onde estava, Sasuke não podia distinguir os traços do rosto. A enfermeira disse em voz baixa. 

- Vou deixar aberta. Entre, não há perigo que ela acorde, mas cuidado com o que disser por perto, pois nunca se sabe, com pacientes em coma. Em todo caso, é o que dizem os médicos e não o que pessoalmente acho. 

Sasuke entrou, pé ante pé. Sakura, que até então observava tudo em silêncio, estava junto à janela e fez sinal para que se aproximasse e disse: 

Sakura- Venha até aqui, não vou tirar nenhum pedaço de você.

Ele se perguntava que diabos fazia ali. Aproximou-se da cama e olhou. A semelhança era impressionante. A pessoa inerte era mais pálida do que a sorridente sósia, o cabelo rosa era fosco, mas o rosto era idêntico, lábios carnudos e ressecados. 

Ele deu um passo atrás assustado, mas ao mesmo tempo surpreso.

Sasuke- Não acredito! São gêmeas? 

Sakura- Você é um caso perdido! Não tenho irmã nenhuma. Sou eu, deitada ali. Eu mesma. Faça um esforço e tente admitir, mesmo parecendo inadmissível. Não tem truque nenhum e não ache que está dormindo. Só tenho você, Sasuke, tem que acreditar, não me vire as costas. Preciso da sua ajuda, é a única pessoa na Terra com quem falo há seis meses, o único ser humano a sentir minha presença e me ouvir. 

Sasuke- Por que logo eu? 

Sakura- Vai saber! Não vejo a menor coerência nisso tudo.

Sasuke- “Isso tudo” é bem assustador. 

Sakura- E acha que não tenho medo? Tinha medo para dar e vender. 

Era o corpo dela que estava ali, envelhecendo como um vegetal, diariamente, deitado com uma sonda urinária e alimentado por perfusão. Não tinha resposta alguma a dar, pois as perguntas seriam as mesmas que ela própria fazia, desde o acidente. 

Sakura- Nem pode imaginar quantas... 

Com um olhar triste, não tinha vida as esmeraldas, contou alguns dos seus medos e dúvidas: por quanto tempo duraria o enigma? Voltaria a viver, nem que fosse por alguns dias, uma vida normal de mulher, andando com as próprias pernas e podendo abraçar as pessoas de quem gostava? Para que ter dedicado tantos anos querendo ser médica, e tudo acabar daquele jeito? Quantos dias ainda, até que o coração sucumbisse? Assistia à própria morte e tremia de medo. 

E se fosse verdade? (SasuSaku)Onde histórias criam vida. Descubra agora