Fuiste

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Alberto estava morto, seu corpo foi cremado como ele havia desejado e Nana, como todos, estava destruida mas Mário não estava lá para dá a força que ela precisava e que falta o poeta fazia naqueles momentos, naqueles momentos que ela não tinha mais ninguém ao não ser ela mesma, sofia e o bebê que ela esperava, esse bebê, que, assim como sofia, não teria a presença do pai . Nana foi até a janela do quarto e a abriu deixando a brisa da noite entrar em contato com sua pele e trazer as lembranças, lebranças de um poeta, de um amor . Um amor que se foi e que podia nunca mais voltar. Abalada pelas lembranças deixou algumas lágrimas cairem enquanto acariciava a própria barriga lembrando de quem poderia ter sido, de quem foi e imaginando o que seria agora que seu pai se foi, com duas crianças pra criar e dar amor além de uma editora quase falida para recuperar .

3 meses depois

Nana finalmente tomou corajem para ir até a biblioteca,depois de meses desde a morte do seu pai, seria a primeira vez que entrava ali. Sentiu o cheiro dos livros e logo se recordou do seu pai, de como ele amava tudo que estava ali, passou os dedos por alguns livros respirando fundo com os olhos fechados, lembranças de um certo poeta invadiram sua mente forçando-a a abrir os olhos enquanto fazia negação com a cabeça para espantar os pensamentos . Nana sentou na cadeira do pai passando os dedos delicadamente pela aresta da mesa, tentou abrir uma das gavetas e estava fechada, procurou a chave por todos os cantos e quando finalmente encontrou encarou a gaveta com o coração acelerado, de certo ele, seu coração, já sabia que, o que quer que houvesse naquela gaveta, mudaria sua vida por completo . Suas mãos estavam trêmulas e suadas e ela nem sabia como poderia está tão nervosa com absolutamente NADA !

Lá estava, um envelope branco perfeitamente lacrado com o nome '' Nana '' , era a letra do seu pai, seu amado pai . Uma Súbita emoção invadiu seu corpo, tentou controlar a euforia em seu peito e abriu a carta :

'' Filha, eu não sei se você está lendo isso um dia, um ano, ou até mais que um,podem ser 10, 20...após a minha morte, mas eu preciso te pedir perdão, mesmo que seja assim, escrito em um papel branco de forma tão simples e previsível : Perdão, minha Mariana. Perdão por não ser o pai que você merecia, perdão por ter valorizado mais uma editora do que a você, perdão por me prender a ela e não te dá o amor que você merecia, que vocês mereciam , perdão . Perdão por ser tão covarde e não ter de dito isso olhando nos seus olhos, perdão por não está ai agora .

Eu cometi um erro quando colquei a editora acima de tudo, inclusive da minha família . Mas você, Mariana, não pode cometer o mesmo erro, não pode seguir o mesmos passos que seu pai, você sabe onde esse caminho vai dá e é por isso que  eu tomei a liberdade de traçar um novo caminho pra você . No final da linha jogue as cinzas desse velho. Desse velho louco que te amou, que te ama e que sempre amará, até depois da morte . Você foi o meu maior orgulho e você foi o que a vida te limitou a ser, está na hora de descobrir o que a Mariana Mole poderia ter sido e assumir seu lugar no mundo .

Mais uma vez : eu te amo e te peço , do fundo do coração, perdão. De um velho que te ama.

Mais uma folha estava no envelope, um tanto amassada porém as letras ainda podiam ser vistas claramente . A folha era velha e as marcas do tempo dela trazia lembranças a Nana.

No vélorio da mãe de Mário, Mariana foi até lá prestar apoio ao amigo . Viu-lhe sentado, com seu terno verde quase preto e deu um sorriso, mesmo que a situação pedisse o contrário. O amigo era único e mesmo naqueles momentos, mesmo que estivesse triste e esgotado, mário lhe tirava um sorriso sem nenhum esforço .

_ Você é único Mário ( ela disse, dando-lhe um beijo demorado na bochecha e lhe tomando a mão junta a sua )

_ Ela não ia gostar de me ver de preto. ( ele disse fitando as mãos juntas a da amada, sorriu a constatar que Mariana levava um vestido azul muito forte, quase atingindo o preto .)

_ desculpa, eu não uso preto . Você sabe . ( ela encostou a cabeça no ombro do amigo, recebendo um beijo no topo da cabeça )

_ Eu sei sim, e te agradeço por vir assim . A minha mãe, ela ... ( Mario engasgou com as próprias palavras , mas continuou ao sentir o aperto forte das mãos da sua Mariana Mole )... ela era apaixonada pela vida, pela arte, ela queria conhecer países, culturas, histórias e agora...

_ Agora, agora ela vai conhecer o mundo através de um poeta, um poeta que vai ganhar o mundo com suas palavras e o seu talento . Um poeta que leva o amor mais sincero e cativante no coração : o amor de mãe . E sabe o que mais ?

_ o que ? ( perguntou para a amiga que lhe fazia carinho no peito )

_ Vamos fazer uma lista, uma lista de lugares que sua mãe gostaria de visitar . Assim, quando você for um poeta de renome e tiver bastante dinheiro irá levar a sua mãe pra conhecer esses lugares pois ela sempre estará com você, mesmo que na lembrança, ela estará com você, eternamente . ( Mário sorriu com as palavras da amiga e eles dois fizeram uma lista de lugares que a mãe de mário gostaria de conhecer, o último da lista era uma praia, uma praia linda que eles escolheram com carinho. Mario sorriu ao lembrar que sua mãe amava o mar, amava as sensações trazidas por um dia na praia , amava a vida . )

Mariana saiu das sua memorias ao escutar a voz de Sofia chamando-a. Dobrou as duas folhas e foi até a filha que percebeu que a mãe chorava .

_ você tá bem ? ( a menina perguntou, abraçando forte a mãe )

_ Estou sim . O que você acha da gente, eue você , juntas em uma aventura pelo mundo durante um ano inteiro ? ( nana ficou da altura de Sofia esperando a reação da menina )

_ tipo, viajar o mundo ? ( perguntou animada )

_ sim!! ( nana sorriu com a empolgação da menina )

_ mas e a editora e a minha escola ?

_ Bom, meu pai deixou a editora sob o comando da Vera, e quanto a você nós podemos contratar professores particulares . ( nana falou mais pra si do que para a menina )

_ Eu acho melhor você viver essa experiência sozinha . ( Sofia lembrou-se da conversa que teve com o avô )

_ você não quer passar um tempo com a mamãe ? ( perguntou confusa )

_ quero, quero muito, mas eu sou criança, vou ficar cansada de tanto viajar e eu gosto dos meus professores, entende ? ( acariciou o rosto da mãe )

_ tudo bem se você ficar com o tio Marcos e a tia Paloma por um ano ?

_ eu vou adorar (disse pulando na mãe abraçando-a )  

Uma semana depois lá estava ela, no aeroporto internacional de Madrid prestes a pegar seu táxi.

Ela deu as cordenadas do hotel para o motorista que ligou o rádio, tocava uma música e nana logo se identificou com a letra

'' Quererte fue facil

Quererte tan hondo
Que dificil fue dejarte atras
Me fui de tu vida dejando una herida
Yo no te quise lastimar

Yo no sabía amar''

Nana se pegou deixando uma lágrima escapar, secou-a olhando para o lado de fora enquanto passavam por uma rua com apartamentos coloridos, ela jurou ver mário e pediu para o motorista parasse ali . Segiu-o e,sim, era ele . Era seu poeta . Mariana só não contava com a imagem seguinte,uma mulher passando uma criança que aparentava ter três anos para os braços de Mario e lhe dando um beijo na  bochecha e depois sumindo em direção ao centro . Nana pensou em ir até lá mas desistiu . Pagou o motorista e decidiu ir a pé, passou pela calçada daquele apartamento que ela tinha certeza que Mario estava .

O poeta a viu, segurando a menina de olhos castanhos no braço e mostrando-lhe a cidade e as árvores , ele viu sua amada Nana passando ali . Em uma ato desesperado gritou-lhe esperando que ela pudesse ouvir, mas foi em vão . O poeta pegou um papel branco com aspecto de velho, olhou e leu '' Madrid '' lembrando de sua Mariana mole no dia do vélorio da sua mãe, quando escreveram aquela lista e se perguntou '' será que ela também está aqui por esta lista ''. Colocou-a no mesmo lugar e levou a pequena ao chão onde ela começou a rabiscar um papel com seus lápis de colori . 

FuisteWhere stories live. Discover now