I WANDER WHY

3.4K 307 223
                                    

Park Jimin, 19 anos.

Eu sempre me perguntei o porquê das coisas serem do jeito que são, qual a razão de cada um ser de um jeito ou ter certo problema. Talvez seja algo muito profundo a se pensar mas é definitivamente algo que pode não ter respostas.

Nunca entendi o porquê de eu ser assim ou de não ser como as outras pessoas, eu queria ter problemas normais, com soluções não tão complicadas, eu queria ter problemas que na minha idade eu deveria ter, como dar PT ou passar vergonha na frente do garoto que eu gosto, e não problemas que me impedem de viver minha vida sem me sentir como um fudido.

Minha mãe diz que tudo tem um motivo, que o "destino" guarda alguma coisa e por um tempo até consegui acreditar nisso, precisava acreditar, porque assim seria mais fácil suportar esses malditos problemas, mas depois de um tempo não consegui mais acreditar pois todos os problemas na minha vida só pioravam. Algumas pessoas nasceram para serem fudidas e sei que sou uma delas, só não sei o porquê.

  — Eles não podem dar quartos individuais, falei com o reitor mas ele disse que não há nada a se fazer - minha mãe tinha um coque preso e uma pilha de papéis bagunçados a sua frente, seus olhos estavam cansados e inquietos.

  — Nem mesmo se explicarmos a situação ? - Taehyung apareceu da cozinha com um copo de suco na mão e se escorou no batente da porta, usava mais uma de suas bandanas e uma regata preta.

"Situação" eu odeio essa palavra.

Uma situação é algo momentâneo e isso definitivamente não era um momento, já que estava comigo desde que me entendo por gente. 

Não me lembro como, nem quando começou, mas sempre esteve lá, uma agonia extrema junto com um sentimento de culpa. Desde pequeno me lembro de não conseguir abraçar muito as pessoas, ou chorar para não ter que fazer isso, aos poucos me distanciei de todos, eu comecei a ter medo de interagir com qualquer um.

O mais confuso de tudo, é que no fundo eu sinto que não nasci assim, não me lembro de quase nada antes dos nove anos de idade, apenas lapsos de memória, e em algum deles me lembro de abraçar minha mãe e dormir junto com Taehyung, ficar agarrado na perna dela e brincar de lutinha com meu irmão mais novo, porém depois disso as coisas apagam, e só consigo lembrar de começar a me sentir muito mal e me isolar cada vez mais.

É algo que começa pequeno, eu apenas não queria sair de casa, não estava afim de ter que lidar com ninguém ou conversar, então aos poucos comecei a passar mais e mais tempo dentro de casa, diminuindo qualquer contato com pessoas de verdade ao ponto de quando sair de casa e ficar com muita gente sentir tanto incômodo a ponto de chorar, e meu histórico de ansiedade apenas complicou.

Mas era isso, uma situação, e ela faz com que eu não consiga me aproximar ou tocar nenhuma pessoa sem que eu surte completamente.
Não digo tocar como um abraço desconfortável ou um aperto de mão e sim um caso onde se alguém tocar no meu braço no próximo segundo estou hiperventilando no chão e sinceramente, é algo completamente fora do meu controle.
Começou comigo evitando apertos de mão e que hoje me faz não conseguir ficar perto de qualquer pessoa.

Há coisas que simplesmente estão fora do nosso controle e não há nada que se possa fazer sobre isso.

  — Eu posso tentar fazer com que nos coloquem no mesmo quarto - diz Taehyung se sentando ao lado dela, escuto a conversa silenciosamente enquanto encaro meu prato ainda cheio de comida, não é como se eu tivesse algo a contribuir ali, brinco preguiçosamente com as ervilhas enquanto minha cabeça parece se encher mais e mais de pensamentos sobre tudo.

Sobre a faculdade, a frustração da minha mãe, a preocupação do meu irmão, a minha "situação", o porquê de eu não conseguir agir como um ser humano minimamente não surtado, como eu me sinto mal, como eu não gostaria de querer me sentir mal.
São muitos pensamentos que minha cabeça não consegue processar então eles só se acumulam e me frustram ainda mais.

INTOCÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora