Capítulo 2 - O Desencontro

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Depois daquele episódio, as duas nunca mais se falaram.

Megan até sentiu vontade, porque ficou pensando que talvez Olivia não fosse tão exibida e mimada quanto parecia, já que ela tinha lhe agradecido com um beijo — o primeiro beijo não-familiar da vida de Megan. (Já aconteceu de um garotinho tentar beijar ela e tal, mas Megan agarrou o braço dele de surpresa e NHAC! — mordeu com tudo, e passou a ser conhecida como a "canibalzinha de cinco anos de idade".)

Não que com oito anos uma criança já não saiba que um beijo no rosto é... é...

Bom, a questão é que um beijo no rosto não tem a mesma grandiosidade de um beijo na boca. É o que os filmes dizem.

Só que, ainda assim, um beijo no rosto não é algo que se troca só entre pessoas já conhecidas ou íntimas? Os familiares de Megan eram os únicos que a beijavam no rosto. Se fosse uma amiga e tudo mais, Megan não teria se espantado também.

No entanto, o que pensar do beijo de Olivia Rebecca Loveless, que nunca falou com Megan antes porque nunca falava com a plebe daquele colégio?

Será que Olivia tinha confundido Megan com um menino, no meio daquela bagunça? O cabelo de Megan não era assim tão curto, ia até a nuca, mas no dia da peça ele tinha ficado preso num rabinho de cavalo, assim como o de todas as outras meninas ratinhas. Enfim, era possível.

Querendo descobrir o motivo, e confirmar se Olivia era mesmo legal ou não, Megan começou a rondá-la. O problema é que as amigas de Olivia nunca saíam de perto. Olivia estava sempre cercada por um trio tagarela que não dava espaço a nenhuma introdução, nem mesmo a uma observação mais apurada.

E como Megan era bastante tímida naquela época, ela foi desistindo da ideia de se aproximar. Afinal, se Olivia quisesse ser amiga dela, teria ido falar com ela. Daí ela só ficou observando Olivia à distância, só para tirar daqui e dali pequenas definições de quem seria Olivia Rebecca Loveless de verdade. Mesmo assim, nunca conseguia chegar a uma conclusão.

Megan não sabia que, certa vez, quando estava olhando e então parou de olhar, as amigas de Olivia perceberam e comentaram:

— Vocês viram que aquela menina esquisita tem olhado pra gente direto? — Essa era Natalie.

— Eu acho que ela morre de inveja da gente, porque ela é feia. — Essa era Kimberly.

— Quem tá olhando pra gente?... — Essa era Christina.

Olivia, olhando através de suas amigas de infância para a menina morena, sozinha, numa das mesas do refeitório, suspirou, e respondeu baixinho:

— Por que vocês não gostam dela?...

— Ela fede! — disse Kimberly.

— Ela é pobre, deve ser por isso que fede. Não deve tomar banho. Gente pobre não toma banho. — disse Natalie, e Kimberly concordava com a cabeça.

— Não toma?... — perguntou Christina.

— Eu não acho que ela fede... — Olivia ainda tentou, mas chegou a encolher os ombros de medo dos olhares que recebeu de Natalie e Kimberly.

— Você bateu a cabeça quando caiu no palco Livie?? — indagou acusadoramente Kimberly. — Se você andar com uma menina feia e fedida dessa ninguém vai querer andar com você também, assim como ninguém quer andar com ela!

Isso era uma coisa que apavorava Olivia, que apavora a maioria das crianças (e dos adultos também):

O medo de serdeixada sozinha.

E esse foi o efeito que Olivia causou em MeganOnde histórias criam vida. Descubra agora