No primeiro dia, Megan estava usando uma camisa xadrez azul com os primeiros botões abertos (já que ela tinha a vantagem de quase não ter peitos) por fora da calça jeans, coturnos, além de brincos, colares e anéis, que eram vários, porém bem distribuídos, então não se acumulavam.
E foi por isso que ela chamou mais atenção do que estava esperando.
Ela ficou bem assustada, percebendo as pessoas olhando e cochichando, principalmente as garotas. Ficou pensando se todas elas eram conhecidas ou uma espécie de proliferação de Natalies e Kimberlies que cresceram, já que não reconhecia a maioria dos rostos. Seu coração estava disparado, e ela disse para si mesma que se soltassem um "Ratinha fedida!" ali agora ela ia sair correndo e chorando com mais desespero do que da última vez.
Só quando estava tentando ganhar espaço para enxergar o mural onde se anunciavam as turmas que ela ouviu um cochicho:
— Aquele garoto ali, de camisa xadrez azul! Ele é muito lindo!
Aí ela pôde respirar fundo, e sorriu por mal conseguir segurar o riso. Desse tipo de atenção ela gostava — embora sempre fosse seguida por "Oh, não! É uma garota!", e a cara de confusão das outras garotas que continuavam querendo dar para ela mesmo assim.
Por impulso de sua curiosidade, já que já estava ali mesmo, Megan procurou o nome de Olivia nas listas — mas aquele empurra-empurra e o acúmulo sufocante de pessoas encostando nela a estavam irritando, então Megan bufou e saiu, rumo à sua primeira aula.
E era bem capaz Olivia ter ido estudar na Suíça ou coisa assim.
Porém, como todo bom drama adolescente onde coincidências mínimas e possíveis se tornam convenientes, assim que Megan entrou na sala de sua primeira aula de Literatura, ela congelou na porta, mesmo que seu estômago estivesse em chamas.
Pois ali mesmo, em uma das primeiras mesas, estava aquela garota esbelta de longos cabelos loiros e ondulados, interrompendo sua ação de fechar o zíper do estojo branquinho para encarar Megan com a mesmíssima surpresa.
Megan só não tinha como saber que os olhos arregalados e o espacinho entre os lábios das duas eram milimetricamente idênticos porque não tinha um espelho para se olhar naquele momento.
Olivia. Rebecca. Loveless.
O cabelo dela não tinha caído, pelo contrário: parecia mais cheio e macio do que nunca. E o rosto de princesinha mimada se tornou o rosto de uma princesa generosa. O perfume lembrava pêssego e jasmins.
Megan ficou então irritada porque Olivia tinha conseguido ficar mais bonita ainda (ou era sua sexualidade reencontrando suas origens?) — além de Olivia estar ao lado de Christina e Kimberly.
Então Megan foi depressa lá para o final da sala, onde ainda estava vazio e ela estaria imune aos olhares em suas costas, além flagrar quaisquer olhares virados para ela.
Como os olhares das próprias Olivia, Kimberly e Christina, que só depois de instantes se voltaram umas para as outras, para que Kimberly cochichasse:
— Você conhece, Livie??... Que cara lindo!...
Olivia deixou escapar um sorriso todo aberto — mas sacudia a cabeça:
— Não...
— Mas já tá interessada nele! Lembra que você tem o Michael!
"Michael?" — Megan estava ouvindo, tremendo a perna embaixo da mesa, sentindo o coração agora se contorcendo mesmo com aqueles batimentos desvairados.
Então Olivia tinha um namorado?! E mesmo namorando alguém ela já estava interessada em Megan?! Além de oferecida, só faltava Olivia também ser líder de torcida.
E era mesmo.
Megan, revirando os olhos, na arquibancada do ginásio, teve que assistir um típico número de pompons e pernas para o alto na cerimônia de iniciação daquele ano letivo.
Não tem clichê mais infeliz do que o de uma pessoa excluída se apaixonar por uma patricinha. Todo mundo sabe onde isso termina.
'Pera.
"Se apaixonar??"
E esse foi o efeito queOlivia Rebecca Loveless causou em Megan Brooks em algum momento desta história.
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E esse foi o efeito que Olivia causou em Megan
Short StoryGia H. © 2019 Conto criado para a coletânea Final de Ano, do grupo @LGBTemas.