Megan deixou passarem os sete dias que antecediam a festa de Olivia para só então concluir que não conseguiria decidir por si mesma.
Ainda tinha medo de escorregar em mais uma banana de bullying jogada nos caminhos pelos quais passava, e em festas de adolescentes todo mundo sabe que, sem riscos de suspensão, as pessoas competem para ver quem consegue extrapolar mais vezes os piores limites.
E porque já estava no dia do evento, Megan finalmente resolveu comentar com os pais. Os dois se empolgaram mais do que qualquer amigo com quem ela tivesse compartilhado a ideia, e praticamente a enxotaram para fora de casa, argumentando que era uma ótima oportunidade para Megan socializar e, é claro, aproveitar esse convite inesperado de sua "adorada" Olivia — depois de ouvir isso, Megan foi para o quarto se arrumar, bem emburrada.
Mas parecia burrice mesmo ignorar um convite de Olivia (embora ela tenha convidado a turma inteira anyway).
Turma inteira e colégio inteiro, provavelmente — porque quando Megan pôs os pés naquela casa enorme, tinha gente bêbada transbordando até o lado de fora, e ela não conseguia andar sem se espremer.
Surpreendentemente, Megan recebeu mais ois e elogios de pessoas aleatórias do que qualquer ofensa. Inclusive, ela ficou bem uma meia hora conversando com dois garotos mais novos que todo mundo jurava que eram apenas amigos.
Em todo esse tempo, ela quase não via Olivia; e quando a via, para variar, estava sempre cercada das mesmas pessoas: Michael (que só sabia abraçar enforcando a menina), Kimberly, Christina e outros puxa-sacos. (O que teria acontecido com Natalie?) Enfim, quando Olivia raramente passava sozinha, estava ocupada com alguma coisa da festa. Na verdade, Megan via Olivia tão muda e tão submissa a todos que mais parecia uma garçonete do que a aniversariante. Eles só lembraram dela na hora dos parabéns.
Megan — entornando o seu... quinto? copo de ponche batizado —, finalmente alcançou a sabedoria que a fez pensar: "Ok, se eu não chegar falando com ela eu nunca vou conseguir falar com ela!"
Deixou o copo numa mesa qualquer e foi atrás de Olivia.
Olivia estava cercada por três garotas que Megan nem se deu ao trabalho de ver os rostos para saber quem eram, só sabia que Kimberly não estava por perto pela ausência da voz de barata de ópera desafinada e porque ela tinha sumido há um tempo com um carinha qualquer.
E assim que Olivia viu Megan se aproximar, abriu o sorriso, foi a primeira a dizer:
— Oi.
— Oi. — Megan respondeu rindo, sem acreditar que depois de quase dez anos ela finalmente conseguiu dar "oi" para Olivia Rebecca Loveless.
As outras meninas torceram a cara e se retiraram, cochichando alguma coisa.
— Eu fico realmente feliz por você ter vindo. — O sorriso de Olivia ainda cresceu mais um pouquinho. O sorriso de Megan já estava do mesmíssimo tamanho. — Sério, não liga pras coisas que as pessoas falam...
— Eu não ligo mais.
— E eu sinto muito. — Olivia suspirou, dissipando o sorriso, parecendo tirar um peso dos ombros: — Pelo que aconteceu na sexta série. As pessoas são cruéis. Eu não entendi por que fizeram aquilo com você. E já erraram no meu corte de cabelo também quando criança, mas minha mãe me obrigou a ir pra escola de peruca.
Megan piscou várias vezes, agora mais preocupada com aquela última informação do que com o próprio trauma.
— Ahn... Disseram que era você que não queria falar comigo porque eu fedia.
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E esse foi o efeito que Olivia causou em Megan
Short StoryGia H. © 2019 Conto criado para a coletânea Final de Ano, do grupo @LGBTemas.