“É muito comum, na vida nos apresentarmos ao outro da forma como queremos que ele nos perceba.”
— O carcereiro e o encarcerado.
Portland – Restaurante Donna’s Street; 1987.
Por mais que não quisessem chamar muita atenção, era quase impossível de ignorar um grupo de caras, os quais não hesitavam de fazer uma enorme bagunça por onde passavam. Sim, depois de uma tremenda insistência por parte de Minseok, eles de fato levaram o mais novo para tomar café da manhã, que pelo horário deveria ser denominado almoço em um restaurante, aqueles de beira de estrada, com o saneamento básico duvidoso.
Eles, mesmo sem suas roupas de show, ainda mantinham-se bem chamativos, sem falar que não era muito natural a entrada de dois caras falando tão abertamente sobre doces, o típico de coisa feita por Sehun e Jongdae, talvez sequer existisse pessoas mais descaradas que ambos.
Já sentados na mesa escolhida, bem próxima a janela como o grupo gostava, Minseok tentava cantar uma das garçonetes enquanto os demais preferiam concentrar-se no cardápio, o qual não possuía muita diversidade, isto sequer era uma surpresa. Acabou que todos optaram por pratos iguais, afinal a fome estava tão presente que qualquer coisa que lhes dessem a sensação de estômago cheio seria o suficiente.
— E aí gatinha, vem sempre por aqui? — o empresário de fato era péssimo com xavecos, chegava a ser agoniante para os demais assistirem aquela cena sem sentir o mínimo de vergonha. Por ironia do destino, ou pena, a garota simplesmente lhe lançou um sorriso e voltou para o balcão com sua bandeja vazia.
— Sinceramente Minseok, tu não tem vergonha não? — o baterista questionou o mais velho, não por moral, longe disso e sim porque era deplorável ter que presenciar aquilo. — A garota ficou tão sem graça que nem conseguiu te xingar.
— Menos Sehun, também não foi tão ruim assim. — Kyungsoo, o baixista defendeu o Kim que nem ligava para os comentários de ambos, para si as pernas da moça eram o mais importantes.
— Sabe o que eu estava aqui matutando? — Jongdae decidiu acabar com o assunto. — Sobre o nosso último assistente, alguém lembra por que ele desistiu?
— Sehun foi tão filho da puta que fez com que o cara fosse preso. — Baekhyun entediado mexia na caixa de guardanapos. — Se duvidar, não sai tão cedo. — achou graça da desgraça alheia.
— Em minha defesa. — pronunciou-se. — Só pedi para que ele comprasse coca para mim, quem iria pensar que ele iria confundir com cocaína? — o Oh era ótimo se fazendo de desentendido, um sonso por completo.
— Ele foi o que? — Chanyeol talvez estivesse um pouco apavorado, sem falar que não tinha nada mais novo para si do que pessoas falando sobre drogas tão abertamente. — Vocês... Não?
— Pode ficar tranquilo pirralho, a única droga na minha vida é o álcool e a fritura. — Kyungsoo fez piada com a própria desgraça e logo em seguida deu a última garfada em sua comida. — Mas não posso falar pelos outros.
— Você é jovem garoto. — Jongdae, o que era visível ser o mais afetado pelas mesmas, tentou amenizar um pouco a conversa. — Não irá e nem precisa entender.
— Já que o Jongdae gosta de falar no passado. — o Byun sabia quando era a hora exata para mudar o rumo de um diálogo, por mais que não parecesse, entendia o lado do parceiro e não o deixaria passar pelo desconforto que era está se explicando. — Vocês lembram do Josh? — o vocalista pareceu pensativo. — Aquele filho da puta tentou nos roubar. — Uma péssima ideia. — riu sem ao menos achar graça.
— Por causa desse maldito passamos por vários sufocos. — o Kim revelou. — Na época eu não conseguia entender como aquela grande demanda de shows estava dando tanto prejuízo ao invés de lucro, tá certo que eram iniciantes, mas não tinha muito sentido sabe? Se não fosse pela maldita curiosidade e inquietação de Sehun, talvez a banda Black Phoenix não estivesse onde está.
— O que ele fez? — o mais jovem parecia entretido, tanto que até esquecera do assunto anterior.
— Nada demais, só o viu agindo estranho e resolveu o seguir. — o empresário deu ombros. — Nada muito heroico, mas que pode ser recompensado.
— Temos variadas histórias pirralho. — Sehun se animou com o fato de relembrar os acontecimentos passados. — Já fomos fazer um show, que somente no dia descobrimos ser uma seita, a qual cujo o nome é irrevelável. Baekhyun levou uma facada em um dos braços um dia desses, a maluca disse que precisava do sangue dele para sei lá o que. — gargalhou. — Todos pensam que vida de artista é feita por festas, bebidas e afins, mas tem muito mais que isso sabe? Não parece, porém todos aqui já abdicaram de algo por isso, inclusive você, caso não, sequer estaria aqui agora.
Pela primeira vez, o baterista tinha dito algo útil, sua fala surgiu como um ponto de esperança para o Park. De certo que ele não seria nenhum idiota ingênuo que pensaria era fácil, mas só de saber que para estarem ali eles passaram por dificuldades, as quais podiam ser ou não piores que a sua o confortava, talvez se achasse um ser humano horrível por isso, só que ele realmente gostou de entender, mesmo que um pouco da parte de sua trajetória.
— Acho que já falamos demais e o orelhudo aí nem abriu a boca. — o guitarrista de apoio, além de ter notado uma das peculiaridades do rapaz sugeriu para que ele se abrisse mais com eles. — Sabemos que foi expulso, mas sua vida antes disso não teve ter sido um tédio por completo, hm?
— Sim, ela foi um tédio por completo. — admitiu e dirigiu sua atenção a paisagem não tão agradável da janela, definitivamente aquela era a pior mesa, afinal que ser humano senta aonde tem vista para sacos de lixo? — Venho de uma família de promotores, uma mãe fútil e além de mim, uma irmã deserdada, qual seu único pecado foi gerar uma criança. Isto é, nem um pouco interessante.
Ao terminar de falar, todos ficaram em silêncio. Sequer sabiam como agir depois de tal declaração, de fato eles perceberam que o Park, pelo seu jeito de agir viera de uma boa origem, mas nunca imaginaram que também pudesse sofrer de problemas semelhantes à todos ali, pois meio que era obvio que ninguém ali possuía laços com seus progenitores, tudo porque decidiram seguir um caminho diferente do convencional.
— Ah para Chanyeol. — Sehun tentou rapidamente quebrar o clima tenso que se instalou entre eles. — Vai me dizer que nunca teve um rolo na época do médio? Lembro que era entre mim e o Jongdae, quem colecionava mais gatinhas. — agora ele definitivamente podia como devia ser coroado o rei dos babacas.
— Se com gatinhas vocês se refere as diversas atividades extracurriculares quais eu me metia para não ter que ficar em casa. — deu ombros. — Mas foi bom, conheci um bom amigo assim.
— Sabia, de fato tu tem cara de virgem. — Jongdae fez a questão de deixar o mais novo constrangido. — Não que isso seja um problema, papa anjo do jeito que o Fênix é, logo isso vai ser resolvido. — se não bastasse, além de implicar com o mais novo sentiu a necessidade de inserir o Byun na conversa.
— Sinto muito cortar teu barato, mas pirralhos não fazem o meu tipo. — o vocalista decidiu entrar na onda do parceiro de banda. — Quem sabe daqui há alguns anos. — piscou para o mais novo e logo em seguida retirou-se da mesa, mas antes de deixar o estabelecimento, provavelmente por ser implicante passou sua mão sobre os cabelos negros do Park os bagunçando. — Espero vocês no trailer.
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Infinita Highway
Fanfiction{Chanbaek| Anos 80 | shortfic}Chanyeol não passava de mais um jovem sonhador. Sim, daqueles extremamente clichê que almejavam tornar-se um astro do rock, o qual por busca deste acaba sendo expulso de casa. Sendo assim, por ou não ironia do destino...