Capítulo 2

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— ONDE VOCÊ ESTAVA com a cabeça? — quis saber meu irmão

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ONDE VOCÊ ESTAVA com a cabeça? — quis saber meu irmão.

— Vicne...

— Não! — ele me interrompeu. — Como pode simplesmente tomar uma decisão como esta sem ao menos falar comigo sobre? Rei? Eu? Tem ideia do que isso significa?

— Que eu, como rainha, decidi que quero você no meu lugar? — respondi, como se aquela fosse a coisa mais óbvia e que fazia mais sentindo no mundo.

— Não brinque com coisas sérias!

Revirei meus olhos, porque achei que estaria claro que aquilo não era uma brincadeira. Eu podia ser muitas coisas que envolvessem algumas ações insensatas, mas não brincaria com esse tipo de coisa. Pelo menos não na frente de todos que eram alguma coisa para o reino.

Eu estava ali, vestida com o mais carmesim dos tecidos, com uma longa capa sobre os ombros, que iam muito além do que apenas cobrir minhas costas. Meus pés, como era o costume, estavam descalços para que eu sentisse, em minha própria pele, toda a extensão do que agora era minha terra, meu povo, o chão pelo qual lutamos tão arduamente.

A cada passo que eu dava, mais convicta eu ficava da escolha que tinha feito. Por mais que eu amasse aquele povo, meu povo, meu reino... Eu sabia em meu íntimo que eu não era a melhor escolha.

Desde que aprendi a empunhar uma espada eu sabia que aquilo era minha verdadeira paixão. Luta. A cada história de que eu ouvia sobre andarilhos, guerreiros errantes e donzelas em apuros, eu sabia qual era meu sonho. Eu queria ser aquele guerreiro, ser o guardião do povo, aquele cheio de histórias e palavras sábias, que salvava as donzelas, as fazendas, vila atacadas por bárbaros e que tocava seu alaúde nas noites estreladas e dançava nas festividades com um copo na mão e um sorriso no rosto.

A vida entre soldados e batalhas que trazia um pouco disso. Companheiros, histórias, lutas, derrotas e vitórias. Aquilo fazia com que eu me sentisse viva. Viva de verdade.

Mas quanto ao trono...

Eu sabia que ele era meu destino. Diferente do que minha mãe fazia soar, eu sabia que meu pai me amava com todo seu coração. Ele me colocava em seu colo e me contava sobre as histórias dos antigos reis, de como as terras haviam sido conquistadas e me perdia em suas aventuras. Acredito que aquilo era uma forma de ele me preparar para a missão que um dia seria minha: sentar no trono, dar ordens para manter o reino em ordem e seguro. Mas essa não era eu. Nunca foi.

Tudo o que eu sabia sobre essas coisas eu havia aprendido com Vicne, meu irmão.

Embora eu fosse considerada a primogênita, ele era o primeiro filho de nosso pai. Filho de uma escrava que morreu quando ele ainda era muito novo, devido a inveja de minha mãe, ele sempre esteve ali, próximo a mim. Próximo a todos nós. Nosso pai não lhe negou educação, um lar e, diferente dos nossos outros irmãos, cujo desejo de me ter morta estava sempre estampado em seus olhos, Vicne foi aquele que se tornou meu guardião. Aquele que esteve sempre ao meu lado.

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