01 | dancing queen

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Estávamos na estrada o que pareciam anos. Meu irmão, Josh dirigia mais devagar que nossa avó. Eu estava sentada ao seu lado, com os pés esticados no painel do carro, enquanto minha mãe, no banco de trás, ia dormindo feito uma pedra.

- Pode acelerar?! - pedi, quase ordenando. - Vamos ser deixados pra trás por aqueles senhores que estão fazendo caminhada. - bufo, indo até meu irmão e o cutucando.

Josh se afasta de mim bruscamente.

- Nunca encoste no motorista. Pode tirar minha atenção, e causar um acidente gravíssimo aqui. - dou risada com a intensidade, e o drama que Josh estava fazendo. Josh sabia ser sínico. E isso, sem dúvidas, isso era o que eu mais odiava nele. - E tire esses pés imundos do meu painel! - disse, me tirando de meus devaneios.

Balanço os dedos dos pés; para mim estão em perfeito estados, e bem limpos.

- O painel nem é seu! Então não tome posse dele assim. Esse carro daqui a pouco vai ser meu, lembra?

- Isso se você conseguir algum dia tirar a tão aclamada carteira de motorista. Você é um desastre, irmãzinha. Acho que pessoas como você, devem ser proibidas de dirigir.

- Josh! - grito escandalosamente, o que faz com que minha mãe acorde. - Os senhores da caminhada ultrapassaram você!

Josh me ignorou completamente, então comecei a mexer no rádio. Uma das minhas partes preferidas em viajar a Cousins, são as estações de rádio de lá.
Encontrei minha estação de rádio favorita, que tocada diversas músicas, de pop e clássicos, a hip-hop. Abba toca, "Dancing Queen", e eu começo a acompanhar.

- "𝐴𝑛𝑦𝑏𝑜𝑑𝑦 𝑐𝑜𝑢𝑙𝑑 𝑏𝑒 𝑡ℎ𝑎𝑡 𝑔𝑢𝑦, 𝑁𝑖𝑔ℎ𝑡 𝑖𝑠 𝑦𝑜𝑢𝑛𝑔 𝑎𝑛𝑑 𝑡ℎ𝑒 𝑚𝑢𝑠𝑖𝑐'𝑠 ℎ𝑖𝑔ℎ"

Meu irmão tentou trocar de estação, mas eu dei um tapa na mão dele, o contrariando.

- Sininho, é que sua voz me da enjoos, e vontade de tacar o carro daquele penhasco ali. - Explicou ele, fingindo dar uma guinada para a direita, em direção ao penhasco.

Cantei ainda mais alto, para provocar o mesmo. Minha mãe começou a me acompanhar.

- "𝐸𝑣𝑒𝑟𝑦𝑡ℎ𝑖𝑛𝑔 𝑖𝑠 𝑓𝑖𝑛𝑒. 𝑌𝑜𝑢'𝑟𝑒 𝑖𝑛 𝑡ℎ𝑒 𝑚𝑜𝑜𝑑 𝑓𝑜𝑟 𝑎 𝑑𝑎𝑛𝑐𝑒" - minha mãe cantou, surpreendentemente, mais desafinada que eu.

- "𝑌𝑜𝑢 𝑎𝑟𝑒 𝑡ℎ𝑒 𝐷𝑎𝑛𝑐𝑖𝑛𝑔 𝑄𝑢𝑒𝑒𝑛! 𝑌𝑜𝑢𝑛𝑔 𝑎𝑛𝑑 𝑠𝑤𝑒𝑒𝑡, 𝑜𝑛𝑙𝑦 𝑠𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑒𝑒𝑛!" - cantamos, eu e minha mãe, em uníssono. Josh fez um gesto de uma arma em sua cabeça, indicando a morte. Dei risada, pois nós duas tínhamos vozes terríveis. Meu irmão detestava quando nos uníamos contra ele; acho que era o que ele mais odiava em relação ao divorcio dos meus pais. Ser o único homem na família, e não ter mais meu pai para apoiá-lo em momentos como esse.
Por mais que eu implicasse com o Josh, não me importava com sua lerdeza. Eu amava aquela estrada, e aquele momento. A paisagem era incrível, e me trazia uma sensação inigualável. Ver a cidade de praia de novo, o restaurante de frutos do mar, a loja de surfe, o campo de futebol, onde os meninos passavam boa parte do tempo, era... Revigorante. Era como se eu tivesse voltado pra casa depois de um tempo fora. E esse verão estava cheia de promessas e possibilidades.
Olho pela janela, e percebo que estamos chegando. Não consigo evitar um sorriso. Abaixei o vidro do carro, e deixei que todas aquelas emoções viessem a tona, com mais intensidade. O ar tinha o mesmo cheiro de sempre. O vento que deixava meu cabelo pegajoso de maresia, a brisa que batia em meu rosto, como um carinho... tudo parecia igual. Como se tivesse ficado a minha espera, esse último ano.
Josh me cutucou com o cotovelo.

- Está pensando em seu príncipe encantado, é? - perguntou debochado.

- Príncipe encantado? - questionei, tentando entender.

- Noah, sua tapada.

Pela primeira vez em um longo tempo, a resposta veio com facilidade.

- Não.

Minha mãe enfiou a cabeça entre os dois bancos da frente.

- Sina, você ainda gosta de Noah? Cristo! Achei que tinha rolado alguma coisa entre você e Harvey no verão passado.

- O quê? Harvey? - Josh pergunta, parecendo enojado, e ao mesmo tempo em choque. - O que aconteceu entre vocês, afinal?

- Nada. - afirmei, olhando pra minha mãe. - Mamãe, não é porque duas pessoas são amigas, que existe um sentimento entre os dois. Por favor, pare de imaginar essas coisas.

Minha mãe voltou ao seu lugar, no banco traseiro, e disse em um tom que dava a entender que o assunto estava encerrado, disse:

- Certo.

Mas, Josh era Josh, tentou novamente:

- Mas o que aconteceu entre vocês dois? Sério, me fala. Não dá pra jogar uma bomba dessa, e simplesmente sair correndo.

- Esqueça isso. - retruquei.

𝗍𝗁𝖾 𝗌𝗎𝗆𝗆𝖾𝗋 𝗍𝗁𝖺𝗍 𝖼𝗁𝖺𝗇𝗀𝖾𝖽 𝗆𝗒 𝗅𝗂𝖿𝖾 • 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora