02 | você mudou

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Revelar qualquer coisa só daria mais munição para meu irmão implicar comigo, e me envergonhar. E além do mais, eu não tinha o que contar. Nunca tive, para ser sincera.

Noah e Harvey eram filhos de Wendy.
Wendy é a melhor amiga da minha mãe. Elas se conhecem desde os 8 anos, e diziam que eram irmãs de sangue.
Eu tenho um carinho especial por Wendy. Uma admiração. Ela é tão especial. Eu me espelho nela. Ela é tão decidida, quando quer algo, ela consegue exatamente o que quer.
Wendy me contou, que no dia que nasci, ela soube que eu namoraria um de seus filhos. Disse que era o destino. Que tudo colaborava para isso. Minha mãe, que não acreditava muito nessas coisas, concordou, dizendo que seria mesmo perfeito.
Passo o verão na casa de Wendy desde que me conheço por gente. Eu gosto mais da casa, do que da cidadezinha - Cousins -, propriamente dita. Aquela casa era meu tudo. Tínhamos nosso próprio pedaço de praia, e havia muitas outras coisas legais: a varanda gigante ao redor da construção onde apostávamos corrida, as jarras de limonada, os banhos de piscina pela noite, e acima de tudo, os meninos.
Noah, era um ano e meio mais velho que o irmão. Era um menino muito, mas muito sombrio, e totalmente inalcançável. Tinha sempre um sorrisinho torto, que escondia milhões de significados. Mas ninguém tinha a capacidade de desvenda-lo.
Com Harvey era diferente. Totalmente diferente. Harvey era meu amigo, ele era legal. O tipo de garoto que ainda abraça a mãe, e aceita ficar de mãos dadas com ela, em lugares públicos, tecnicamente sendo velho demais pra isso. Ele não sentia vergonha. Harvey Urrea estava ocupado demais se divertindo para sentir vergonha de alguma coisa.

Quando finalmente chegamos à casa, encontramos Noah e Harvey sentados nas espreguiçadeiras, na área da piscina. Eu me debrucei sobre Josh, e toquei a buzina duas vezes. O que na nossa linguagem, significa "Chegamos! Venham nos ajudar com as malas."
Noah acabara de completar 18 anos. E estava mais alto do que no verão anterior, se é que era possível. Estava com um cabelo bem curto, diferentemente do que eu o vi ano passado, seu cabelo longo. Eu gostava de seu cabelo longo, mas o vendo agora, com o cabelo aparado, vejo que Noah ficou mais bonito.
Já Harvey, deixara seu cabelo crescer um pouco, e ficou com uma aparência de "garoto desleixado". Mas no bom sentido. Quando era mais novo, Harvey tinha um cabelo gigante. No ombro. Era grande e castanho escuro, quase preto. Mas ele ficava tão irritado com o fato do cabelo entrar no olho toda a hora, que acabou cortando.
Harvey fez um "megafone" com as mãos, e gritou, engrossando a voz:

- Joshua!
Fiquei sentada no carro, colocando os tênis, enquanto Josh ia até os irmãos. E os três se abraçaram brutalmente, o típico abraço dos garotos. O ar estava salgado e úmido, como se a qualquer momento fosse começar a cair água do mar do céu.
Sai do carro, fingi que amarrava o cadarço novamente, mas na verdade, só queria um tempinho para apreciar os meninos, e lógico, a casa.
Era uma construção grande. Azul e branca. Igual as outras da rua, só que melhor. Muito melhor. Exatamente como uma casa de praia deveria ser. Parecia um lar.
Minha mãe também saiu do carro.

- Oi, meninos! - minha mãe disse com um sorriso no rosto. Parecia feliz. Eu sabia que minha mãe ficava feliz quando estava em Cousins. Era inevitável. - Onde a mãe de vocês está?

- Oi Margot! - Disse Noah, vindo em sua direção, para abraçá-la. - Bom ver você. Ela está tirando um cochilo.

Wendy sempre vinha correndo, no momento que estacionávamos.
Minha mãe foi em direção ao Harvey, cumprimentá-lo também.

Comecei a andar, ajustando a mochila em meus ombros. Eles não repararam que eu estava chegando, pelo menos no começo. Até que me viram. E me viram de verdade. Noah me olhou, e seu olhar era parecido com os que eu recebia dos caras no shopping. Ele nunca tinha me olhado daquela forma. Pra mim, ele me enxergava como uma irmã mais nova, que não é capaz de se proteger sozinha, e que precisa sempre de alguém ao seu lado. Eu odiava isso. Harvey precisou olhar umas três vezes. Como se não reconhecesse a figura que está a sua frente. Isso tudo durou uns 6 segundos. Tempo demais para eu começar a pirar por dentro.
Harvey me abraçou primeiro. Quase me levantando.

- Meu Deus, a Sininho cresceu! - cantarolou.

Soltei uma risada.

- Me coloca no chão! Você está suado!

Harvey riu.

- Ah, agora sim. Ai está a velha Sina. - retrucou ele.

- Minha vez, cara. Solta ela. - Noah disse, em tom de brincadeira, mas isso me fez gelar.

E assim, Noah me abraçou. Era um abraço frio e cauteloso, que mantinha distância. Ele tinha cheiro de mar. E cheiro de Noah.
Ele me soltou, e olhou em meus olhos. Senti minhas pernas estremecerem, e no lugar do meu coração, um liquidificador. Ele me olhava como se reparasse em cada detalhe do meu rosto, e isso me deixou incomodada.
Inconsequentemente coloquei as mãos sobre o rosto, e olhei para o chão.
Dei uma risada boba.

- O que foi, Noah?

- Desculpa. - ele disse, acho que percebendo a vergonha e desconforto que eu senti. - Reparei que você mudou.

Fomos andando até a casa. Harvey tinha sumido, como, eu não sei. Só estava eu e Noah. E eu não estava gostando nada daquela situação. Odiava que as pessoas reparassem em mim.

- Troquei os óculos pelas lentes.

- Aliás, preferia você com óculos. - noah disse, e engulo em seco. Preferia? Ele não tem que preferir nada!

- Que pena. Azar o seu. As lentes de contato vieram pra ficar.

𝗍𝗁𝖾 𝗌𝗎𝗆𝗆𝖾𝗋 𝗍𝗁𝖺𝗍 𝖼𝗁𝖺𝗇𝗀𝖾𝖽 𝗆𝗒 𝗅𝗂𝖿𝖾 • 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora