Emergency

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"Nunca sabemos onde encontraremos o amor."

- 911. Qual é a sua emergência?
Emergência...

Essa é a frase que todos me ouvem dizer. Dezenas de vezes ao dia, para inúmeras pessoas diferentes. Isso mesmo. Você não ouviu errado. Eu trabalho como atendente do serviço 911. Todas ligam porque precisam de ajuda. Ajuda que eu tento dar no meu máximo. Entretanto, sempre as ajudo até certo ponto, depois disso, é com a equipe de socorristas, mas sempre faço com amor ao meu trabalho.

Embora, eu diga isso todas as vezes, nunca ouvi alguém dizer para mim. Nunca fui a pessoa do outro lado da linha. A que precisa de ajuda. Mas como todas as demais pessoas, uma hora ou outra, eu também teria uma emergência. Mesmo torcendo para não ter.

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- Rachel! Já está de saída?

- Por hoje sim, Tim. Meu horário já encerrou.

- Vai fazer algo de especial? Quer ir jantar comigo?

- Adoraria. - respondo sorrindo. Tim é meu colega e consegue chamar minha atenção antes que eu pegue o elevador para fora do andar do nosso trabalho. - Mas acredito que você ainda tenha um turno pela frente. Não é?

- Ser pai, não vai ser fácil. - ele suspira, relaxa os ombros, com as mãos na cintura. - Será uma longa noite.

- Tenho certeza, mas vai valer a pena.

- Sei que vai.

- Você será um pai incrível. Acredite em mim.

- Obrigado. Bom descanso.

- Obrigada. Não trabalhe muito.

Pego o elevador, assim que me despeço de Tim, e, descendo, sigo até meu carro. Entro e pego a estrada rumo a minha casa.

Tudo corria bem. Eu dirigia com o máximo de cuidado que poderia ter. O volume do rádio não estava alto. Eu nem mesmo estava distraída com meu celular. As ruas não estavam tão movimentadas quanto costumavam ser, mas, por algum motivo, em menos de um segundo, outro carro, sem eu ter noção de onde surgiu, cortou a minha frente em um cruzamento, me jogando contra um poste elétrico. Tudo foi tão rápido. Eu nem sei explicar como aconteceu.


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- 911. Qual é a sua emergência?

- Eu... eu... presa.

- Desculpe. Não estou ouvindo. Pode repetir mais alto, por favor?

- Estou... presa... sufocando... ajude-me...

- Moça, não estou entendendo.

- Não... consigo... respirar...

Não sei dizer ao certo o que aconteceu. Em um minuto eu estava dirigindo. Em outro, me encontro presa entre o volante e o banco, com um airbag estourado a me sufocar aos poucos.

Logo que ocorreu a batida, eu me senti desorientada. Minha cabeça doía. Meus ouvidos zumbiam. Eu sentia algo pingar sobre as minhas mãos, mas não sabia o que era. Poderia ser algo do carro, da rua ou até mesmo de mim. É eu cogitei a possibilidade de estar sangrando, mas lembrando do meu treinamento, tentei me manter o mais calma possível. Não foi fácil, porém eu sabia que quanto mais eu me desesperasse mais meu ar ficaria escasso eu tive medo de que ninguém me encontrasse, já que eu não ouvia ninguém do lado de fora. Com as mãos um pouco livres, tentei alcançar o celular, que sempre está no console do carro, no meu lado esquerdo, bem próximo ao volante. Sempre o deixo ali para um caso de necessidade, embora nunca tivesse certeza de que aconteceria. Quando consegui, disquei para o 911 e tentei falar com o atendente, mas sem sucesso. Pelo voz eu sabia que era Tim, entretanto, ele pareceu não me reconhecer. Eu não conseguia falar. Minha voz saia pausada, que em certo momento, desisti. Só torci para que alguém me encontrasse logo. Eu já havia ajudado tantas pessoas, só rezei para que alguma me salvasse.

Unidade 96  ↱ DAY6 ↲Onde histórias criam vida. Descubra agora