A Lady e a Musicista

Capítulo Único

Já passava do meio dia quando acordou. Após 11 dias de viagem na carruagem, Momo se deu ao luxo de dormir o quanto quisesse assim que se instalou na casa do barão.

O barão, seu noivo, havia deixado explícito que ela estava livre naquela semana que antecedia seu casamento. Ela levou isso bem a sério e deixou a etiqueta de lado, pulando não só uma, mas duas refeições em seu primeiro dia na casa que estaria sob sua administração em breve.

Entretanto, recusando-se a deixar a falta de vontade de sair do quarto a dominar, ela tocou o sino ao lado de sua cama, chamando sua assistente pessoal. A jovem, chamada Ochako, tinha feito o possível pelo seu conforto na noite anterior e parecia ser uma trabalhadora dedicada.

—Com licença, Lady Yaoyorozu. Como passou a noite? —questionou Ochako, entrando no ambiente com toalhas e uma bacia em mãos.

—Meus olhos pareciam pesados feito rochas, não pude acordar no horário do café. Peça perdão ao Barão, se o encontrar, por mim —Momo respondeu, levantando-se e esticando as costas. Olhou de relance para a poltrona que tinha no quarto e percebeu que um vestido já estava preparado para ela, ali. Torceu os lábios, pensando que teria de passar pelo trabalhoso processo de colocar o espartilho e todas as outras peças padrões.

Quando ainda morava com seu pai, Conde Yaoyorozu, Momo podia deixar a etiqueta de lado e usar vestidos sem os espartilhos e anáguas. A família e funcionários próximos já estavam acostumados e ela não costumava sair tanto. Mas, sempre que a ocasião pedia, ela tinha que se submeter aos costumes. Foi justamente em uma dessas situações que conheceu seu futuro marido: Barão Todoroki. Era um jovem bonito e silencioso, raramente interagia nos bailes em que comparecia e, devido à recente morte de seu pai, ele estava procurando uma mulher para administrar a casa da família enquanto ele cuidava das terras e dos negócios.

Conde Yaoyorozu fervilhou com a notícia, principalmente quando soube que o Barão estava enfrentando dias de viagem para conhecer as damas da cidade em que morava Momo e seu pai. Fez questão de enviar Momo para todas as atividades públicas possíveis. O esforço não era necessário já que, no último dia da estadia do Barão, ele veio pessoalmente à casa Yaoyorozu para confessar que sua intenção desde o início era desposar a herdeira do condado. Tinha demorado para abordar o assunto apenas para comparecer adequadamente nas festas em que foi convidado, mas já havia tomado sua decisão.

Desta forma, numa tarde abafada e ordinária de verão, o barão Shoto Todoroki pediu a mão de Momo e, ela, como uma boa dama e herdeira, aceitou.

—Sempre fez tudo o que esperavam de você. É o máximo que eu pude pedir esses anos e tenho orgulho de ser seu pai por causa disso —disse o conde, entregando a mão de Momo para a do barão, conforme ela entrava na carruagem —Sinto muito em não comparecer ao casamento. Seja uma boa esposa, Momo.

Ela assentiu, abaixando a cabeça e deixando que o pai beijasse sua testa uma última vez, soltando a mão enluvada dela conforme o barão a sustentava para que não tropeçasse no degrau da carruagem.

Barão Todoroki morava há cerca de 10 dias de viagem de seu condado. Era distante e ele precisava retornar imediatamente para cuidar de suas terras, ao mesmo tempo em que precisava de uma esposa. Insistiu que Momo quebrasse a tradição Yaoyorozu de ter um grande casamento familiar e fosse com ele.

Momo não precisou pensar muito para aceitar. Ela não gostava tanto assim de grandes festas, apenas apreciava reuniões menores, além de que finalmente poderia conhecer mais do mundo, já que Todoroki era adepto de viagens.

E Shoto Todoroki era um bom homem. Era educado, jovem e belo, do tipo que todas as damas sonham para marido; além disso, tinha se tornado barão. Momo, que sempre teve muito dinheiro graças ao pai, estava embasbacada com as posses da família Todoroki. Shoto era um conhecido direto da realeza do país, apenas isso já lhe indicava e proporcionava muita coisa.