Ainda Resta Alguma Esperança?

Coincidência ou Destino?

O restaurante era enorme, os lustres no alto davam uma sensação de que eu estava numa catedral. Os quadros na parede eram verdadeiros clássicos, pinturas raras que como dizia o meu pai "valiam uma nota", eu nunca havia pisado em um lugar tão luxuoso assim. Todas as pessoas em volta pareciam estar vestidas apropriadamente para uma festa Black Tie ou um casamento. Por sorte eu havia colocado o meu melhor vestido que eu havia comprado fazia dois anos. Ele era vermelho bem simples, usei uma meia calça escura que havia combinado perfeitamente com o look exceto pela minha enorme jaqueta branca de frio que estragava tudo. Tirei a jaqueta e coloquei numa cadeira assim que me sentei, lá dentro era muito bem aquecido. Foi quando o sommelier se aproximou da nossa mesa.

- Vocês aceitam um Chardonnay ou um Pinot Grigio? - perguntou o sommelier olhando pra mim.

- Nenhum e nem outro Sr. Raimundo - Respondeu Robert que logo em seguida foi corrigido pelo sommelier

- Meu nome é "Ramuno" - corrigiu ele seriamente, mas logo deu uma risada e cortou o clima pesado.

- Claro que eu sei Ramuno, só estava fazendo uma brincadeira. Foi engraçado, admita!

- Você é realmente muito hilário chefe, então o que vocês vão pedir? - Ele realmente não era de muito assunto e tão pouco quis que prolongassem a brincadeira de Robert.

- Não gostamos de vinho branco, traga um Rosé Syrah para a minha convidada e um Cabernet Sauvignon para mim. E o queijo você já sabe muito bem qual é o meu preferido não é mesmo? - Disse Robert super animado, tão entusiasmado quanto uma criança em um parque de diversões.

- Você que manda, afinal você é o chefe - Respondeu o sommelier sem o menor sinal de empolgação e partiu para outra mesa.

- Acho que esse cara não vai com a minha cara, achei ele muito frio e eu quero pessoas felizes com alegria em trabalhar aqui. Demito ele semana que vem. -  Diz Robert no mesmo instante que dar uma piscadinha.

- Quando foi que você se tornou esse monstro, Robert? - Questiono sem hesitar.

- Do que você está falando Mia? - Pergunta ele pra mim com olhar  confuso do tipo parecer não entender nada.

- Você não sabe com que tipos de problemas ele está lidando, sobre o quanto ele está se esforçando pra está de pé trabalhando. Você não deve saber se a família toda dele depende dele ou não. Você tinha empatia, hoje sinto que não conheço você. - Me levanto da cadeira e ele segura minha mão.

- Por favor, sente-se, eu retiro o que eu disse. Não entendo o porque de você está magoada. Eu não vou demitir ele, está bem? - Respondo que sim com a cabeça enquanto volto a me sentar na cadeira.

- É que você não sabe, está bem? Você não sabe o quanto é ruim acordar cedo todos os dias para ser tratado igual um lixo onde você trabalha, odiar o emprego mas ter que aceitar porque depende muito dele. Nem todos tem a sorte que você teve. Herdar um restaurante e milhões porque o patrão não tinha família e você era o único no testamento.

- Não é bem assim, Mia. Eu estudei gastronomia, Me esforcei muito, eu subi aos poucos. Tudo que conquistei foi por mérito meu. Se Arnold me promoveu, e me colocou como herdeiro da sua fortuna foi porque eu mereci. - Ele fala tão calmo, que parece que eu estava discutindo com uma mesa. Isso só me deixava ainda mais irritada.

- "Se eu herdei foi porque eu mereci' - repito o que ele disso e dou uma risada irônica.

- Sabe o quanto isso soa ridículo né? - pergunto fuzilando ele com os olhos.

- Está bem, OK? Vamos mudar de assunto? Eu não quero brigar com você. Te conheço desde que éramos crianças e nunca brigamos. Não vamos estragar a nossa amizade.

De fato nós nunca havíamos brigado, talvez havíamos nos afastado por uns dias após termos nos beijado na brincadeira da garrafa quando tínhamos 12 anos, o beijo havia sido traumatizante para nós dois, mas não consideramos aquilo como uma briga, precisávamos de espaço para a poeira abaixar. Eu nunca tive muitos amigos, sempre fui do tipo reservada. Perder o Robert por mais que ele seja um cretino de vez em quando, seria como perder uma parte de mim. Olhando pra ele era quase impossível de acreditar que aquele patinho feio de dentes tortos e orelhas de duende havia se tornado esse verdadeiro galã de Hollywood, com seus cabelos castanhos claros e olhos azuis, seu estilo largado mas ao mesmo tempo usando roupas sociais com o corpo escultural e suas tatuagens percorridas por todo o seu corpo poderiam mexer com a mente de qualquer garota, exceto com a minha. Sou esperta demais para cair numa cilada dessas, além do mais ele jamais se interessaria por mim. Por todos esses anos o olhar dele nunca havia mudado, ele sempre havia me visto como uma irmã. E eu também o vejo como um irmão, mas não sou cega, sei o quanto ele é lindo.

O jantar estava surpreendentemente delicioso, o vinho Rosé de fato era o meu preferido. Robert sem dúvidas me conhecia como a palma de sua mão. Já estávamos nos preparando para a sobremesa quando escuto uma voz feminina gritando o meu nome, olho para trás era a Alexis, correndo feito uma louca em direção a nossa mesa enquanto os outros clientes olham torto para ela. Tento me esconder pra evitar passar vergonha, mas não adianta ela já me viu.

- O que faz aqui? - pergunto para a Alexis no mesmo instante em que ela se senta.

- O que foi amiga? parece não está feliz em me ver - Alexis estava bêbada para piorar tudo!

- Você conhece ela de onde, Mia? - Pergunta Robert

- Ela trabalha comigo. - Respondo enquanto olho pra baixo e Alexis me abraça.

- O cliente gostosão tá no banheiro, ele vai vir pra cá. - Fala a Alexis olhando pra mim, meio sussurrando, meio gritando... Nada disfarçadamente.

- Quem está vindo? - Pergunta Robert para a Alexis.

Sinto uma mão no meu ombro:

- Podemos nos sentar aqui, ou estamos atrapalhando algo?

Olho para trás, era o Johnny. "Droga" pensei "Nada é tão ruim que não possa piorar".