Ainda Resta Alguma Esperança?

Ele Ainda se Lembra de Mim?

Chego muito tarde em casa, o dia havia sido cansativo e estressante. Eu odeio meu emprego, mas foi a única coisa que encontrei até agora. Apesar de tudo não desanimo. Além de me manter ocupada ainda ajudo minha família, minha mãe é desempregada, foi o único jeito que encontrei de nós sobrevivermos desde que papai morreu e não nos deixou nada além de dívidas em bares e em jogos de azar.

Escuto a voz da minha mãe reclamando: - Já falei que não quero você riscando os meus móveis garota? Essa casa parece um inferno, e você quer deixar ainda tudo mais feio? O que eu fiz senhor para merecer uma filha deficiente?

- Sasha quer desculpas, não fiz por mal. - Minha irmãzinha tenta se desculpar, falando dela mesma como se fosse uma outra pessoa.

- Mãe, por favor para de falar isso pra ela. Você não sabe o quanto isso machuca os sentimentos dela. Ela tá chorando. - Imploro para que minha mãe pare de humilhar a Sasha.

- Você acha mesmo que ela tem sentimentos? Que ela tem noção do que se passa aqui dentro!? Ela vive no próprio mundo da lua. Essa aberração, não sabe nem quem ela é! - Minha mãe quebra um copo na parede, sai correndo e se tranca no quarto. O barulho e a situação deixam Sasha totalmente desconfortável e desesperada, ela começa a se debater e a chorar. Dou um abraço forte e um beijo na testa tentando reconfortá-la. Minha mãe que é um verdadeiro monstro, pensei.

Foi difícil, mas consegui acalmar Sasha, levei ela para o seu quarto, li um livro para ela e ela pegou no sono rápido. Para mim não era difícil lidar com ela, ás vezes acho que minha mãe fazia tempestade em copo d'água.

Meu celular vibra, olho para a tela. Era Robert Sandberg me ligando. Ele provavelmente deveria ter terminado o namoro de 3 anos, todas as ex namoradas de Robert me viam como uma espécie de ameaça. O que eu sempre achei totalmente desnecessário, primeiramente eu nem sou bonita. Com o que elas deveriam se preocupar? Eu sou apenas a amiga estranha e engraçada, todas as ex namoradas de Robert pareciam ser super modelos. Além do mais nos conhecemos desde nossos 4 anos de idade, nossas mães sempre foram grandes amigas, nós praticamente crescemos juntos, se tivesse que ter acontecido algo, já teria acontecido no passado. Atendo a ligação e ele me fala do seu término de namoro, finjo surpresa. E ele me conta sobre o que levou ao fim do namoro, logo mudamos de assunto e ele fala de como sua vida é um sucesso sobre como ele está bem sucedido e que provavelmente tem mais motivos para se comemorar do que para reclamar.

- Sinto muito a sua falta Mia, porque você nunca mais me procurou? - Ele me questiona, como se tudo dependesse apenas de mim.

- Robert você só se lembrou de mim porque provavelmente terminou com aquela garota. - indaguei sem pensar.

- Não é bem assim, sempre te convidei para sociais e eventos e você sempre furava. - Ele fala como se eu quisesse mesmo ir para algum lugar ficar segurando vela.

- Tá bom Robert, você venceu! Dessa vez não vou furar com você. Pode escolher o lugar.

- Tem um restaurante cinco estrelas que você vai amar conhecer. Passo aí amanhã ás 21:00h. - Robert desliga antes que eu pudesse confirmar.

No dia seguinte era a minha folga, resolvi levar minha irmã para passear durante a tarde ao shopping. Sasha falava sobre tudo o que observava e eu ouvia atentamente como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Resolvi entrar numa livraria, ao contrário das outras crianças, Sasha nunca pedia para eu comprar nada. Enquanto sigo de um corredor para o outro, me esbarro com alguém. Deixando os livros dele caírem.

- Por favor, me desculpe. Eu sou mesmo um desastre, eu te ajudo. - Falo enquanto me levanto pegando os livros do chão.

Ao olhar para cima, me surpreendo... Era aquele cliente gentil e bonito. Tento lembrar o nome dele, mas a minha mente falha, dar um branco, como uma pequena amnésia daquelas que dão quando você está nervosa e vai fazer uma prova pela qual estudou muito. Droga, pensei se eu soubesse que iria me encontrar com ele teria me maquiado pelo menos ou colocado uma roupa melhor.

- Essa é a sua filhinha? - Diz ele apontando para a Sasha que está atrás de mim.

Eu sabia que aquele cara era perfeito demais pra ser verdade, minhas expressões faciais mudaram drasticamente da água para o vinho. Será que eu tenho cara de velha ou o que?

- Ela é minha irmã, ela tem 12 anos, isso me faria mãe aos 10 anos? Você é bem sem noção. - Falo com o sangue no olho.

- Desculpa pensei que ela fosse mais nova. Eu não perguntei por mal. Por favor deixe-me recompensá-la com algo. Posso te pagar um Mac lanche feliz pra você e sua irmã caçula. O que acha? Você topa também. - Ele se aproxima e pega na mão de Sasha, cumprimentando.
- Já estamos indo embora, mas agradecemos o convite. - Seguro na mão de Sasha e saímos para fora da livraria. Ele fala alguma coisa mas finjo não ouvir, saio sem olhar para trás.