A primeira vez

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Sentia meus pés doendo de tanto correr, eu não aguentava mais, mas não podia parar.

Eu estava novamente completamente atrasado pra aula. Me atrasar já era um hábito diário, mas pelas minhas notas boas nenhum professor ligava, tirando é claro sr. ChinHwa, além do próprio não me suportar, eu também não gostava dele e muito menos da matéria.

Quando cheguei a escola rezei para ele não me ver, o que não adiantou muito já que ele praticamente me perseguia, e hoje não foi diferente. Assim que botei meu pé dentro da sala ele questionou:

— Senhor Jeon, atrasado novamente? — como sempre sarcástico e muito feliz por fazer aquilo — Sala do diretor, agora.

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E dois dias depois eu estava na detenção em pleno sábado, sentado em uma cadeira desconfortável, olhando para a sala praticamente vazia, se não fosse pelos outros seis alunos que me acompanhavam.

Eu apenas reconheci três deles: Jeonghan líder do grupo de xadrez, é provável que ele esteja aqui por fazer mais uma revolução mal sucedida, a sua última foi tentar converter a escola inteira para o veganismo, não era uma causa ruim, no entanto adultos conformistas nunca mudam.

Havia também Jackson, nunca fomos melhores amigos mas já fizemos alguns trabalhos juntos, isso claro, antes dele estar namorando as escondidas com a professora de artes. Ela foi espulsa mas ele apenas repreendido e forçado a passar a suas manhãs de sábado na detenção.

E claro quem eu já sabia que estaria lá, o dono dos olhos negros e pele pálida sentado a minha frente, Kim Taehyung mais conhecido como minha paixão de quinta série e minha única distração durante essas horas de detenção.

Ele sempre pichava frases revolucionárias nos muros da escola porém nunca era expulso pelo fato de que seu pai é sócio da escola. Por isso não me surpreende ele estar por aqui. Sim ele é muito rico também, além de bonito e popular por ter um parceiro a cada noite.

Eu nunca fui pra cama com ele, mas somos "amigos", digamos assim.

Eu tinha seu número de telefone e conversávamos por horas quase toda semana, nunca pessoalmente por que eu tinha vergonha e não gostava que me vissem com ele. Tae tinha sua reputação a qual eu considerava ruim e já conversamos sobre isso. E mesmo falando por celular  tinha medo de estar sendo grudento ou invasivo, então eu nunca o chamava.

Nesses dias em que eu estava na detenção nós conversamos bastante já que as poucas pessoas presentes no local estavam ocupadas com seus rabiscos no caderno ou — como sempre — dormindo.

— Ei, Kookie — susurrou pra mim, o professor encarregado pela detenção estava passando uma revisão no quadro então tínhamos que ficar em silêncio — ...Kookie...—  tentou novamente usando o novo apelido que inventou pra mim, acontece que eu não suportava o lanche da escola então cookies eram as coisas que eu trazia todos os dias, sem falar que combina com meu nome.

— O que você quer agora? — eu até tentava me fazer de difícil pra ele tentando não deixar muito na cara, mas a verdade é que estava escrito na minha testa que eu era caidinho por ele.

— Quer sair daqui? — Tae perguntou, fiz uma careta involuntária. Era óbvio que eu queria sair dali, acho que ele percebeu meu desentendimento e completou — Agora.

— Como assim agora? — mesmo sussurrando parece que gritei já que alguns dos que estavam ali acordados olharam — Como assim agora? — questionei novamente mas agora em um tom mais baixo.

— Confia em mim? — com aquele típica sorriso ladino dele, era impossível dizer não.

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Agora novamente correndo como um louco, mas dessa vez, com Taehyung segurando minha mão enquanto me puxava para um lugar que eu não conhecia, mas tudo bem eu confiava nele.

Depois da pergunta retórica que o maior vez para mim, ele simplesmente pegou minha mão e minha mochila e correu.

Eu deveria estar preoucupado com o fato de ter me ferrado por literalmente fugir da detenção, mas eu só conseguia me concentrar nos cabelos azulados do mais velho balançanco pelo forte vento, em como ele era atraente até mesmo ofegante pela corrida e no jeito que sua mão encaixava perfeitamente na minha. É clichê, eu sei, mas parecia que havia sido feita pra mim.

— Kim Taehyung, agora oficialmente a seu dispor — virou de repente na minha direção e se curvou em reverência para completar sua exagerada apresentação.

— Sabe que estamos ferrados não é? — ri em nervosismo, por que só agora caiu a ficha do que fizemos.

— Tudo bem, meu pai consegue aliviar pra gente — disse tranquilo, mexendo a cabeça de um lado para o outro tentando ajeitar seus cabelos bagunçados. — Já que você tá nervosinho eu te pago um café! Vem!

— E-eu não quero tomar café não trouxe dinheiro — estava nervoso, obviamente. Taehyung queria me levar para tomar um café, não é todo dia que isso acontece.

— Primeiramente, você adora café, te vejo tomando todos os dias e segundo eu disse que iria pagar, não tem desculpas pra não ir — falava gesticulando, com aquele maldito sorriso de galã de novela — E outra, eu não aceito não como resposta.

— E-eu...eu...Taehyung! — não tinha o que dizer, ainda mais tentando disfarçar o quanto eu o queria.

— E nós estamos indo! — declarou pegando minha mão novamente e me puxando. Dessa vez apenas o deixei me guiar.

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— Então ela me disse que era um abacaxi e eu 'tava perdido porque achei que era uma pedra — Tae me explicava rindo muito, muito alto, e eu não estava diferente.

Ele estava me acompanhando até em casa me contando algumas histórias de infância e com isso nós nos conhecermos melhor.

Eu sentia que estava cada vez mais apaixonado, mesmo sabendo que não tinha chance com ele, e mesmo se tivesse eu sabia que se fosse pra cama com ele, nós não iriamos nos falar depois e não era isso o que eu queria.

Era ótimo estar conhecendo ele daquela forma, e eu não queria estragar nada.

— Tchau, Jeongguk. — beijou minha bochecha e segurou de leve minha cintura, mas o suficiente pra fazer meu coração bater inexplicavelmente mais rápido.

E eu me arrependi de ter andado tão rápido, talvez seja a ansiedade de estar com ele me fez apertar o passo.

— Boa noite, Taehy. — falei enfim o apelidando, sem encarar seus olhos.

Agora eu penso que a melhor coisa que eu fiz foi ter ido para a detenção.

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