E como todos os dias

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Era um dia como todos os outros, ela acordou, se arrumou, tomou café sozinha na espaçosa e solitária cozinha e foi pra escola.
Parecia que os dias eram todos iguais, ela tinha uma rotina. Depois da escola provavelmente ela iria para o shopping com as amigas, ririam daquelas que achassem ridículas em suas opiniões, dizendo como devem ser infelizes, mas, no final do dia são elas que voltam pra casa se sentindo mais vazias do que poderiam suportar.
Annabeth sabia que não era diferente delas, afinal, andava com elas, mas o que ela poderia fazer? Ela ja tentara mudar, ser uma pessoa melhor, ela queria ser uma pessoa melhor. Mas sempre que tentava algo dava errado, então ela desistia.
Se sentia vazia por dentro as vezes, não sabia qual era o sentido de sua existência, se sentia inútil, alguém que ninguém pudesse amar. Como alguém poderia? Se nem os próprios pais o fizeram porque alguém a amaria? Durante anos lutando pela afeição dos pais sem sucesso em algum momento ela desistira. Até mesmo sua ex melhor amiga a abandonou, justo ela, a quem Annabeth mais confiava e amava.
Em uma tentativa fútil para se sentir melhor ela começou a infernizar vida de quem conseguia, queria que se sentissem tão mal quanto ela se sentia. Sabia que isso não é justo e nem justificável mas era o único jeito de conseguir se sentir um pouquinho melhor, mas nunca era o bastante.
Ela deixou esses pensamentos deprimentes de lado quando chegou a escola. Respirando fundo e se preparando pra colocar sua máscara de indiferença e superioridade, ela andou com o queixo erguido e adentrou pelas portas da entrada. Andou calmamente pelos corredores, enquanto ela passava todos a encaravam, ela era a "rainha", mas em vez dessa posição lhe trazer orgulho, à fazia se sentir ainda mais sozinha, ela era a rainha agora mas em alguns anos ninguém se lembraria dela.
Foi em direção ao seu armário no fim do corredor extenso, havia uma garota com cabelos longos e castanhos liso ao lado, esperando por ela, que logo reconheceu como Silene, a pessoa mais próxima que ela tinha de uma amiga de verdade em seu grupo de seguidoras. Ela era diferente, não era uma pessoa ruim. Ela sabia de todos os seus segredos e Annie sabia os dela. Sil sorriu para ela como sempre fazia e Annie retribuiu. "Como ele tem a cara de pau de me dizer isso? Quem ele acha que é? Só por que é bonito acha que quero ficar com ele, garoto idiota". Ela começa a reclamar de um cara chamado Charles, de sua aula de biologia.
"Mas você quer ficar com ele. Qual o problema?". Digo enquanto pego meus livros de fecho o armário.
"Sim mas ele não precisa saber disso. Além do mais ele ta se achando muito, pensa que o cara mais bonito da face da terra". Sil diz enquanto revira os olhos e se escora no armário ao lado enquanto eu riu.
"Eu acho que no fundo ele gosta de você". Ela ri escandalosamente e diz: "Aquilo lá só gosta de si mesmo". Mesmo com a fala mais sarcástica possível, está claro que ela não acredita nisso. Os dois se gostam a um tempo mas só ficam nesse chove não molha, as vezes da vontade de juntá-los logo mas esse assunto não é meu, então eu ignoro a maior parte do tempo.
É quando me viro para o corredor para ir pra minha primeira, que eu o vejo. Por onde ele passa atrai sorrisos. Como não poderia? Com seus cabelos pretos desarrumados, seus olhos em um lindo tom de verde e seu sorriso de canto de boca alinhado com as covinhas, que me fazia suspirar assim como a tantas outras.
E como todos os dias quando ele passa eu sorrio para ele, e mais uma vez ele passa sem nunca notar. E nas poucas vezes em que nota revira os olhos como se achasse irritante. Não posso culpá-lo, ele é gentil com todos com se sorriso caloroso os fazendo se sentirem bem. E mesmo eu a mais vazia das pessoas, sucumbi aos seus encantos, ao seu sorriso gentil, e o carinho que ele demostrava com todos. Ele era minha esperança. Percy era tão bom com todos, que quando eu o vi pensei que talvez ele fosse capaz de gostar de mim de verdade, quando ainda não sabia quem eu era sorriu para mim, algo em seus olhos me fez me sentir especial, querida. Ninguém nunca havia sorrido para mim daquele jeito. Ele sempre foi muito legal comigo, não era muito inteligente, fazia piadas idiotas, divertido e era muito protetor com seus amigos. Percy me fazia sorrir como achei que ninguém conseguiria. E foi aí que percebi que havia me apaixonado, com aquele sorriso que nunca mais tive a felicidade de ver dirigido a minha pessoa.
Eu quis mudar, ser alguém melhor por ele, não precisaria nunca mais rebaixar alguém para me sentir melhor, seus sorrisos seriam o bastante.
Mas então ele a conheceu. Piper e Percy ficaram muito amigos desde que chegou aqui, logo foi informado da
pessoa horrível que eu era. Não tive nem a chance de tentar mudar, ou me aproximar. Tentei até me aproximar algumas vezes mas eu sempre desistia, minhas pernas falhavam, minha garganta ficava seca e meu coração começava a bater forte todas a vezes que o via.
No fundo eu sei porque nunca realmente tentei me aproximar dele. Eu não o merecia, talvez jamais o faria. Um dia pedi um sinal aos céus para que me dissessem o que eu deveria fazer, deveria superar o medo e tentar conquistá-lo? A resposta não demorou muito, na verdade chegou no dia seguinte e foi bem clara.
Percy e Piper estavam namorando, eu tinha acabado de sonhar na noite passada com ele dizendo que gostava de mim, pensei que aquele tinha sido meu sinal só para chegar na escola e ter meu coração despedaçado e minhas esperanças perdidas. A última coisa que lembro desse dia é de ter corrido para casa e chorado o dia inteiro.
Como todos os dias, enquanto me dirijo para a minha sala, engulo a dor de vê-lo indo na direção dela, abraçando-a, beijando-a e lhe dando aquele sorriso que queria tanto que fosse meu.

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